Saltar de arranha-céus é tendência de turismo nas cidades

E vem atraindo muitas pessoas ao redor do mundo

Crédito: Edge

Nate Berg 4 minutos de leitura

É uma visão assustadora: um corpo caindo do topo de um prédio alto. Em um dia ensolarado de outubro, turistas e trabalhadores que passavam pela praça central de Berlim, Alexanderplatz, testemunharam essa cena, segundos de terror enquanto um homem caía do telhado do hotel Park Inn, com 41 andares.

O homem se chama Salvatore Escalante. “Eu gritava. Cheguei a perder o fôlego, mas respirei fundo e continuei gritando”, lembra o turista, que sobreviveu ao episódio, já que não era exatamente uma queda.

Ele estava visitando uma atração turística chamada Base Flying, que oferece às pessoas a oportunidade de saltar de um prédio pendurado em uma corda elástica. Escalante, dono de uma agência de turismo em El Salvador, estava em Berlim visitando a namorada e foi levado à atração como parte de uma surpresa de aniversário.

Então, naquele dia claro e sem vento, ele foi amarrado a uma corda, andou até uma plataforma a mais de 120 metros de altura e saltou. Após uma queda de cerca de 80 metros, um sistema automatizado entrou em ação e gradualmente diminuiu a velocidade da corda, fazendo com que aterrissasse no chão suavemente.

Crédito: Base Flying/ Divulgação

“Caso contrário, quebraria todos os seus ossos, é claro”, diz Andreas Höfer, gerente do Jochen Schweizer Gruppe, que criou a Base Flying em 2009. Fundada por um ex-atleta campeão de caiaque que se tornou dublê, a empresa oferece experiências radicais e emocionantes em toda a Alemanha. A atração recebe cerca de mil pessoas por mês.

Crédito: Base Flying/ Divulgação

A Base Flying é uma das muitas atrações turísticas urbanas que combinam edifícios altos e experiências seguras, porém assustadoras, saciando o desejo de pessoas em busca de aventuras, como Escalante, e gerando lucros significativos para seus operadores. É um nicho crescente na indústria de arranha-céus, à medida que mais deles são construídos em cidades de todo o mundo.

Durante a queda, que dura apenas três segundos, do topo do hotel Park Inn, os visitantes têm uma visão completa da Fernsehturm, uma icônica torre de televisão de Berlim. Ela é operada pela Magnicity, uma empresa francesa que administra pontos turísticos em edifícios históricos em todo o mundo.

Crédito: Magnicity/ Divulgação

Em Chicago, ela é responsável pelo Tilt, uma plataforma no 94º andar da antiga torre John Hancock Center que se inclina 30 graus, oferecendo a seus oito ocupantes a experiência de estar suspenso, a 300 metros de altura, sobre as ruas do centro da cidade.

Crédito: 360 Chicago/ Robby Nichols/ Magnicity

Cem andares acima do Hudson Yards, em Nova York, está o Edge, um deck externo que se projeta da lateral do prédio. Suas laterais são de vidro transparente e se inclinam ligeiramente para fora, bem como grande parte do piso, oferecendo uma vista aérea a uma altura de mais 300 metros.

“Não queríamos que fosse somente uma visão do último andar de um prédio alto. Queríamos transmitir a sensação de realmente flutuar sobre a cidade”, explica Jason Horkin, vice-presidente da Hudson Yards Experiences, empresa responsável pelo Edge. Mas eles não pararam por aí. Para descobrir quais outros caminhos poderiam seguir para se diferenciar, realizaram um concurso de design.

O projeto vencedor foi o City Climb, uma escalada até o topo inclinado do edifício. Por US$ 185, os visitantes podem vestir macacão e capacete e, amarrados a cordas de segurança, subir uma escada construída no alto do prédio. No topo, a 300 metros de altura, há uma pequena plataforma onde, presos a duas cordas, podem caminhar até a beirada e se debruçar, como se estivessem em uma piscina.

Quando o primeiro mirante foi criado em Paris em 1889, o objetivo era ver a cidade, por mais simples que possa parecer agora. O teórico literário francês Roland Barthes argumenta em seu ensaio de 1964 “A Torre Eiffel” que a plataforma de observação criou uma “arquitetura da visão”, permitindo que as pessoas tivessem a experiência de ver a cidade e compreendê-la de cima.

Certamente, isso não é mais a novidade que já foi. Davide Deriu é historiador de arquitetura na Universidade de Westminster, em Londres, e afirma que a economia da experiência pode ser, em parte, responsável por isso.

“O turismo de aventura acabou incorporado à arquitetura”, explica, ao lembrar que todo o marketing em torno dele estimula turistas a desafiarem seus limites e enfrentar seus medos.

Novos arranha-céus em todo o mundo estão criando mais espaços para este tipo de atração. Em Bangkok, a MahaNakhon Tower construiu um deck de vidro a 300 metros de altura.

Crédito: King Power MahaNakhon

A Sky Views Dubai Tower, em Dubai, possui um tobogã de vidro anexado à parte externa do prédio, a mais de 200 metros de altura. Em Xangai, a Jin Mao Tower construiu uma passarela externa ao redor do 88º andar. Essas experiências passaram a ser integradas a diversos arranha-céus, e é provável que surjam cada vez mais.

Horkin, da Hudson Yards Experiences, diz que uma atração como o City Climb pode ser apenas a primeira de muitas que ainda serão construídas na cidade de Nova York, embora provavelmente tenham outro foco. “Nova York tem de tudo. Mas será que precisamos de outra atração igual a essa? Provavelmente, não”, diz.

Höfer, da Base Flying, acredita que as pessoas têm uma curiosidade natural em relação a grandes alturas e a possibilidade de cair. Por isso, ter experiências que oferecem essa sensação, sem riscos, sempre terá apelo.

“Andamos no chão e muitos conseguem até nadar. Mas cair não é para nós, humanos. A gente quebraria vários ossos ou morreria”, diz ele. “É por isso que é assustador, e nunca vai mudar.”


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais