Seu próximo par de tênis pode ter sido todo feito por robôs
A nova fábrica automatizada do KX Labs, em Los Angeles, pretende dar início a uma nova onda de produção de calçados nos EUA
No estúdio de uma fábrica totalmente reformada de três mil metros quadrados na Chinatown de Los Angeles, uma série de máquinas de tear Shima Seiki emite sons vibrantes e contínuos. Perto delas, veículos automatizados carregam diversos materiais, como carretéis de fios de diferentes cores, enquanto robôs moldam os cabedais e solas de tênis que chegam pelas esteiras transportadoras.
As mesas no local são ocupadas por animadas equipes que se amontoam sobre os computadores discutindo ideias de design. É a sede do KX Lab, uma fábrica totalmente nova que produz tênis de tecido, por meio de técnicas automatizadas, em Los Angeles, na Califórnia.
China, Índia, Vietnã e Indonésia respondem por quase 75% da produção mundial de calçados. A razão é óbvia: é mais barato fazer sapatos na Ásia do que em qualquer outro lugar.
Por isso, quando Joshua Katz inaugurou o KX Lab, seu foco não era na redução dos custos, mas sim em sustentabilidade e colaboração criativa. Katz conta que o laboratório foi projetado para aproximar o “processo de fabricação de produtos” tanto das pessoas que os estão criando quanto dos consumidores que os compram.
“Se você trabalha com uma fábrica próxima, pode produzir tiragens menores, acompanhar de perto os processos de amostragem e desenvolvimento e levar produtos para o mercado em menor escala”, explica. Além disso, é uma grande oportunidade para que as marcas se envolvam mais no processo de criação e, com isso, talvez se sintam mais dispostas a assumir riscos.
Embora a produção automatizada de tênis de tecido seja um sucesso na Ásia há anos, ela continua sendo um método de fabricação totalmente novo no Ocidente. Foi para apresentá- la às marcas que o KX Lab foi construído “como uma instalação de protótipo, no sentido de que aqui temos a oportunidade de experimentar, aprender e melhorar”, diz Katz.
Os teares automatizados Shima Seiki – a principal marca utilizada na fabricação de calçados de tecido – podem produzir um cabedal inteiro (a parte do tênis que recobre os pés) em 25 minutos. Basta inserir o design no programa e a Shima Seiki faz todo o trabalho. Mais tarde, são usadas máquinas de corte a laser para fazer os componentes de reforço. O objetivo é minimizar o desperdício e o trabalho físico.
No final do ano passado, a marca Clae, com sede em Los Angeles, conhecida desde 2001 por seus tênis minimalistas com silhuetas clássicas, revelou seu primeiro calçado totalmente fabricado nos EUA em parceria com o KX Lab. O Louie, que se assemelha a um tênis de corrida, traz a estética elegante própria da marca, além de elementos mais técnicos, como uma variedade de estilos de tecelagem.
“Ele tem um preço mais baixo em comparação aos outros, mas isso se deve à simplicidade do design e como ela se traduz na percepção de custo e valor”, admite o CEO da Clae, Jim Bartholet. “Também queríamos que fosse acessível.”
Katz sabe que os consumidores atuais se preocupam em entender como os produtos são feitos. “Hoje os processos de produção são mais transparentes, não são mais como antigamente, quando não se sabia onde nem como as coisas eram produzidas”, diz ele. “Isso agora é tão importante quanto os próprios materiais.” As marcas que fabricam calçados no KX Labs esperam capitalizar esse interesse crescente.
O KX Lab existe há menos de um ano e a maior parte do que é produzido lá são tênis. Mas Katz está convencido de que há muito mais a explorar. A equipe do KX está estudando formas de implementar a tecelagem automatizada em outros segmentos, como vestuário, produtos para o lar e carros.
Katz revela que está incentivando a equipe a ultrapassar os limites de como a tecnologia pode ser usada, explorando como a termoformagem pode ser combinada a outras técnicas de produção, como a impressão 3D.
“Los Angeles é um dos lugares mais difíceis de fabricar produtos”, afirma. “Existem regulamentos ambientais rigorosos e o custo de vida é alto, logo, o custo de produção também é. Mas, se conseguimos produzir aqui, provavelmente podemos produzir em qualquer outro lugar."