Simples e genérico, logo da Copa da FIFA 2026 mais confunde do que explica

Dentre os torcedores, a piada foi que qualquer IA poderia ter feito melhor do que a logomarca genérica lançada pela FIFA

Créditos: FIFA/ Envato Elements

James I. Bowie 3 minutos de leitura

"É só isso?” O público não conseguiu esconder a decepção no final da cerimônia de lançamento da logomarca oficial para a Copa de 2026. A marca revelada pela FIFA não empolgou. Ela é composta por um número “2” e um “6” largos, sobrepostos por uma imagem fotográfica do troféu da Copa do Mundo e pela palavra “FIFA” em preto, na base.

Crédito: FIFA

Como dessa vez os coanfitriões do torneio serão três nações ao mesmo tempo, os organizadores não tentaram criar um mascote que combinasse referências aos Estados Unidos, México e Canadá – o primeiro trio de países a sediar uma Copa do Mundo. Realmente, seria estranho demais imaginar um cowboy americano usando um sombreiro mexicano enquanto monta um alce canadense.

Já era esperado também que a marca não conteria uma bola de futebol. Esse elemento gráfico básico que ancorou quase todos os logotipos do torneio, está quase totalmente ausente desde 1998. Por isso, ninguém sabia o que esperar desse novo logotipo.

Crédito: FIFA

Nos dias que se seguiram à divulgação, cresceu o furor habitual da mídia social que envolve qualquer anúncio importante de uma nova marca. A única diferença é que, dessa vez, em vez da velha crítica “até o meu filho de cinco anos poderia ter feito esse logotipo”, o comentário que proliferou nas redes foi: “qualquer IA poderia ter criado algo melhor”.

Depois que a exaltação inicial diminuiu, começamos a entender melhor a ideia por trás da marca da Copa do Mundo 2026. Gráficos individuais e esquemas de cores foram introduzidos para cada uma das 16 cidades-sede. Embora ainda bastante genéricos, esses gráficos forneceram um pouco de sabor local ao logotipo básico “26”.

Tornou-se óbvio que o logotipo era menos um símbolo aberto do que uma moldura ou pano de fundo, dentro ou contra o qual vários padrões ou imagens poderiam ser inseridos, criando não uma identidade monolítica, e sim mais uma possibilidade de vibração em várias frequências.

Crédito: FIFA

O problema de criar um logotipo independente para representar uma entidade multifacetada como a Copa do Mundo, com times de 48 nações jogando em 16 cidades em três países, já foi percebido há algum tempo.

Espera-se que logotipos contemporâneos contemplem multidões, mas os designers de marcas olímpicas têm sofrido com o desafio de expressar a diversidade em um único símbolo.

Os jogos de verão de Los Angeles em 2028, por exemplo, usarão um sistema de logotipo flexível no qual o “A” em “LA” será apresentado em uma variedade de estilos gráficos. Já a marca de Londres 2012, que foi achincalhada na época, serviu como um modelo para essa tática de usar os números de um ano como uma moldura que poderia conter qualquer gráfico.

Ao contrário das abordagens flexíveis de Londres e LA, porém, essa técnica de logotipo como moldura da Copa do Mundo oferece muito pouco em termos de distinção. O logotipo “26” parece quase uma consequência da atual tendência de “luxo silencioso”, que está tão na moda.

No final, não há muito que pareça “memorável” neste esquema de branding. O logotipo não consegue se destacar. É verdade que muitas marcas não estão mais se restringindo a apenas uma ou duas cores em sua assinatura, mas nas 16 cidades da Copa do Mundo, praticamente todas as cores imagináveis são empregadas. O que permanece é apenas a imagem do próprio troféu e o nome FIFA.

A entidade se encontra em um dilema de marca, tentando salvar sua reputação diante de acusações de corrupção e da incursão recente em lavagem esportiva no Catar. Seu nome foi até mesmo retirado do popular videogame de futebol que milhões chamavam apenas de “FIFA”.

Crédito: FIFA

Eles estão insistindo que o nome “FIFA” preceda “Copa do Mundo” em todas as referências ao torneio. Agora, este programa de branding coloca “FIFA” na frente e no centro, em detrimento de quaisquer indicadores locais específicos.

E o que é pior: o comunicado de lançamento da marca da FIFA para a imprensa, com sua conversa sobre “construir uma estrutura de marca identificável para os próximos anos”, sugere que torneios futuros poderiam usar a mesma marca, provavelmente com o “26” sendo substituído por um “30”, mas mantendo o nome da FIFA em primeiro plano.

É certo, porém, que a maioria dos torcedores de futebol preferia um foco mais local, apesar da dificuldade de criar uma marca assim hoje.


SOBRE O AUTOR

James I. Bowie é sociólogo da Northern Arizona University e estuda tendências em branding e em design de logotipos. saiba mais