Tesla lança sua primeira picape e adivinhe: ela tem problemas de design

Especialistas estavam reticentes quanto ao design do Tesla Cybertruck. Uma foto mostrando uma porta desalinhada confirmou os receios

Crédito: Mike Mareen/ Shutterstock

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

Nem bem a primeira unidade do Tesla Cybertruck saiu da linha de produção na fábrica Giga Texas e especialistas da indústria automobilística já identificaram um grande problema de qualidade: as portas dianteira e traseira do passageiro parecem estar desalinhadas.

Não vou dizer “eu avisei”, mas os especialistas e engenheiros que tinham preocupações sobre o questionável design do Cybertruck podem estar certos.

O problema de alinhamento em componentes dos carros da Tesla não é novo. Proprietários de outros modelos já o relataram várias vezes. Mas o fato de que isso está acontecendo no primeiro teste de produção do Cybertruck, depois de Elon Musk ter prometido eliminar o problema em 2021, é preocupante.

Era de se esperar que a Tesla tivesse se certificado de que a primeira unidade estivesse perfeita em termos de aparência, mas acabou sendo mais uma amostra das recorrentes falhas da empresa. Embora uma única unidade possa não ser indicativa de futuros problemas de qualidade, não é um bom precedente.

ESCRUTÍNIO INTENSO

A questão das portas desalinhadas é apenas um pequeno problema na longa e conturbada trajetória do projeto mais bizarro e ambicioso da Tesla. Falhas têm atrapalhado o design e a produção do modelo desde o início, atrasando repetidamente seu lançamento. Agora que a primeira unidade saiu com erros, o que isso significa para a nova estreia prevista para o “final de 2023”?

Créditos: Tesla/ Fast Company

Embora a montadora tenha culpado a cadeia de suprimentos pelos atrasos, Adrian Clarke, designer de carros que agora escreve críticas para a publicação automobilística “The Autopian”, afirma que o design original do Cybertruck estava repleto de erros. Ele e outros na indústria estavam céticos de que o carro algum dia se tornaria realidade – pelo menos não sem uma grande reformulação.

O maior problema do modelo é o suposto exoesqueleto de aço inoxidável, que especialistas criticaram fortemente, afirmando que era impossível de ser fabricado conforme planejado. Quando Elon Musk revelou o Cybertruck, ele prometeu um design com revestimento plano de aço que atuaria como um exoesqueleto, tornando o carro virtualmente indestrutível e extremamente resistente.

No site oficial do Cybertruck, a Tesla anuncia que o veículo tem um exoesqueleto (Crédito: captura de tela/ Tesla/ julho de 2023)

Para um design como este, a carroceria do veículo precisa servir como a estrutura de suporte, enquanto carros comuns usam um chassi monobloco, revestindo-o com a carroceria.

Em uma reunião de acionistas, Musk insistiu que o Cybertruck teria um exoesqueleto. No entanto, experts em carros e fabricação discordam. O especialista Cory Steuben apontou que o modelo claramente não tem um exoesqueleto. Segundo ele, as imagens da linha de montagem mostram um chassi monobloco comum, como “um antigo Honda Ridgeline ou um Modelo Y”.

AS PORTAS ESTÃO SE FECHANDO

Os supostos problemas de qualidade do Cybertruck não são as únicas questões que a Tesla vem enfrentando nos últimos anos. A montadora tem uma longa história de reparos malfeitos que levaram a protestos de associações de proprietários. Muitas pessoas ainda são fãs, mas há várias outras que se sentem lesadas.

Alguns grupos chegaram até a organizar greves de fome para exigir que a empresa fizesse reparos urgentes para corrigir erros de fabricação. Painéis defeituosos – não certificados para aplicações automotivas – levaram a um grande programa mundial de recall, além de investigações pela Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário dos EUA e pela Autoridade Federal de Transporte Motorizado da Alemanha.

Linha de montagem do Cybertruck (Crédito: Tesla)

Na Espanha, milhares de motoristas de táxi optaram por trocar seus veículos de trabalho pelo Tesla Modelo 3, mas ganharam muitas dores de cabeça. Eles expressaram arrependimento devido à baixa autonomia da bateria e ao péssimo serviço de pós-venda.

Não é exagero imaginar que as portas desalinhadas do Cybertruck podem ser um sinal de futuros problemas de produção. Clarke duvida que a Tesla consiga produzi-lo em larga escala devido ao seu design.

Neste ponto, parece irracional pensar (apesar do grande número de pessoas que fizeram um depósito reembolsável de US$ 100) que o Cybertruck será capaz de competir com as populares picapes elétricas da Ford, GMC e Rivian, que já dominaram a categoria.

Há muito em jogo para a Tesla e Musk, que em maio afirmou que a montadora produziria de 250 mil a 500 mil Cybertrucks por ano, dependendo da demanda.

Quando os próximos modelos saírem da linha de produção, é melhor que não tenham portas desalinhadas ou qualquer outro problema de qualidade como os anteriores. As pessoas estão de olho, e não há muita margem para erro.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais