Turismo de selfies ameaça estragar alguns dos locais mais icônicos do mundo

A quantidade de pessoas em busca da foto perfeita para as redes sociais está prejudicando nossos patrimônios culturais e naturais

Créditos: Svetlana Shamshurina/ iStock/ Simon Lee/ Unsplash

Jesus Diaz 3 minutos de leitura

Estamos destruindo a civilização, uma foto por vez. E não sou só eu que digo isso. A Unesco – agência das Nações Unidas responsável por proteger o patrimônio cultural da humanidade – está alertando sobre o crescimento desenfreado do “turismo de selfies”.

O turismo de selfies é uma tendência na qual os viajantes visitam pontos turísticos famosos, não para se aprofundar na história ou na cultura local, mas para tirar fotos para as redes sociais. O foco não está mais na experiência, mas sim em criar uma imagem perfeita para o Instagram, Facebook ou TikTok.

As tradicionais fotos de férias já eram um incômodo, mas eram compreensíveis. Agora, esse novo fenômeno de visitar lugares apenas para tirar e compartilhar fotos de si mesmo se tornou uma praga.

O EFEITO INSTAGRAM

As redes sociais impulsionaram essa mudança. A Unesco alerta que o turismo de selfies está causando sérios danos a muitos dos pontos turísticos mais conhecidos do mundo. “O impacto varia dependendo do destino”, disse um porta-voz da agência ao “The Mirror”.

“Em muitos casos, isso leva à superlotação de certos locais, criando pressão sobre a infraestrutura local e prejudicando a experiência dos visitantes.”

Isso também fez com que lugares menos conhecidos se tornassem pontos de grande visitação. Destinos que antes eram pouco visitados agora estão abarrotados de pessoas tentando recriar momentos virais.

Um exemplo disso é Hallstatt, na Áustria – cidade que teria inspirado o filme “Frozen - Uma Aventura Congelante”, da Disney. Mais de um milhão de turistas visitam o local todos os anos, em busca da selfie perfeita com as montanhas ao fundo.

A situação ficou tão fora de controle que a cidade recentemente ergueu uma cerca para impedir que as pessoas se aglomerassem em um ponto popular para fotos. O prefeito, Alexander Scheutz, disse à imprensa que “os moradores só querem ser deixados em paz”, um sentimento que muitos residentes de regiões turísticas conhecem de perto.

Hallstatt, Áustria (Crédito: Wikipedia)

CONSEQUÊNCIAS REAIS

A cultura da selfie não só incomoda os moradores locais, mas também traz sérios riscos ao patrimônio cultural e à segurança pública. Em Veneza, uma gôndola chegou a virar porque turistas se recusaram a parar de tirar fotos, ignorando os avisos do gondoleiro.  E isso aconteceu em uma cidade já assolada pelo turismo excessivo.

Apesar das medidas para conter o imenso fluxo de visitantes – como proibir grandes navios de cruzeiro e limitar os visitantes diários –, Veneza ainda sofre com o problema. A Unesco tem repetidamente apontado que, ao buscarem a “foto perfeita”, turistas muitas vezes acabam cometendo ações perigosas e prejudiciais, como invasão de propriedade, vandalismo ou até acidentes.

Turistas lotam ruas de Veneza (Crédito: rglinsky/ iStock)

Várias cidades ao redor do mundo estão reagindo com multas e tarifas. Em Portofino, na Itália, turistas que passam muito tempo em locais populares de selfies podem ser multados em até US$ 300. O objetivo, segundo o prefeito Matteo Viacava, é evitar o “caos anárquico” que pode criar “situações perigosas” devido à superlotação nas ruas.

Em Amsterdã, as autoridades estão tentando transferir o famoso distrito da luz vermelha para a periferia, na esperança de dispersar as multidões. Em Florença, há um esforço para direcionar turistas para bairros menos conhecidos, aliviando a pressão nas áreas mais visitadas.

Já a Nova Zelândia lançou uma campanha incentivando os viajantes a levarem “algo novo” de suas viagens, em vez das mesmas fotos em frente a pontos turísticos, de acordo com a BBC.

Crédito: Reprodução/ YouTube

No entanto, como muitos desses lugares dependem economicamente do turismo, o excesso de medidas restritivas pode ter um efeito colateral indesejado. Proteger o patrimônio cultural e a vida local, ao mesmo tempo em que se mantém o turismo como motor econômico, é um equilíbrio difícil de alcançar.

Um porta-voz da Unesco explicou ao “The Mirror” que “transformar o turismo de selfies em uma prática mais sustentável exige uma mudança tanto de mentalidade quanto de comportamento”.

A agência acredita que os influenciadores podem desempenhar um papel importante na promoção de um turismo mais responsável. Mas será que eles estão realmente preparados para isso? Talvez a resposta que buscamos esteja no bom senso, no autocontrole e, acima de tudo, no respeito às pessoas e aos lugares.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais