Twitter se prepara para lançar o botão mais controverso (e esperado) da internet

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 4 minutos de leitura

No começo de abril, Elon Musk “quebrou a internet” ao fazer uma pesquisa com seus seguidores no Twitter: “Você gostaria de um botão de edição?”. Cerca de 4 milhões de usuários responderam, com 75% deles dizendo que sim. Depois disso, o Twitter finalmente confirmou que já tem planos de lançar o recurso.

Mas esta é uma decisão bastante controversa. Alguns críticos apontam que um botão de edição tem o potencial de abalar a democracia, dando a usuários mal-intencionados, como, por exemplo, o ex-presidente Donald Trump (que hoje está banido da plataforma), a possibilidade de reescrever a história. Por outro lado, muitos dos que defendem a imutabilidade das criptomoedas estão agora demonstrando grande apoio ao desejo de Musk de tornar os tuítes editáveis (uma ironia que dificilmente sou o primeiro a apontar).

Mas não devemos permitir que essa mini guerra cultural nos distraia de um problema real de design: tuítes são facilmente usados para enganar ou falsear a realidade, seja intencionalmente ou não. Este é um problema solucionável, segundo Michael Leggett, designer da startup solar Evergreen. Ele foi o responsável por criar o “Cancelar Envio” no Gmail e ajudou a desenvolver o recurso de excluir mensagens no Facebook Messenger.

“Foi uma tentativa de maximizar o bem e minimizar o mal”, diz Leggett sobre o design dessas ferramentas. “Acredito que haja maneiras de também minimizar os danos para tornar possível [um botão de edição].” Mas como? A resposta pode estar na maneira como será feita a edição. Ela pode, por exemplo, ser feita da mesma forma que as alterações em um documento do Word, onde conseguimos ver todas as modificações realizadas. 

COMO EDITAR TUÍTES COM RESPONSABILIDADE?

Para entender como funcionará a edição do tuíte, precisamos olhar para como isso é feito em outras plataformas. O Reddit, por exemplo, não permite que o post principal seja editado depois de publicado – eles são tratados como um jornal impresso. No entanto, a plataforma permite que você edite comentários o quanto quiser.

A edição no Twitter pode ser feita como em um documento do Word, onde é possível ver todas as modificações realizadas.

Já no Slack, é possível editar mensagens e elas aparecem com uma pequena indicação de “editada” na interface do usuário. Mas dá para ver o que foi editado? Não. Essa limitação é bastante problemática em diversas situações, como no caso de assédio, onde pode-se facilmente apagar os rastros. No entanto, todas as mensagens ficam armazenadas na nuvem, e as edições feitas em canais públicos podem ser baixadas por gerentes ou supervisores que tiverem acesso.

No Facebook, todas as postagens são editáveis. O problema é que, no seu feed principal, você não consegue ver se algo foi editado. É preciso clicar no ícone de três pontos da postagem para ver o histórico. Assim você descobre se foi editado ou não.

Mas nenhum desses formatos de edição funciona para o Twitter, que se tornou a plataforma de comunicação “oficial” para figuras públicas. Uma ótima solução em potencial foi dada por Glen Murphy, diretor sênior de UX do Google, que trabalhou no Android, Chrome e Chrome OS. Murphy apresentou sua ideia de como as edições do Twitter poderiam ser indicadas.

Este é um tuíte editado. E parece um tuíte editado, usando o recurso de “tachado” com o qual estamos acostumados ao verificar alterações em documentos. Em vez de escondê-las, Murphy sugere que podem simplesmente aparecer como parte da mensagem. No entanto, esta não é uma solução que o Twitter esteja estudando e testando.

Paul Stamatiou, que passou quase uma década como designer no Twitter antes de ingressar na plataforma de negociação de Bitcoin Kraken, observa que o desafio, na verdade, é lidar com as consequências não intencionais da edição de tuítes.

o desafio, na verdade, é lidar com as consequências não intencionais da edição de tuítes.

Ele explica que, quando um tuíte é editado, essa edição pode ter um efeito cascata. O que acontece com uma matéria ou artigo que incorporou aquele tuíte ao texto? Como identificar abuso ou assédio quando há a possibilidade de editá-los?  O que acontece se você “curte” um tuíte e o editam com algum conteúdo abusivo – você seria involuntariamente responsável por concordar com ele?

Veremos quais dessas abordagens o Twitter trará ainda este ano. Podemos esperar que a testem como versão beta. A empresa vem trabalhando neste recurso há muito tempo. O ex-diretor de design da empresa já havia demonstrado apoio ao botão de edição em 2021.

Mas não importa quanto tempo ela tenha levado ou ainda leve, não se engane: um botão de edição eficaz é possível e, para a maioria de nós, pode trazer muitas vantagens. Os únicos empecilhos reais à edição de tuítes estão dentro da própria plataforma. 

Sabe quem é o responsável por fazer reparos e melhorias no Twitter? O próprio Twitter. É hora de pararmos de fingir que os problemas de design criados pelas grandes corporações não são de responsabilidade delas mesmas. 

“Consertem isso logo!”, diz Leggett.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais