Uma escultura bizarra feita de cabelo humano

Parte arte. Parte Demogorgon. Tudo cabelo

Crédito: Andy Keate/ Pareid Architecture

Elissaveta M. Brandon 2 minutos de leitura

Uma estranha escultura aterrissou na vitrine de um salão de cabeleireiro no descolado bairro de Notting Hill, em Londres. É grande, é peluda e feita de cabelo humano.

A escultura, de quase quatro metros de altura, foi feita com sete quilos de fios de cabelo recolhidos de salões de todo o Reino Unido e transformado em um material parecido com feltro. Estava à mostra como parte do Festival de Design de Londres, realizado no final de setembro.

Crédito: Andy Keate/ Pareid Architecture

Apesar de parecer, em parte, o Demogorgon da série “Stranger Things”, a obra tem uma missão séria: chamar a atenção para o potencial do cabelo humano como material de design. Para o escritório de arquitetura Pareid, responsável pela “instalação”, o cabelo tem um tremendo potencial.

A empresa vem realizando pesquisas sobre reutilização de cabelo há cinco anos. Na Semana de Design de Bangcok, em 2019, por exemplo, eles usaram cabelo para medir a poluição do ar na cidade e depois fizeram uma barraca usando tecido feito do material.

Agora, os arquitetos fizeram uma parceria com a Green Salon Collective, companhia britânica que recolhe resíduos dos salões de beleza (como cabelo) e os recicla para produzir um tipo de lã, tecidos e barreiras para contenção de vazamentos de petróleo.

Crédito: Pareid Architecture

Para fazer a escultura, a Pareid usou um tear com várias agulhas que espetavam o material, capturavam os fios e os compactavam até virarem uma superfície sólida. Depois, pregaram o tecido sobre uma estrutura de madeira que deu forma à obra.

Crédito: Pareid Architecture

Deborah Lopez, uma das cofundadoras da Pareid, explicou que o processo só funciona com fios de no mínimo cinco centímetros de comprimento, o que torna as coisas mais complicadas. Mas o tecido não requer nenhum outro tipo de aglutinante, que poderia ser prejudicial ao meio ambiente.

Crédito: Andy Keate/ Pareid Architecture

A peça foi concebida para ser uma provocação, mas Deborah tem muitas ideias sobre como o cabelo pode ser usado em soluções práticas. “Como têxtil, ele é bom porque pode ser usado como material acústico ou isolante”, explica. A Pareid vem testando também como agregado em materiais mais duros, assim como se faz com a palha em tijolos de barro.

Pode soar estranho, mas o potencial do pelo de cavalo como reforço para o concreto é algo que já vem sendo explorado. E os designers têm feito experimentos com outros resíduos pouco usuais, como escamas de peixe, lodo e até cascas de laranja. Por que não com cabelo humano?


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais