Uma escultura bizarra feita de cabelo humano
Parte arte. Parte Demogorgon. Tudo cabelo

Uma estranha escultura aterrissou na vitrine de um salão de cabeleireiro no descolado bairro de Notting Hill, em Londres. É grande, é peluda e feita de cabelo humano.
A escultura, de quase quatro metros de altura, foi feita com sete quilos de fios de cabelo recolhidos de salões de todo o Reino Unido e transformado em um material parecido com feltro. Estava à mostra como parte do Festival de Design de Londres, realizado no final de setembro.

Apesar de parecer, em parte, o Demogorgon da série “Stranger Things”, a obra tem uma missão séria: chamar a atenção para o potencial do cabelo humano como material de design. Para o escritório de arquitetura Pareid, responsável pela “instalação”, o cabelo tem um tremendo potencial.
A empresa vem realizando pesquisas sobre reutilização de cabelo há cinco anos. Na Semana de Design de Bangcok, em 2019, por exemplo, eles usaram cabelo para medir a poluição do ar na cidade e depois fizeram uma barraca usando tecido feito do material.
Agora, os arquitetos fizeram uma parceria com a Green Salon Collective, companhia britânica que recolhe resíduos dos salões de beleza (como cabelo) e os recicla para produzir um tipo de lã, tecidos e barreiras para contenção de vazamentos de petróleo.

Para fazer a escultura, a Pareid usou um tear com várias agulhas que espetavam o material, capturavam os fios e os compactavam até virarem uma superfície sólida. Depois, pregaram o tecido sobre uma estrutura de madeira que deu forma à obra.

Deborah Lopez, uma das cofundadoras da Pareid, explicou que o processo só funciona com fios de no mínimo cinco centímetros de comprimento, o que torna as coisas mais complicadas. Mas o tecido não requer nenhum outro tipo de aglutinante, que poderia ser prejudicial ao meio ambiente.

A peça foi concebida para ser uma provocação, mas Deborah tem muitas ideias sobre como o cabelo pode ser usado em soluções práticas. “Como têxtil, ele é bom porque pode ser usado como material acústico ou isolante”, explica. A Pareid vem testando também como agregado em materiais mais duros, assim como se faz com a palha em tijolos de barro.
Pode soar estranho, mas o potencial do pelo de cavalo como reforço para o concreto é algo que já vem sendo explorado. E os designers têm feito experimentos com outros resíduos pouco usuais, como escamas de peixe, lodo e até cascas de laranja. Por que não com cabelo humano?