Uma onda de design começa a tornar as praias mais acessíveis para PCDs

A maioria das praias é inacessível para pessoas com deficiência, mas cadeiras de rodas adaptadas e intervenções de design estão mudando a maré

Crédito: DeBug

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

Recém-casada e com 28 anos, Karen Deming adorava ir à praia em Pensacola, na Flórida, para onde se mudou quando entrou na faculdade. Mas, depois de sofrer um acidente de carro que a deixou tetraplégica, ela passou a depender do marido para carregá-la até o mar. “A experiência foi tão humilhante que prometi nunca mais voltar”, relata Karen.

Levou alguns anos, mas ela acabou retornando – usando uma cadeira de rodas projetada por seu marido, Mike Deming. A cadeira era equipada com pneus parecidos com balões, que facilitavam o deslocamento sobre a areia.

Hoje, várias empresas fabricam cadeiras de rodas para praia como essa, como a francesa Vipamat e a norte-americana Wheeleez. No entanto, nos anos 1990, as opções eram bastante limitadas.

Crédito: DeBug

Em 1996, o casal fundou a DeBug Mobility, uma empresa que projeta e fabrica cadeiras de rodas para praia. Atualmente, seus principais clientes são parques municipais, estaduais e federais, além de hotéis (como The Ritz, Hilton, Shangri-La) e companhias de cruzeiros marítimos, como Royal Caribbean, Disney e Norwegian.

“A acessibilidade deixou de ser um mercado de nicho e se tornou viável em diversos segmentos”, afirma Karen.

ESPAÇOS AZUIS

De fato, a maré está mudando em vários países. Embora seja impossível quantificar o número de praias acessíveis em todo o mundo, diversas comunidades estão trabalhando para promover a acessibilidade e, principalmente, para fornecer informações relevantes para quem mais precisa delas.

A Califórnia e a Flórida lançaram aplicativos que permitem pesquisar a praia acessível mais próxima, assim como a região de Múrcia, na Espanha. Na Austrália, a organização sem fins lucrativos Accessible Beaches Australia criou um diretório de praias acessíveis para pessoas com deficiência. Das cerca de 10 mil praias do país, 100 aparecem na lista, segundo Sasha Job, professora de fisioterapia na CQUniversity.

Há três anos, Job tem se dedicado a pesquisar praias acessíveis. Como parte da pesquisa, sua equipe entrevistou cerca de 350 pessoas e descobriu que quase 90% delas iriam à praia com mais frequência se a acessibilidade fosse melhorada.

Crédito: Access Trax

As barreiras mais frequentemente citadas foram rampas e caminhos inacessíveis e a ausência de equipamentos de mobilidade. Após o estudo, Job desenvolveu um modelo conceitual que reflete a diversidade da comunidade de pessoas com deficiência e a variedade de “espaços azuis”, ou seja, ambientes ao ar livre com corpos d’água naturais.

O modelo BlueAbility pode ser utilizado por pesquisadores, profissionais de saúde, grupos comunitários e formuladores de políticas públicas em qualquer parte do mundo.

Ele destaca os vários motivos pelos quais uma praia pode ser inacessível para alguém com deficiência, incluindo fatores pessoais e ambientais, e sugere diversos níveis de intervenção – desde o fornecimento de equipamentos especializados até estruturas como estacionamentos acessíveis, banheiros e vestiários.

PROJETANDO PRAIAS ACESSÍVEIS

No entanto, esses serviços são apenas uma parte da infraestrutura necessária. A outra parte, é claro, é efetivamente tornar as praias acessíveis. Talvez o recurso de acessibilidade mais presente no mundo seja o tapete Mobi-Mat, que lidera o mercado desde sua invenção, em 1994. Mas uma nova empresa de San Diego pretende disputar sua hegemonia.

A Access Trax fabrica tapetes modulares que permitem criar um caminho acessível em qualquer configuração imaginável. Além disso, são mais leves que o Mobi-Mat e podem ser dobrados, não sendo necessário desconectá-los toda vez que forem guardados.

Crédito: Seatrac

No entanto, o problema com qualquer tipo de tapete é que eles só podem levá-lo até certo ponto na praia. Se uma pessoa com mobilidade reduzida quiser entrar no mar, as opções são bastante limitadas. Mas a Grécia pode ter encontrado uma solução.

Durante a última década, o país tornou mais de 200 praias acessíveis instalando um sistema chamado Seatrac, que permite que pessoas com mobilidade reduzida entrem na água. O sistema consiste em um trilho fixo que começa na areia e termina no mar.

Uma cadeira ativada remotamente desliza sobre o trilho, permitindo entrar na água de forma lenta e independente. Entretanto, funciona apenas para pessoas com mobilidade na parte superior do corpo e que, portanto, conseguem se erguer de sua própria cadeira para o Seatrac. Mesmo assim, essa é uma excelente opção para aumentar a infraestrutura de acessibilidade das praias.

Desde seu lançamento em 2012, o Seatrac está presente na Itália, Chipre e Letônia, com planos de expansão para outros países como Brasil, Israel, Turquia e Estados Unidos. Um mapa no site da empresa mostra todas as praias acessíveis na Europa, bem como as estruturas oferecidas em cada local.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais