Uma viagem em realidade virtual pela arte visionária de Hilma af Klint

A pioneira da arte abstrata produziu 193 pinturas para serem expostas em um templo em forma de espiral, mas a ideia nunca se concretizou. Até agora

Crédito: Acute Art/ Stolpe Publishing

Elissaveta M. Brandon 2 minutos de leitura

É meio-dia de uma terça-feira, e aqui estou, sentada em um bar. Mas em vez de um drinque na mesa, há um headset de realidade virtual. A razão para essa situação peculiar nos leva de volta a 1915, quando a artista sueca Hilma af Klint concluiu uma série de pinturas intitulada “Os Quadros para o Templo”.

Apesar de ter morrido em 1944, sabemos, a partir dos 124 cadernos que deixou para trás, que af Klint sonhava em expor essas pinturas em um prédio em forma de espiral chamado Templo. Esse sonho nunca se concretizou no mundo real, mas agora existe na realidade virtual.

Embora ainda não exista um museu dedicado exclusivamente ao seu trabalho, nos últimos anos, a artista foi tema de uma grande exposição, uma nova biografia, um catálogo raisonné (uma lista de todas as suas obras conhecidas), um “passeio de arte” de realidade aumentada no Regent’s Park, em Londres, e, agora, um templo em realidade virtual.

A experiência, intitulada “Hilma af Klint: The Temple” (Hilma af Klint: O Templo), tem duração de 12 minutos e foi criada pelo estúdio de realidade estendida Acute Art em colaboração com a editora Stolpe Publishing. Agora, está disponível no Museu Fotografiska, em Nova York, dentro de um bar que fica escondido atrás de uma porta no saguão.

A maior parte da experiência de realidade virtual, que o diretor e curador da Acute Art, Daniel Birnbaum, descreve como uma “jornada cósmica”, ocorre dentro de uma construção em espiral que se assemelha muito ao Museu Guggenheim.

Ao olhar para cima, vemos círculos concêntricos em meio a pinturas e dois pássaros voando perto do teto de vidro. Em seguida, começamos a subir pela torre, como um drone seguindo uma linha invisível.

Em um determinado ponto, somos sugados para dentro de uma das pinturas, onde observamos uma nuvem em forma de cachorro se dispersar na atmosfera. Em outro momento, acompanhamos dois balões que giram no ar até se encaixarem em outra das telas de af Klint.

Finalmente, alcançamos os pássaros voando, que se revelam um par de cisnes – um preto e outro branco – em referência à sua famosa série “O Cisne”. A jornada termina quando entramos em uma esfera de luz brilhante ao som abafado de batidas de coração.

Crédito: Acute Art/ Stolpe Publishing

Esse momento parece funcionar como um intervalo, e tenho a chance de refletir sobre tudo o que acabei de ver. Mais tarde, Marika Stolpe, que dirigiu a experiência, me explicou que essa parte simboliza “consciência espiritual e reencarnação”.

Fico imaginando como af Klint teria se sentido ao ver suas pinturas sendo apresentadas em realidade virtual. Segundo Birnbaum, que já foi diretor do Moderna Museet (o museu de arte moderna da Suécia, em Estocolmo), a artista tinha uma mente científica.

Crédito: Acute Art/ Stolpe Publishing

“É interessante imaginar o que ela teria pensado sobre computação e invenções recentes, como o blockchain”, comenta ele. Stolpe também destaca a série “Átomo” da artista – o átomo foi um tema importante de sua época.

Alguns podem considerar a experiência um artifício simplista, mas, para Birnbaum, é uma interpretação adequada dos cadernos de af Klint, nos quais ela às vezes se referia ao Templo como “algo interno”. “Pode parecer um pouco ousado, mas o que ela imaginava parece ser substancialmente compatível com espaços virtuais e experiências imersivas.”


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais