Vision Pro pode não ser o novo iPhone, mas pode ser o próximo Mac

Como o primeiro Mac, o novo headset de “computação espacial” é uma versão inicial cara de uma plataforma de propósito geral

Crédito: Apple

Harry McCracken 3 minutos de leitura

Quando Tim Cook assumiu o cargo de CEO da Apple, não faltaram críticas. Muitos reclamavam que ele estava falhando como sucessor de Steve Jobs. E o principal argumento era que a Apple não estava lançando produtos inovadores.

Avançando uma década ou mais para o lançamento do Vision Pro, um novo consenso se formou. O novo headset de realidade virtual está sendo visto como um produto revolucionário.

Este é, sem dúvida, o lançamento mais importante da Apple desde o primeiro iPhone, há 17 anos. Mas isso não significa que haja semelhanças em termos de virtudes, limitações e usos potenciais entre os dois aparelhos.

Usar o impacto do iPhone como parâmetro pode não ser a melhor maneira de entender para onde a tecnologia da empresa está caminhando. Pelo menos, essa é minha opinião depois de passar algum tempo testando o Vision Pro.

Crédito: Apple

É uma experiência totalmente nova, desde o uso de rastreamento ocular e gestos manuais até a capacidade de ajustar o quanto do mundo real você quer ver, girando um botão. Mas, curiosamente, o dispositivo me lembra o primeiro Macintosh.

Quando Jobs apresentou o iPhone, ele o descreveu como sendo uma junção de três coisas: um iPod, um telefone e um comunicador de internet. Essa simplicidade conceitual superou qualquer aspiração inicial de versatilidade, e é por isso que a primeira versão do aparelho não oferecia suporte a aplicativos de terceiros.

Três anos depois, o iPad também foi lançado ressaltando alguns usos: navegar na web, assistir a filmes, ler e-books, ver e-mails. Conforme os dois dispositivos passavam a incluir mais recursos e aplicativos, ficavam cada vez mais parecidos com computadores. Mas esse processo se deu ao longo de anos, não foi o argumento inicial de venda.

Em comparação, a maneira como a Apple descreve o Vision Pro – “um revolucionário computador espacial” – cria expectativas completamente diferentes. Como computador, ele foi projetado para ser uma plataforma de propósito geral útil para uma variedade de tarefas. O último produto da empresa a ser criado com este objetivo em mente desde o início foi o Mac.

A Apple nunca vai posicionar seu headset como um Mac que você coloca no rosto, mas também não está fazendo esforços para impedir que as pessoas façam essa associação.

Por exemplo, durante a configuração, as instruções em áudio descrevem o gesto de pinçar com as mãos como um clique de mouse. Essa característica fundamental é uma das muitas coisas que diferenciam o Vision Pro do Quest 3, da Meta, que não tenta ser um computador.

Mas não estou comparando-o ao Mac apenas pelos aspectos positivos. Em 1984, o imponente preço de US$ 2.495 do primeiro Mac foi um dos principais motivos pelos quais ele ficou muito aquém das projeções iniciais de vendas da Apple. Em 2024, o Vision Pro custar a partir de US$ 3.995 também é um problema, independentemente do quão incrível é a tecnologia.

Os computadores frequentemente têm dificuldade em encontrar “killer apps” – aplicativos que criam experiências tão valiosas a ponto de justificar a existência de uma nova máquina. Por enquanto, o recurso mais impressionante do headset é facilmente sua capacidade de gravar e reproduzir vídeos 3D que parecem que você pode passear por eles. Mesmo fotos comuns nunca pareceram tão incríveis.

Qualquer um que experimentar o Vision Pro vai ficar fascinado por essas coisas. Mas não consigo deixar de pensar que grande parte da diversão de gravar vídeos e fotos está, na verdade, no compartilhamento. A natureza solitária do headset trabalha contra isso, pelo menos até o dia em que todos tenham um.

Crédito: Apple

Mas lançar um novo computador sem um killer app não significa, necessariamente, que ele está fadado ao fracasso. O primeiro Mac não tinha um até o programa de editoração eletrônica PageMaker ser lançado, cerca de um ano e meio depois. Mas, se nunca tivesse havido um PageMaker, o Mac poderia ter desaparecido antes mesmo de encontrar seu caminho.

Ao tornar o Vision Pro tão poderoso, a Apple aumentou as apostas de maneira semelhante. Esperamos que a empresa, os desenvolvedores e os consumidores deem a este headset o tempo que toda plataforma de computador potencialmente extraordinária merece.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais