Você moraria em um prédio que já foi um presídio? E se fosse em Nova York?

O que eram antes celas apertadas estão sendo reformadas e virarão apartamentos com vista para a Estátua da Liberdade

Crédito: Cookfox Architects

Nate Berg 3 minutos de leitura

Enquanto várias cidades pelo mundo buscam maneiras de transformar edifícios comerciais abandonados em apartamentos, um projeto de conversão em Nova York teve um ponto de partida bem diferente. Liberty Landing é um projeto residencial de 146 unidades, todas a preços acessíveis, que será construído a partir da estrutura do que antes era um presídio feminino.

Localizada no hoje sofisticado bairro de Chelsea, em Manhattan, entre o rio Hudson e o parque High Line, a Bayview Correctional Facility (Penitenciária Bayview) funcionou de 1971 até ser devastada pelo furacão Sandy, em 2012, quando foi fechada e, mais tarde, abandonada.

Mas o local nem sempre foi uma prisão. Quando inaugurou, em 1931, o edifício de estilo art déco funcionava como uma unidade da YMCA (Associação Cristã de Moços, na sigla em inglês) destinada à hospedagem de marinheiros em período de folga.

“Era uma época em que se viam muitos marinheiros e oficiais da marinha mercante, a ilha de Manhattan era toda rodeada por cais e havia veleiros por toda parte”, diz Karen Hu, do Camber Property Group, empresa que encabeça o projeto de conversão.

O prédio estreito de nove andares, com pequeníssimos quartos parecidos com dormitórios que se estendiam por um fino corredor, oferecia hospedagem temporária e barata numa época em que Chelsea era um bairro muito diferente.     

Projetado pelo Shreve, Lamb and Harmon – mesmo escritório de arquitetura responsável pelo Empire State Building –, o prédio apresenta um formato incomum, que facilitou a conversão em presídio feminino e a transformação dos minúsculos quartos em celas igualmente pequenas.

Transformar o prédio em qualquer outra coisa seria mais difícil. Não à toa, a propriedade pública ficou quase 10 anos parada na lista de tarefas do programa de reurbanização de Nova York.

A criativa proposta de converter a prisão em prédio residencial feita pelo grupo Camber e pelos profissionais do escritório CookFox Architects encontrou uma forma de trazer o local de volta à vida.

Crédito: Cookfox Architects

“As dimensões daqueles cômodos são tão pequenas que nem como celas de prisão eles podem ser reaproveitados”, diz Bethany Borel, sócia do CookFox. Mas o prédio como um todo tem cerca de oito metros de profundidade, medida comum de bons apartamentos.

Assim, os arquitetos pensaram na solução de ocupar o local com estúdios e apartamentos de um ou dois quartos onde antes havia celas separadas por um corredor. Uma nova construção será erguida no antigo pátio do edifício em forma de L, com outro conjunto de apartamentos.

Crédito: Cookfox Architects

O corredor que corta as duas fileiras de apartamentos ficará onde antes era a fachada traseira do prédio. As janelas da planta original serão ampliadas e vão virar as portas de entrada dos apartamentos. “Sabendo que as peças desse quebra-cabeça se encaixam tão perfeitamente, parece óbvio que é por esse caminho que devemos seguir”, diz Borel.

Com essas soluções, o projeto de conversão conseguiu preservar a maior parte possível da construção original. “Vamos recriar o ambiente interno, mas sem alterar a fachada histórica e a estrutura do piso, reduzindo ao máximo o impacto ambiental e procurando pensar bem no que estamos trazendo de novo para o edifício”, explica Borel.

A conversão da prisão em prédio residencial ainda está na etapa de pré-desenvolvimento; as obras provavelmente só começarão daqui a dois anos. Mas tanto Borel quanto Hu consideram o projeto de moradia a preços acessíveis uma importante iniciativa para aquela área da cidade.

    “Cresci em Nova York, em um conjunto habitacional, e sei como é difícil manter a estabilidade e arcar com os custos de vida de uma família numa região cara da cidade. Ao mesmo tempo, tenho formação em urbanismo e também sei que, para se manter dinâmica, a cidade precisa de grupos diversos de pessoas”, comenta Hu.

    “A ideia de existirem apartamentos a preços acessíveis com vista para a Estátua da Liberdade na frente dos píeres de Chelsea realmente faz todo o sentido para mim.”


    SOBRE O AUTOR

    Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais