A crise de imaginação do Brasil está aqui

Maior avaliação de alunos do mundo mostrou que mais de 54% dos adolescentes do país não têm pensamento criativo

Crédito: Freepik

Juliana de Faria 2 minutos de leitura

Pela primeira vez em sua história, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) analisou a criatividade dos jovens. O Brasil teve resultados lamentáveis, com só 10% dos seus participantes qualificados com alto desempenho. 

Entre as questões que avaliaram o pensamento criativo estavam a demanda para dar sugestões de ideias para tornar uma biblioteca mais acessível para pessoas com deficiência, desenhar um pôster sobre o espaço e escrever um diálogo entre o planeta Terra e o Sol, em uma tirinha.

A sociedade recebe essa notícia com choque e tristeza. No entanto... 

Ouvimos o tempo todo que o importante é estudar computação e engenharia. Artes e ciências humanas é para quem quer ser desempregado ou coisa de professores mal pagos. E nunca ficamos sabendo das várias ocasiões em que retas paralelas se cruzam ou os momentos em que dois mais dois é diferente de quatro.

Que é preciso ter liderança, mas que isso é só uma questão de métricas, metas, datas e missões. Não envolve entender, perguntar, questionar, imaginar ou transformar a realidade em algo ao menos um pouquinho melhor.

Que é importante estudar o que está sendo ensinado e repetir tudo na prova, assim como se faziam nas escolas dos tempos de nossos pais e avós. 

Crédito: vecstock/ Freepik

Que sucesso é ter dinheiro. Que um mundo melhor é conseguir conforto financeiro o suficiente para não ter que lidar com os problemas que atacam todas as pessoas.

Que tudo é complicado demais para ser resolvido. Que você não entendeu as questões por trás da economia, da ecologia, da guerra e da sociedade, então não ouse sonhar em vê-las resolvidas.

Que raiva vende. Que é fácil viralizar atacando pessoas e situações, mas que é bem mais difícil ter impacto com ideias ou propostas interessantes. Que uma pessoa não consegue dizer como o mundo deve funcionar. Essa tarefa cabe ao governo, ao mercado, a políticos, bilionários, robôs ou seres reptilianos – mas sempre ao outro.

Que é preciso se expor e falar para o público, mas não necessariamente ouvir, ler e pensar em silêncio.

Imaginação e sonho parecem sintomas de ingenuidade aguda, mas são, na verdade, um superpoder.

É por isso que eu venho dizendo há algum tempo, também em colunas passadas aqui na Fast Company, que devemos proteger os sonhadores. Imaginação e sonho parecem sintomas de ingenuidade aguda, mas são, na verdade, um superpoder. É o momento em que você se pergunta o que de fato deve ser feito e como as coisas poderiam ser.

E daí todo mundo se pergunta: “Nossa, mas como é que as crianças estão sem criatividade?”

Conforme a vida digital e a inteligência artificial criam raízes cada vez mais profundas em nossas vidas, é mais crucial promover a inovação, criatividade e pensamento crítico na infância. Afinal, criatividade não é um dom, mas uma habilidade que pode e deve ser desenvolvida.


SOBRE A AUTORA

Juliana de Faria é jornalista, escritora e pós graduada em neurociência e comportamento. Está à frente do Estúdio Jules, consultoria c... saiba mais