A hora de abrir mão
Rodou muito, em muitos grupos dos quais participo, a decisão da Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia. Qualquer coisa que eu disser vai ser um exercício de adivinhação das razões que ela teve para tomar essa decisão após dois mandatos.
Queria falar aqui sobre duas coisas que estão na minha cabeça há bastante tempo e aumentaram o volume desde a decisão dela: qual a hora de ir embora? E o que exatamente é fracasso?
Daquelas frases de avó que eu guardo é que um dia tudo termina. E isso sempre foi bom ter na cabeça. Foi assim que terminei amores, saí de trabalhos que não era feliz, mudei de casa cinco vezes em sete anos. Meu parâmetro sempre foi e sempre será de que se estou feliz, eu fico. Se não, vou-me embora.
Outro dia, num papo com uma colega antiga de trabalho, ela
Meu parâmetro sempre foi e sempre será de que se estou feliz, eu fico. Se não, vou-me embora.
me disse, 15 anos depois, que ficou muito impressionada com a minha saída da editora em que trabalhávamos, porque após um entrevero com um chefe, resolvi que em uma semana sairia, mesmo sem grana ou emprego novo. E saí. Era o emprego mais cool da cidade na época, a turma mais incrível trabalhava lá, mas eu – e só eu – não estava feliz.
Minha analista diz que a gente precisa aprender a dar alta para as relações, sejam elas pessoais ou profissionais. E digo, aos 45 anos, como é difícil isso. Como é difícil dizer tchau, desapegar, deixar ir, fazer a Frozen e let it go.
O que prende a gente? É status? É grana? É medo? É o quê, exatamente? Eu ainda não tenho essa resposta, mas tenho o ímpeto sempre aceso dentro de mim de ser feliz.
Aqui vale um parêntese: sou uma pessoa de relações longevas, sejam elas amorosas ou profissionais. Não é que um dia acordo e digo “ain, cansei”. É um sentimento que vai ocupando um espaço que, quando vejo, a vontade de ir é maior que a vontade de ficar.
a gente precisa aprender a dar alta para as relações, sejam elas pessoais ou profissionais. Como é difícil isso.
E como eu meço isso? A minha régua sempre é: faz diferença eu estar aqui? Se sim, vou insistir. Se acho que fiz tudo que podia fazer, a Elsa volta e eu saio ao som de “Let It Go”.
Claro que sempre fica a sensação de que eu poderia fazer mais sempre. Poderia ter sido mais tempo casada, poderia ter vivido mais uns meses naquela casa, poderia ter feito mais um ou dois projetos incríveis. Mas aí vem a sensação de tirar a bigorna do peito e penso: o mundo é grande demais para ficar aqui sem vontade.
Então, voltando ao meu primeiro ponto, não acredito em fracassos nesses casos. Acredito, como disse em um dos grupos, que uma “coisa importante demais nessa história da Jacinda: a hora de deixar ir. Baita dificuldade que o ser humano tem (e não quero generalizar para mulheres), mas entender que histórias acabam, empregos acabam, amores acabam. E esse momento definidor é, na minha visão, a coisa mais difícil da vida”.