A hora e a vez do corporate venturing


Samuel Vilarinho 5 minutos de leitura

O corporate venture capital (CVC) cresceu em destaque nos últimos anos e mais empresas de CVC estão se posicionando como grandes players no setor de capital de risco. De acordo com pesquisas recentes, os investimentos globais de CVC triplicaram entre 2011 e 2019. No entanto, devido a crenças equivocadas, muitas startups ignoram a perspectiva de apoio do CVC

Mas, afinal o que é CVC?

É a prática pela qual grandes corporações colaboram sistematicamente com startups ou scale-ups, centradas no segmento tecnológico, para acelerar sua inovação e crescimento. Em contrapartida, essas grandes corporações ganham agilidade, geração de novas ideias, motivação das equipes, abertura para assumir riscos e, muitas das vezes, novos produtos para o portfólio. É, sem dúvida, um processo benéfico para ambos.

O interesse das grandes corporações em investir em start-ups e scale-ups não é recente. Devido à concorrência acirrada por mercados limitados e a mudanças nas expectativas e preferências dos consumidores ao longo do tempo, as empresas tiveram que criar novos produtos e serviços regularmente para satisfazer as novas necessidades dos clientes. Por isso, a inovação se torna mais crítica a cada dia, sendo a força vital por trás da longevidade de uma empresa e da prosperidade de longo prazo da economia.

Na economia contemporânea, o sucesso de mercado – frente a consumidores cada vez mais exigentes – depende do conhecimento, da informação e de uma economia criativa. A maioria das empresas está presa aos produtos e inovações existentes. Para superar tal obstáculo, as grandes corporações investem, usualmente, em pesquisa e desenvolvimento para acompanhar os mais recentes modelos de negócios e tecnologias que surgem o tempo todo.

Assim como joint-ventures e aquisições – que, em muitos casos, têm funcionado como meios de pesquisa e desenvolvimento –, o investimento em capital de risco corporativo adquiriu uma posição de proeminência na defesa da reputação de uma grande corporação quando se trata de inovação.

O QUE OS INVESTIDORES QUEREM?

No mercado de venture capital, há o entendimento de que o CVC, do ponto de vista da empresa investidora, tem por objetivo atingir um dos seguintes propósitos:

1. Impulsionar a expansão da grande corporação: Parte-se da premissa de que, por uma lógica estratégica e em decorrência de fortes relações entre as atividades da grande corporação e da startup, esta poderá ajudar a empresa investidora a atingir suas metas e desenvolver novos produtos ou serviços. Como esses investimentos estão intimamente ligados aos processos existentes, eles podem ajudar a grande corporação na manutenção e desenvolvimento do plano de negócios em curso.

2. Investir em produtos e tecnologias emergentes: É quando uma organização faz investimentos em starups intimamente ligadas à sua capacidade operacional e, assim, busca acelerar o processo de desenvolvimento de novas capacidades em decorrência da aproximação com empresas disruptivas ou, ainda procura mudança, ou mesmo reposicionamento, no mercado de atuação; e

3. Investimento em busca de retorno financeiro: A grande corporação aporta recursos em uma startup com objetivo similar ao dos fundos de venture capital, buscando retornos substanciais ao final de um longo período.

a inovação se torna mais crítica a cada dia, sendo a força vital por trás da longevidade de uma empresa e da prosperidade de longo prazo da economia.

Especificamente nos cenários 1 e 2, os principais aspectos “ganha-ganha” do CVC aparecem. Se a investida (e suas operações) é bem-sucedida, a investidora considerará fortemente mudar processos, formato de desenvolvimento tecnológico ou abordagem mercadológica para que sejam semelhantes aos da startup.

Por outro lado, ao demonstrar sucesso na implementação de tais quesitos, a startup conquista espaço dentro da grande corporação, tendo fácil acesso a recursos financeiros adicionais e posição de relevância no processo decisório. Tal influência, em muitos dos casos, acaba culminando com a aquisição da startup pela investidora (evento de saída tão sonhado por muitos fundadores e investidores anjo).

TUDO A SEU TEMPO

O CVC não se limita a determinado tempo de maturação de um projeto ou empresa (embora predomine em estágios mais avançados). O investimento pode acontecer em diversos estágios da vida de uma startup, sendo importante entender as fases de crescimento e desenvolvimento de uma empresa objeto de CVC.

o investimento em CVC adquiriu uma posição de proeminência na defesa da reputação de uma grande corporação quando se trata de inovação.

A primeira fase, na qual ocorre o financiamento de startups em estágios iniciais (seed stage e early stage), foca em empresas que estão iniciando a operação mas ainda não estão prontas para produção e distribuição comercial. Nessa etapa, uma start up gasta muito dinheiro na criação de produtos e em marketing. É para isso que os recursos do CVC servirão.

Mais adiante, na fase conhecida como growth stage, o dinheiro aportado é usado não só para financiar os custos de operação, mas também para atender à crescente demanda por produtos ou serviços. Isso significa que haverá números ascendentes em termos de novos clientes, clientes recorrentes e faturamento. A rentabilidade começa a aparecer. É ainda o momento em que a equipe cresce e o processo de recrutamento de novos profissionais é acentuado.

HORA DE CRESCER

Chegando ao estágio subsequente, temos o aporte de recursos para o financiamento da expansão da startup (que, agora, já é uma scale-up). Esse capital é disponibilizado para as empresas via alocação de recursos no desenvolvimento e introdução de novos produtos; na expansão das instalações físicas; no aprimoramento dos produtos ou em marketing.

Por fim, e não menos relevante, o CVC pode ser utilizado em um momento pré-IPO (oferta pública de ações). Isto é, após os esforços para crescimento e expansão, a scale-up – que já demonstra um modelo de negócios comprovado e que permite considerar metas mais ambiciosas – inicia o processo de internacionalização e/ou expansão para outros setores ou verticais. Por isso, antes de se tornar pública, pode precisar de aportes financeiros substanciais para seguir a jornada de crescimento.

Pelo visto até aqui, fica clara a importância do CVC para o mercado de captações privadas, especialmente quando uma grande corporação pode (e quer) disruptar e ser disruptada.


SOBRE O AUTOR

Samuel Vilarinho é advogado e trabalhou por mais de 15 anos nos principais escritórios do país atendendo empresas e fundos nacionais... saiba mais