A IA pode ser a peça chave que faltava para a semana de 4 dias

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Renata Rivetti 5 minutos de leitura

“Graças à IA e à automação, a sociedade pode passar facilmente para uma semana de quatro dias", afirma Christopher Pissarides, professor da The London School of Economics e ganhador do Prêmio Nobel de Economia.

Segundo Pissarides, a evolução da IA permitirá que as pessoas foquem seu dia a dia em atividades que realmente trazem significado e realização e tirem a parte chata, burocrática e operacional de suas rotinas. Isso nos ajudará a trabalhar melhor, e não mais – condição essencial para a semana de quatro dias

Apesar da transformação que vem acontecendo no mundo devido à evolução da tecnologia, a verdade é que hoje ainda a utilizamos mal. A semana de cinco dias começou há quase 100 anos e o mundo mudou completamente no último século, principalmente em relação à tecnologia em nossas vidas.

é preciso redesenhar a jornada de trabalho e aprender a trabalhar melhor. A inteligência artificial entra como peça fundamental desse redesenho.

Em 1930, o economista John Maynard Keynes previu que estaríamos trabalhando apenas 15 horas por semana, por conta dos avanços tecnológicos e dos ganhos de produtividade. Porém, quando olhamos ao redor vemos o oposto disso: um mundo adoecido, pessoas sobrecarregadas e trabalhando mais e não melhor. 

A hustle culture, que valoriza o workaholism, resultados ambiciosos e estarmos sempre conectados não tem sido uma cultura produtiva. Estamos sobrecarregados, ansiosos e estressados, mas não somos produtivos. Trabalhamos muito, mas mal.

Há excesso de reuniões, de distrações (somos interrompidos a cada 11 minutos), de processos manuais e de mau uso da tecnologia e da comunicação. Isso tem gerado uma produtividade de somente duas a três horas por dia.

Por que então mantemos a jornada de trabalho de cinco dias por semana sem mudar nada, sendo que os indicadores são ruins, tanto em produtividade quanto em saúde mental? Será que não podemos fazer diferente?

Crédito: Mikkel William/ iStock

O piloto da semana de quatro dias realizado pela 4 Day Week Global vem, nos últimos anos, questionando tudo isso e mostrando que é possível reduzir a jornada de trabalho e aumentar a produtividade, além de diversos ganhos para a saúde mental dos participantes, como redução do burnout, estresse e ansiedade, além de ganhos para a marca empregadora, como maior retenção e atração de talentos.

Tem sido um retorno positivo para todos, inclusive para a sociedade, aumentando a equidade de gênero, quando homens heterossexuais que passaram a trabalhar somente quatro dias começam a ajudar nos afazeres domésticos e na paternidade. 

Mas além do desafio da mentalidade hustle, há ainda outro obstáculo para a semana de quatro dias: é preciso redesenhar a jornada de trabalho e aprender a trabalhar melhor. A inteligência artificial entra como peça fundamental desse redesenho.

Por que mantemos a jornada de cinco dias sem mudar nada, sendo que os indicadores são ruins, tanto em produtividade quanto em saúde mental?

Um exemplo de sucesso desse redesenho foi a Microsoft Japan, empresa em um país com a cultura do karochi (morte por excesso de trabalho), que aumentou em quase 40% a produtividade com a semana de quatro dias para seus 2,3 mil colaboradores.

A Microsoft focou em algumas mudanças práticas no redesenho da semana, a começar por regras para reuniões, visando reduzir a duração, a quantidade de participantes e trazer mais foco. Também promoveu a revisão de processos manuais que poderiam ser automatizados e do excesso de distrações durante o dia, melhorando a comunicação entre as pessoas. Não é somente tirar a sexta-feira, mas usar a tecnologia para um melhor desempenho no trabalho. 

Os chatbots, como o ChatGPT e o Bard, podem gerar um ganho de produtividade e permitir que as pessoas se concentrem no que fazem de melhor.

Ao cuidar de tarefas repetitivas e menos significativas, a IA permite que os colaboradores usem seus dons e talentos de maneiras mais criativas e estratégicas. Isso ajuda a reduzir a carga semanal para 32 horas, mantendo os resultados planejados pela empresa.

Mas, na prática, como a IA pode ajudar a aumentarmos nossa produtividade?

  • Produção: a IA pode ser usada para escrever conteúdos, discursos, pesquisas, pautas de reuniões, desenvolvimentos tecnológicos, entre outros.
  • Análise de dados: a IA pode ajudar a resumir e organizar dados, resolvendo a parte operacional e deixando o trabalho mais estratégico para os colaboradores.
  • Organização e planejamento de tarefas e gestão do tempo: a IA ajuda a planejar melhor e organizar a semana.
  • Decisões estratégicas: a IA pode trazer um olhar diferente para analisar negócios, estratégias e planos. 
  • Codificação: a IA pode ajudar a resolver problemas e corrigir erros de codificação. 
  • Melhor uso das reuniões: a IA pode ajudar a escrever pautas previamente, para deixar reunião com mais foco.
  • Trabalho em comunidade, com ferramentas como Notion: podemos usar a IA para construir conteúdos que sejam compartilhados com outras áreas e pessoas.

A verdade é que as possibilidades são inúmeras. Por mais que tenhamos medo do mau uso da inteligência artificial, com a possibilidade de menos privacidade e risco de deepfakes, o bom uso pode nos trazer ganhos incalculáveis em produtividade.

A Microsoft Japan aumentou em 40% a produtividade com a semana de quatro dias para seus 2,3 mil colaboradores.

É um caminho sem volta, assim como a construção de uma nova jornada de trabalho mais saudável, mesmo que em ambos os casos tenhamos aqueles que lutam contra a mudança. 

A Reconnect Happiness at Work está trazendo ao Brasil o piloto da semana de quatro dias, em parceria exclusiva com a 4 Day Week Global.

Não será do dia para a noite a transformação. Há ainda muito ceticismo e dúvidas, mas a verdade é que, na maior parte das vezes, são mitos e crenças fortes que carregamos. Acreditamos que é preciso trabalhar muito para gerar resultados, sem entender que há novas possibilidades para trabalharmos melhor.

O modelo adotado é o 100-80-100™: 100% de pagamento do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade. É bom para a empresa, bom para os clientes e bom para os colaboradores. E, no fim, bom para a sociedade.

Podemos esperar de forma passiva o mundo mudar, lutar contra as mudanças ou ajudar a mudá-lo. O que você está fazendo?

"Seja a mudança que você quer ver no mundo."

Mahatma Gandhi


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora da Reconnect Happiness At Work, empresa especializada em Felicidade Corporativa e Liderança Positiva, que t... saiba mais