Bye bye american dream? A hora e a vez da China

O mundo está aberto e desejando marcas e produtos chineses, que parecem ser aspiracionais pela primeira vez

Créditos: Jitalia17/ Emmeci74/ Getty Images

Daniela Klaiman 5 minutos de leitura

Este é o meu debut por aqui, e já chego fazendo um convite: vem ser futurista comigo? Sou Daniela Klaiman, futurista, estrategista e fundadora da FutureFuture, uma consultoria especializada em ajudar empresas a planejar o futuro dos negócios e negócios do futuro.

Com quase 20 anos de experiência em tendências de comportamento e mercados, meu objetivo é formar mais pessoas e líderes com o poder de enxergar o que está por vir.

Nesta minha estreia como colunista da Fast Company Brasil, quero levar você aos bastidores de como se constrói uma visão de futuro. Vou mostrar como conectar pontos e interpretar sinais para identificar o que está por vir com clareza e precisão.

Ao longo desta coluna, vou trazer exemplos reais, cases de mercado e caminhos estratégicos aplicados a diferentes setores, sempre combinando tecnologia e comportamentos emergentes. Afinal, o futuro não existe e quem aprende a enxergá-lo com método tem o poder de moldar o que vem a seguir.

Para o meu primeiro texto, escolhi um tema que está quente tanto para mim quanto para o mundo: a China. Acabo de voltar de uma imersão de seis meses nesse país incrível e posso garantir que o mundo está mudando de eixo.

Quando olhamos para os grandes movimentos geopolíticos, culturais e econômicos, é impossível não perceber que os Estados Unidos estão, aos poucos, perdendo o centro da narrativa global. Essa mudança não é pequena – ela afeta tudo: dos ícones culturais e marcas que consumimos às tecnologias que desejamos e às referências que aspiramos. 

O poder está mudando de mãos, e não é mais só uma questão de economia ou política, mas uma transformação sistêmica gigante.

CHINA’S SOFT POWER

O mundo está mudando. A hegemonia dos EUA, que por muito tempo foi vista como símbolo de valores, economia e lifestyle, está enfraquecendo. Estamos vendo uma real competição de potências que nunca foi tão intensa.

Economicamente, o dólar está perdendo força, com países buscando alternativas ao sistema financeiro dos EUA, como as transações em yuan. Culturalmente, o domínio do “american way of life” também já não é mais absoluto. Novas influências  ganham espaço e, entre elas, a China tem se destacado de forma impressionante.

Por anos, a China foi vista como a "fábrica do mundo", local onde produtos baratos eram produzidos para o resto do planeta. Mas essa visão está mudando rapidamente. A China exporta mais do que apenas produtos: ela exporta cultura, estilo de vida e tendências. 

Labubu em paisagem de praia
Crédito: Pop Mart

O que vemos é o surgimento de marcas chinesas que não só competem com gigantes globais, mas as superam em alguns aspectos. A China virou aspiracional.

Exemplos não faltam: marcas de brinquedos como Labubu e Popmart, que começaram na China, estão agora dominando mercados fora do país e superando concorrentes globais. No setor de carros elétricos, a BYD se tornou um nome de peso, com vendas que superaram 1,8 milhão de veículos em 2023, colocando a marca como uma das líderes mundiais no setor

A China não está mais vendendo produtos baratos. Está vendendo uma nova visão de futuro e a estética “China core” – que mistura luxo, tecnologia e tradição com um toque pop – está dominando as redes sociais e gerando uma nova tendência global.

VAI UM CAFÉZINHO CHINÊS?

Um dos maiores exemplos dessa revolução é a Luckin Coffee. A marca, que começou sua trajetória como um competidor agressivo da Starbucks na China, agora está conquistando o mundo.

Com mais de 22 mil lojas na China e US$ 6,2 bilhões em vendas em 2024, a Luckin Coffee está agora entrando no mercado norte-americano, com sua estreia em Nova York, onde já conta com ótima aceitação. Quem diria.

O que a torna uma ameaça tão real para gigantes como a Starbucks? O segredo está no seu modelo de negócios ultradigitalizado e na experiência que oferece ao consumidor.

A Luckin Coffee não é apenas uma marca de café, é uma revolução na forma como consumimos. Seu app permite pedidos sem filas, a qualquer momento do dia, com preços mais acessíveis e uma experiência personalizada que atrai um público jovem, dinâmico e conectado. 

cafeteria Lucking Coffee em Changi, na China
Crédito: Reprodução/ Instagram

Enquanto a Starbucks tem cerca de 15 mil lojas nos EUA e viu suas vendas estagnarem nos últimos anos, a Luckin Coffee tem expandido de forma impressionante, conquistando uma base de clientes fiéis em tempo recorde.

Não é apenas sobre preços mais baixos; é sobre eficiência e experiência. Sua estratégia de operação digital-first permite que a empresa opere de maneira mais ágil e rápida que suas concorrentes ocidentais. 

Com a utilização de dados e inteligência artificial, a Luckin Coffee ajusta rapidamente seus sabores e ofertas para manter os consumidores sempre satisfeitos. Além disso, sua operação “sem fricção”, sem espera e sem filas, transforma a experiência do consumidor.

A Luckin Coffee é um exemplo claro do que está por vir, com um modelo de negócios mais flexível, conectado e acessível. É isso que ameaça marcas mais consolidadas.

O FUTURO DA CHINA: MAIS DO QUE UMA POTÊNCIA ECONÔMICA

O caso da Luckin Coffee é apenas um dos muitos exemplos que mostram como as marcas chinesas estão desafiando as gigantes ocidentais e criando novas expectativas de consumo.

A novidade é que, desta vez, o mundo está aberto e desejando marcas e produtos chineses, que parecem ser aspiracionais pela primeira vez. Assim, à medida que essas marcas continuam a crescer e a expandir seus horizontes, fica claro que a China está na vanguarda da próxima revolução global. 

O american dream pode estar perdendo seu brilho, mas o China dream está apenas começando. E promete não apenas desafiar, mas redefinir o futuro do consumo, da tecnologia e dos negócios.

Estamos vendo o nascimento de um novo modelo global, com a China liderando o caminho e transformando a ordem mundial como a conhecemos.


SOBRE A AUTORA

Daniela Klaiman é um dos principais nomes do futurismo no Brasil e na América Latina. Ela é CEO da Future Future, consultoria especial... saiba mais