A nova regra do jogo: carreiras mais longas, ambientes mais diversos

O futuro do trabalho não será mais sobre juventude ou experiência, mas sobre convivência, troca e complementaridade entre gerações

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Mórris Litvak 4 minutos de leitura

À medida que vivemos mais, nossas trajetórias profissionais se expandem – e as empresas precisam acompanhar essa mudança, repensando cultura, gestão e inclusão geracional.

Não é mais novidade que estamos vivendo mais. Mas o que nem todo mundo percebe é o impacto profundo que isso tem nas nossas vidas profissionais. Se antes a carreira se concentrava em 30 ou 35 anos, hoje ela pode durar 50 anos ou mais. E isso muda tudo.

Estamos diante de uma nova regra do jogo: as carreiras estão mais longas, o mercado mais diverso em idades e os modelos antigos de gestão simplesmente não dão conta dessa complexidade. Quem não entender isso corre o risco de perder relevância, produtividade e inovação.

Segundo o IBGE, em 2030, o Brasil terá mais pessoas acima dos 60 anos do que crianças até 14. Ou seja, o “país jovem” já não é realidade. E o mercado de trabalho precisa se adaptar.

O FIM DO MODELO LINEAR

Por décadas, seguimos um modelo profissional quase automático: estudar, trabalhar, aposentar. Tudo em linha reta. Mas essa linha está se esticando – e se curvando.

Hoje, vemos pessoas de 50, 60, 70 anos querendo (e podendo) continuar ativas. Seja empreendendo, mudando de área ou buscando novos aprendizados. Ao mesmo tempo, vemos jovens entrando no mercado com a expectativa de mudar de rota várias vezes.

A carreira deixou de ser linear. Tornou-se cíclica, fluida e mais longa. E isso exige um novo olhar das empresas.

A GERAÇÃO DA TRAVESSIA

Entre os que mais sentem essa mudança estão as pessoas que hoje têm entre 40 e 55 anos. Elas cresceram ouvindo que o sucesso era conquistar estabilidade o mais cedo possível, mas agora vivem uma realidade que exige flexibilidade, reinvenção e atualização constante.

Essa geração está no meio do caminho: viu o mundo analógico virar digital, o emprego vitalício se transformar em múltiplas carreiras e o tempo de contribuição virar tempo de transição. Por isso, também é uma geração com grande potencial de protagonismo – se tiver o suporte certo.

QUATRO GERAÇÕES (OU MAIS) NO MESMO TIME: DESAFIO OU OPORTUNIDADE?

Nunca tivemos tantas gerações convivendo ao mesmo tempo nos ambientes de trabalho. E isso pode ser um caos ou uma potência.

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O desafio está em lidar com diferentes ritmos, repertórios e estilos de comunicação. Mas a oportunidade está em combinar experiências: a ousadia dos mais jovens com a visão estratégica dos mais velhos, a fluência digital com a sabedoria analógica.

Um estudo da McKinsey mostra que times diversos – incluindo diversidade etária – têm até 35% mais chances de superar seus concorrentes em performance. Incluir todas as idades é também uma decisão de negócios.

EXEMPLOS QUE INSPIRAM

Felizmente, já existem empresas que estão entendendo essa mudança. Grandes corporações como Assaí, L'Oréal Brasil, TIM, Livelo, Eurofarma e Banco BMG têm desenvolvido programas de contratação, capacitação e retenção de talentos 50+, inclusive com metas afirmativas e programas intergeracionais (veja aqui sobre o selo Age Friendly Employer).

Na Maturi, temos acompanhado de perto esse movimento, com iniciativas que mostram que é possível – e necessário – mudar a mentalidade do RH para incluir o tempo como dimensão da diversidade. E os resultados vão além dos números: há ganhos reais em cultura, inovação e reputação. Veja mais cases de sucesso aqui.

LIFELONG LEARNING: A CHAVE PARA O NOVO MUNDO DO TRABALHO

Uma das principais ferramentas para navegar nessa nova era é o aprendizado contínuo. O chamado lifelong learning precisa deixar de ser tendência para virar prática real.

E aqui, novamente, todas as idades importam: jovens aprendem a se desenvolver com mais consistência, enquanto os mais velhos podem se reinventar, dominar novas tecnologias e manter sua relevância no mercado. Educação ao longo da vida não é luxo, é condição básica para carreiras mais longas.

O QUE PRECISA MUDAR NAS EMPRESAS

Para acompanhar essa transformação, as empresas precisam ajustar três pilares:

Nunca tivemos tantas gerações convivendo ao mesmo tempo nos ambientes de trabalho.

- Cultura: abandonar o etarismo disfarçado de “fit cultural” e valorizar o protagonismo em todas as fases da vida.

- Gestão de pessoas: rever programas de carreira, sucessão, desenvolvimento e até benefícios para abranger ciclos mais longos e rotas menos previsíveis.

- Ambiência: criar espaços (físicos e simbólicos) onde todas as idades se sintam pertencentes, com escuta, respeito e oportunidades reais. Ou seja, promover a integração geracional de forma ativa.

A revolução da longevidade já começou, e ela não diz respeito apenas aos 50+, mas a todos nós. Porque todos, cedo ou tarde, vamos envelhecer. E queremos continuar tendo valor, oportunidades e espaço.

Se as carreiras estão mais longas, os ambientes também precisam se tornar mais generosos.

Mais diversos.

Mais preparados para essa nova era.

O futuro do trabalho não será mais sobre juventude ou experiência, mas sobre convivência, troca e complementaridade entre gerações. E esse futuro já começou.


SOBRE O AUTOR

Mórris Litvak é fundador e CEO da Maturi, plataforma líder no Brasil para profissionais 50+. Engenheiro de Software pela FIAP, com pós... saiba mais