Como as tendências apontadas no SXSW podem impulsionar negócios de afroempreendedores


Adriana Barbosa 5 minutos de leitura

Em março, a convite do governo de São Paulo, estive em Austin, no Texas, para compor a mesa de abertura do SP Day, programação que fez parte do festival South By Southwest 2022. Foi a minha primeira vez no tão famoso SXSW, quando pude dialogar sobre o poder do Black Money e sobre como a inclusão se fortalece por meio do empoderamento econômico. Ainda estou em êxtase com tudo o que vi, aprendi, compartilhei e vivenciei, e quero passar isso adiante, para que outras pessoas, mesmo que minimamente, tenham contato com as premissas deste evento tão rico em conteúdo. Borá lá? Não poderia ser diferente. Enquanto agente de transformação, se é que posso me intitular assim, carrego comigo há pouco mais de 20 anos o quanto essa rede de apoio e circulação do capital entre os nossos como fonte de energia, literalmente, é potente. Em paralelo, o quanto a premissa de incluir não excluir – bem como salienta a Feira Preta, anualmente – pode ser um divisor de águas quando pensamos em empreender e isso se consolida, ainda mais, quando fazemos o recorte de raça e gênero. O SXSW é considerado um dos maiores festivais de inovação do mundo. Contribui para o desenvolvimento de novos olhares, que reverberam nos mais diversos temas, desde inteligência artificial a mudanças climáticas; é algo de extrema importância. Estar neste espaço, com muita gente grande, reafirmou para mim, mais uma vez, o quanto o meu propósito como afroempreendedora e o dos inúmeros projetos que me propus a fazer é gigante.Afinal, pude falar de nossa criatividade, nossas rotas de fugas e de uma economia especializada, que considera a conexão com nossos lugares de partida por uma ótica não só do ativismo, mas também de urgência e humanização. O Black Money é isso, um mecanismo para traçar novas possibilidades, assim como o objetivo do SXSW.Furando a bolha masculina da inovação, o festival este ano foi todo das mulheres. Em uma área na qual a lente feminina ainda é tão tímida, a mulherada esteve na linha de frente, refletindo e propondo coisas de alto nível, não só para os seus respectivos ecossistemas, mas também para o todo. Ouso dizer que contrariei mais uma estatística ao ecoar a minha voz em um evento com um público de perfil tão distante do meu. Mas vejo que há muito para avançar, ainda.

a premissa de incluir não excluir pode ser um divisor de águas quando pensamos em empreender.
Eu não era a única, tinha mais dos meus. No entanto, o Brasil foi a segunda maior delegação do festival e poucos negros brasileiros conseguem acessar um evento que fala de inovação, diversidade e criatividade. Ainda que seja tudo em inglês e com ingressos caríssimos, a iniciativa pode se transformar em uma plataforma acessível para a inserção da diversidade e não só ter diversidade nos palcos e nos discursos. Não faltam personalidades com expertise no assunto que possam se debruçar criticamente sobre ele. Recorro a alguns insights que tive ao longo dessa jornada intensa, o primeiro deles, a tão inovadora tecnologia. Não é de hoje que ela tem um papel de facilitadora – convenhamos, tudo ficou mais fácil com sua rapidez e agilidade. Atualmente, ela tem um papel ainda mais disruptivo. Com os avanços tecnológicos, dia após dia, sua base não intensifica as desigualdades, mas contribui de maneira especializada para a inclusão social. Um exemplo é o World Food Program, da ONU, que, por meio da tecnologia, está ajudando a diminuir a fome mundial. Coisas que fazem a diferença no final do dia.Com esse olhar da tecnologia, em conexão com o metaverso, uma das tendências do momento, há uma vasta gama de possibilidades para o desenvolvimento de negócios de afroempreendedores. No caso da Feira Preta, um evento presencial, a tecnologia pode nos auxiliar no quesito estrutura, ou seja, evitar o incômodo de filas, cadastramento, alimentação, ações e shows. Tudo isso pode ser feito por meio de um app. Assim como a tec teve papel importante nas edições anteriores em formato online. Devemos ficar atentos e com o radar ligado para entender como a tecnologia vai impactar nosso mercado e como evitar um apartheid digital. Como transformar o metaverso em algo acessível e inclusivo para o maior número de pessoas e não só para comunidades tecnológicas? Deixo aqui para refletirmos. Outro ponto interessante que me atravessou: o presencial como celebração à vida. 
Devemos ficar atentos para entender como a tecnologia vai impactar nosso mercado e como evitar um apartheid digital.
Nos últimos dois anos, com a maior crise sanitária de todos os tempos em ascensão, realizamos todo o Festival Feira Preta em formato online. Confesso que não perdemos em qualidade, mas nada se compara com a energia, a agitação e o frio na barriga do presencial. Após dois anos abraçando a galera virtualmente, a Feira Preta volta em sua versão tradicional. “O presencial como celebração à vida” nunca fez tanto sentido. Afinal, nada é tão mais rico quanto o poder dos encontros, celebrar não só a vida, mas as adversidades vencidas durante essa caminhada árdua e, claro, a nossa rica cultura afro. Ou seja, o tête-à-tête nunca deixará de ser especial, viu? O caos pandêmico nos deixou uma lição: quanto mais estamos inseridos neste mundo digital, mais sentimos falta de contato, de calor humano. É um paradoxo complexo, eu sei!Agora é o melhor momento para criar ações que impactem no outro, que tragam um novo sentido, que fortaleçam vínculos. Em paralelo, mais do que antes, devemos ter um olhar mais crítico quando formos desenvolver algum projeto novo, por exemplo. Afinal, não dá para agirmos igual a antes da pandemia. O contexto atual traz um processo de repactuação do que estamos enxergando como tendência. A tendência precisa se reverter em ação de impacto.Ou seja, aquilo que foi previsto como tendência, como futuro, precisa ser redesenhado com a complexidade da pandemia. O futuro precisa ser de regeneração e de corresponsabilidade. Todos devemos nos responsabilizar com a regeneração. Acredito que isso também está altamente ligado à sigla ESG. Não é mais apenas uma sugestão, é premissa básica. Ter consciência social configura as coisas. Este texto é de responsabilidade de seu autor e não reflete, necessariamente, a opinião da Fast Company Brasil.

SOBRE A AUTORA

Adriana Barbosa é fundadora da Feira Preta, evento de cultura e empreendedorismo, e CEO da PretaHub. Foi apontada pelo Fórum Econômico... saiba mais