Como o modelo de governança DAO pode mudar o futuro das empresas?


Thiago Baron 5 minutos de leitura

O modelo de governança DAO, sigla em inglês para sistema de governança descentralizada, vai na contramão da proposta tradicional, onde há uma rígida hierarquia, regras igualmente travadas e poder de fala para poucos.

Sai a figura do empreendedor que, do alto da sua genialidade, ergue a empresa à sua imagem e semelhança, como Steve Jobs. E, também, administra a empresa conforme sua vontade. Cai fora a figura do líder de equipe que concentra em si a palavra final e a responsabilidade pelo sucesso de cada projeto.

O principal paradigma da governança DAO é que pessoas com interesse comum em criar juntem forças e compartilhem responsabilidades e direitos da forma mais democrática possível. A forma encontrada amplia alguns conceitos da economia compartilhada, que gerou empresas tão presentes no nosso dia a dia como Netflix e Uber.

Por dentro de uma empresa com governança DAO

A chave para compreender todas as possibilidades trazidas pela governança DAO está no fato de ela estar baseada no blockchain. Assim, todas as decisões e ações são tomadas em um ambiente online, onde todos os participantes da organização têm acesso e lugar de fala.

Essa mudança de perspectiva gera ambientes de trabalho mais sustentáveis e felizes, uma vez que todos os envolvidos são, de fato, ouvidos durante a tomada de decisão, que é coletiva.

Como a visibilidade é algo predominante no modelo de governança DAO, na prática sai de cena o chefe que rouba a ideia do subordinado. E puxar saco não faz o menor sentido nesse sistema. Por outro lado, saem ganhando aqueles que se esforçam e entregam bons trabalhos, mas que têm dificuldade de tomar a palavra em uma reunião para vender o seu peixe.

A chave para compreender as possibilidades trazidas pela governança DAO está no fato de ela estar baseada no blockchain.

Outro ponto positivo das organizações descentralizadas é que elas forçam os colaboradores a agir como líderes. Isso acontece porque eles têm maior autonomia e o próprio ambiente prioriza uma maior capacidade de resposta. Portanto, eles precisam agir de forma decisiva.

Também passa a ser coisa do passado a dependência que a companhia tem do CEO: quando há troca de cadeiras, quem assume já é alguém conhecido pela comunidade daquela DAO. Isso gera menos instabilidade interna e externa.

Gestão mais eficiente

Ao mesmo tempo que a governança descentralizada empodera o indivíduo, a gestão das equipes continua tendo um papel bastante importante na empresa.

O modelo de gestão enxuta vem de encontro a essa proposta porque evita o microgerenciamento, ou a concentração da autoridade em alguém. O foco está mais em promover as condições adequadas para que mesmo os membros com funções mais baixas possam expressar sua criatividade.

A adoção de métricas e outros indicadores de performance também se torna mais simples porque não existe a figura de um executivo em cada pequena decisão que precisa ser tomada.

Outro ponto positivo das organizações descentralizadas é que elas forçam os colaboradores a agir como líderes.

Essa flexibilidade permite que as pessoas possam escolher as funções pelas têm paixão ou afinidade, em vez de seguir uma carreira padrão. E os que têm verdadeira vocação para liderança encontram oportunidade para desenvolver essa habilidade e ocupar esses espaços.

Projetos de empresas DAO têm maior credibilidade

A palavra de ordem no mercado hoje é tornar um produto ou serviço escalável. Vamos combinar que é mais fácil falar do que fazer. A coisa fica ainda pior quando se pensa em uma empresa tradicional, com sua hierarquia rígida e a necessidade de que um projeto seja aprovado por várias diretorias. Você já deve ter visto muitos projetos morrerem antes de nascer por conta disso.

Em uma empresa descentralizada, as mudanças acontecem com maior agilidade e a capacidade de escalar também, porque cada setor atua como uma célula. É como se cada time dentro de uma DAO fosse uma startup bem financiada, com total liberdade para apresentar suas ideias criativas e experiência para o restante da comunidade.

Dessa forma, cada equipe em expansão pode customizar os produtos e serviços de forma mais rápida, resultando em mais vendas e em uma conexão mais próxima com os consumidores.

Como é a participação dos membros numa empresa DAO?

São comuns no mercado discussões nas quais um acionista majoritário de uma grande empresa questiona decisões tomadas pelo conselho diretor ou pelo CEO da companhia. As recentes queixas do presidente Bolsonaro sobre o preço dos combustíveis fornecidos pela Petrobras é um dos exemplos mais recentes nesse sentido.

Pequenos acionistas ressentem-se de não serem ouvidos

Em uma empresa descentralizada, as mudanças acontecem com maior agilidade porque cada setor atua como uma célula.

com ainda maior frequência e muitos casos vão parar na Justiça. A governança descentralizada proposta pelo DAO supera essas crises ao dar direito de voto a todos os participantes, de acordo com sua participação no blockchain.

Por outro lado, correções de rota no negócio como um todo tendem a ser mais lentas, dada a amplitude de votantes. Para que uma proposta seja aprovada, seus defensores têm que apresentar dados sólidos e convencer a maioria.

Decisões e atribuições compartilhadas

Transparência costuma ser uma palavra que fica restrita ao documento que apresenta os valores da empresa. Na governança DAO, inegavelmente, ela está no core do negócio. Está desde o código no qual o contrato inteligente está inscrito, passando pela participação na gestão propriamente dita do negócio, de modo que cada membro possa acompanhar o que é feito.

Faz ainda mais sentido essa prática se considerarmos a questão do ESG nas empresas, ao mesmo tempo que dá mais segurança para quem está iniciando sua jornada no empreendedorismo cripto.

Já existem empresas do tipo DAO de colecionadores de arte digital (NFTs), de protocolos financeiros descentralizados, de especialistas jurídicos no ambiente cripto, entre outras. E isso é só o começo.


SOBRE O AUTOR

Thiago Baron é o founder e chief creative officer da DOJO. Formado em Design e pós-graduado em Semiótica, tem 20 anos de experiência c... saiba mais