Como viver com sentido e realização em tempos de felicidade instantânea
Todo mundo quer ser feliz. Aristóteles, em Ética a Nicômaco, falou: "A felicidade é o sentido e o propósito da vida, o único objetivo e finalidade da existência humana."
Em todas as nossas escolhas, no fundo, estamos buscando a felicidade.
Porém, ao olharmos ao redor, vemos o oposto desse cenário:
- Mais de 300 milhões de pessoas no mundo estão ansiosas (fonte: OMS);
- No Brasil, 33% enfrentam transtornos mentais em níveis graves ou extremamente graves (fonte: Vittude);
- O Reino Unido e o Japão criaram o Ministério da Solidão. 24% da população global se sente muito ou razoavelmente solitária, o que representa aproximadamente 1 bilhão de pessoas (fonte: Gallup).
Mas por que estamos tão infelizes?
Um dos aspectos mais relevantes é o vazio existencial no qual vivemos hoje. Construímos uma sociedade que se anestesia e busca preencher esse vazio com dopamina rápida. Então, hoje somos viciados em redes sociais, compras, entretenimento superficial, telas. Vivemos o hedonismo moderno e seguimos incessantemente tentando encontrar a felicidade nesta dopamina rápida que não vai trazer plenitude às nossas vidas. Abundância de prazer na mesma medida do vazio que nos circunda.
Outro aspecto importante é que temos uma mente divagante. Segundo estudo de Harvard, passamos cerca de 47% do tempo divagando. Como ser feliz com esta falta de presença? Certamente difícil. É preciso entender quais são os gatilhos internos e externos que te distraem. E combatê-los, pois essa falta de presença tem nos afastado do que realmente importa para a nossa felicidade.
Se tudo é sempre prioridade, nada é prioritário. Essa forma de viver acelerada só tem nos adoecido.
Além disso, temos um viés negativo e nosso cérebro segue buscando ameaças nos ambientes. Isso nos fez sobreviver e lutar ou fugir das ameaças que vivemos como humanidade. Mas em pleno século 21, a inteligência emocional deveria ser uma construção nossa e não somente reagir às adversidades com nosso cérebro reptiliano. Esse nosso cérebro mais primitivo não nos traz cognição, atenção plena e capacidade de lidar complexos e abstratos que vivemos nesta sociedade moderna.
E, por fim, criamos esta cultura hustle, em que tudo é urgente e importante. Porém, se tudo é sempre prioridade, nada é prioritário. Essa forma de viver acelerada só tem nos adoecido e, no final, nem produtividade nos traz. Vivemos atualmente, o que Cal Newport chama de pseudo-produtividade: estamos ocupados e não produtivos. E no fim, infelizes.
Então, se quisermos ser felizes é preciso entender a felicidade como uma ciência que precisa de alguns fatores:
- Intenção
Felicidade é construção, sem romantizar, pois estou falando para quem tem as necessidades básicas atendidas. E para quem tem, felicidade não é vida perfeita, 24h de alegria, uma vida hedônica sem fim. Tem muito mais a ver com escolhas, hábitos, comportamentos, relações. A intenção é a primeira chave desta jornada.
- Autoconhecimento
O segundo ponto é que precisamos entender quem somos, o que estamos buscando, o que nos traz realização e significado. Ninguém vai saber sobre isso além de você. Se você não souber, vai seguir o que é imposto pela sociedade e provavelmente continuará na dopamina rápida para ser feliz.
- Autorresponsabilidade
Ninguém vai fazer por você. Eu comparo muito a felicidade com a nossa saúde. Eu posso ter uma predisposição à alguma doença, mas se mudar hábitos e atitudes posso ser saudável. Felicidade é a mesma coisa. Temos um ponto de partida genético, mas podemos ir além do que recebemos em nosso DNA. Podemos fazer escolhas e construir uma vida com melhores relacionamentos, sentido e realização.
- Disciplina
Todo dia precisamos fazer uma escolha. Posso deixar a vida me levar ou assumir a disciplina de construir a vida que me faz bem.
É preciso construir. Felicidade é simples e é uma jornada. Depende de intenção, autoconhecimento, autorresponsabilidade e disciplina.
Ou seja, não é o ano novo que vai trazer a vida que te faz feliz. Não serão os planetas que magicamente mudarão sua vida ou simplesmente esperar por uma promoção, um novo amor, melhores condições. É preciso construir. Felicidade é simples e é uma jornada. Depende de intenção, autoconhecimento, autorresponsabilidade e disciplina.
E não virá de novas compras, likes ou seguidores. Mas de uma vida com mais realização, significado, desafios que façam sentido e um grupo de apoio.
Deixo aqui então as seguintes reflexões:
- O que te desafia e o que você quer buscar em 2025?
- Como tem cultivado suas relações e o que podemos melhorar?
- O que te realiza e traz sentido? Suas escolhas estão alinhadas com seus valores?
Desejo um feliz 2025!