Competir ou cooperar?
Competir ou cooperar? Qual dessas estratégias garante melhores resultados nos negócios, na vida pessoal, na sociedade e na dinâmica da própria evolução da vida?
Estamos acostumados a elogiar os que são mais "competitivos”, os que nunca desistem da batalha, os que se superam no mundo corporativo, aqueles que "vencem" na vida!
Darwin tem alguma responsabilidade por essa perspectiva, mesmo que nunca tenha dito, de fato, que quem sobrevive é o mais forte. Mas, é inegável que, por trás da ideia central de “A Origem das Espécies” e da teoria da evolução por meio da seleção natural, está a de que os seres vivos, todo o tempo, estariam lutando uma batalha sangrenta para sobreviver.
Morte, extermínio e seleção em uma grande guerra de todos contra todos.
Para muitos dos defensores da teoria de Darwin, a aparente harmonia apenas esconde – e mal – a luta de um indivíduo contra outro indivíduo e de todos contra o meio. E, de fato, existe muita competição na natureza, mas há muito mais cooperação.
as primeiras células, há mais de dois bilhões de anos, só deram origem a organismos mais sofisticados por conta da capacidade de se aliarem e se misturarem.
Isso se dá, essencialmente, por pragmatismo da "inteligência natural". A natureza é obcecada por otimização e por economia. Ela não gasta um grama a mais de energia ou de matéria do que o necessário para garantir os melhores resultados. E competir gasta muita energia. Por isso, esse é um recurso efetivamente usado em situações específicas.
O balanço fino entre competição e cooperação nas dinâmicas da vida é o que garante o intrincado e precioso equilíbrio ecológico.
Uma enorme parte dos problemas que vivemos hoje como espécie, nos quais acabamos envolvendo e ameaçando tantas outras no planeta, tem a ver exatamente com a quebra desse equilíbrio fino. Isso aconteceu quando deixamos aflorar em nossa trajetória evolutiva uma motivação particular: a ganância.
Ela contribuiu para introduzir em nossas dinâmicas sociais e culturais ideias e valores incompatíveis com alguns dos princípios que regem a vida, como, por exemplo, a ideia de crescermos infinitamente em um planeta finito.
Sérgio Besserman, um amigo que muito admiro, diz que essa só pode ser ideia de um idiota ou de um economista. Nada cresce infinitamente na natureza, com exceção de um câncer que acaba, muitas vezes, matando o hospedeiro. Parece ser exatamente essa a iminência que nos assombra no horizonte.
ENDOSSIMBIOSE
Em 1981, uma nova perspectiva sobre o processo evolutivo foi apresentada ao mundo por uma cientista genial, a bióloga Lynn Margulis: a teoria da endossimbiose.
Diferentemente de Darwin, que não tinha microscópios poderosos e acabou concentrando suas observações em formas de vida animal e vegetal de maior escala, ela mergulhou no mundo do micro e descobriu que a origem e o sucesso da vida nesse planeta se devem essencialmente à cooperação, à simbiose, ao encontro.
A pesquisadora descobriu que as primeiras células, há mais de dois bilhões de anos, só deram origem a organismos mais sofisticados por conta da capacidade de se aliarem e se misturarem.
Nossas células são, cada uma delas, uma comunidade. Uma comunidade de entidades vivas que já foram independentes, como as mitocôndrias, que em uma intrincada relação simbiótica passaram a fazer parte das nossas células primordiais.
Para Margulis, a vida começou com uma aliança entre vidas distintas. Segundo sua teoria, as maiores novidades surgem a partir da cooperação. Ela percebeu que a atração, a união, a fusão, a incorporação, a coabitação ou a recombinação levam a natureza a se diversificar. Como ela escreveu: foi quando deixamos de ser independentes que evoluímos.
A ideia de que somos indivíduos é equivocada. Somos de fato uma enorme comunidade de genes onde a maioria é microbiana. Uma cooperativa de trilhões de células na qual apenas aproximadamente 15% são genes humanos.
Então, parece que já passou da hora de reconhecermos que a saída para a grande sinuca de bico em que nos metemos enquanto espécie precisa passar fundamentalmente pela cooperação.
O balanço fino entre competição e cooperação nas dinâmicas da vida é o que garante o intrincado e precioso equilíbrio ecológico.
Para isso, basta seguirmos a inteligência da natureza. A inteligência que vem do mundo micro revelado por Margulis. Ironicamente, a inteligência que sempre esteve presente na nossa própria natureza.
Foi a cooperação que viabilizou nossa evolução por meio da gigantesca capacidade de nos aliarmos em grandes grupos, de trabalharmos em conjunto em missões ambiciosas como chegar à Lua, construir pirâmides no deserto ou descobrir a cura de doenças. A união faz a força.
Os melhores exemplos desses feitos são resultado de mobilizações de grandes grupos de indivíduos e comunidades a partir de um propósito em comum, nos unirmos em nome de sonhos, ambições e desejos compartilhados. O propósito pode ser uma bandeira, pode ser a fé, um sonho sonhado por muitos ou, simplesmente, o instinto de sobrevivência.
Chegou a hora de usar todo o incrível repertório de talentos que acumulamos por meio das ciências, da arte, da cultura, da capacidade empreendedora que os negócios representam, da nossa força criativa, para nos comprometer radicalmente em redesenhar nossas prioridades e modo de vida.
É difícil imaginar um propósito mais mobilizador do que seguirmos desfrutando da incomparável oportunidade cósmica de viver nessa comunidade interdependente chamada Terra.