Contra dados, não há argumentos
Oi, talvez você ainda não me conheça, mas faço questão de estrear este espaço abrindo este espaço. Me chamo Pedro Cruz, represento os 56% de pessoas que se autodeclaram pretas no Brasil e, este ano, completei 30 anos de idade, o que me fez não entrar para várias estatísticas de um jovem negro brasileiro.
Sou nascido e criado no subúrbio carioca. Filho de Adriana Cruz e Neusa Pinto, que, juntas, fazem parte das cerca de 45% de famílias chefiadas por mulheres. Entrei na universidade através do programa Prouni, que me deu a oportunidade de ingressar no curso de Publicidade e Propaganda, em 2012. Uma jornada que completa dez anos de estrada atuando com muita intenção de gerar transformações sociais através da criatividade e inovação. O que me trouxe até a este momento, no qual recebo, com muita honra, o convite para ser um dos novos colunistas da Fast Company Brasil.
E imagino que você deve ter se perguntado por que usei tantos dados estatísticos e simbólicos nesta primeira apresentação. A resposta é simples: além de já entender que contra dados não há argumentos, tenho noção de que eles fizeram e fazem parte da história que tenho construído até chegar aqui. Eles representam e evidenciam uma exceção, a de jovens negros com repertórios semelhantes ao meu que ainda não ocuparam espaços como este. E eles apontam e dão luz ao caminho que decidi trilhar: construir cada vez mais pontes e conexões para que eu não continue sendo o único.
Além de entender que contra dados não há argumentos, tenho noção de que eles fizeram e fazem parte da história que tenho construído até chegar aqui.
Porém, mais do que analisar dados apenas pelo seu caráter numérico, optei por me apresentar assim como um convite a você, de quem recebo a honra de compartilhar este espaço, para analisar também suas perspectivas simbólicas e subjetivas, o que esses números isolados e fora de contexto talvez não consigam dar conta de explicar. Essas estatísticas foram fundamentais para que eu pudesse me desenvolver, tanto pessoal quanto profissionalmente.
Minha intenção é fazer com que você reflita o impacto por trás dos números quando desenvolve uma política de contratação que considere diversidade, equidade e inclusão como pilares fundamentais na formação dos seus times de trabalho. Mais do que isso, que leve também em conta índices de proporcionalidade com a realidade da população brasileira. Algo que aprendi com a querida Samantha Almeida: "que haja intencionalidade" nessas estratégias e escolhas. Porque você escolhe quando fazer ou não.
Felizmente, hoje não faço parte da média de 77% de jovens negros que perderam ou tiveram suas vidas roubadas nos últimos anos. Por isso, celebro este espaço que a Fast Company Brasil me abriu para que eu possa compartilhar com vocês um pouco do que acredito.
Aceito esta missão honrando a minha ancestralidade que fez isso ser possível, os que não conseguiram chegar até aqui e os que um dia ainda dividirão este espaço comigo. Agradeço a vocês pela confiança e admiração em ter cedido alguns minutos para esta leitura. "Pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto". Espero deixar aqui a minha contribuição para construirmos sociedades mais justas para todos, todas e todes.