IA e os ambientes criativos além do normal
Precisamos de espaços que aumentem nossa capacidade imaginativa, nossa capacidade de gerar ideias, de inovar
Todos conhecemos o conceito das moradias inteligentes, que personalizam temperatura, luzes, sistemas de áudio e vídeo por meio de internet das coisas, bluetooth e, hoje, uma boa dose de inteligência artificial.
É fácil imaginar escritórios inteligentes usando fundamentos parecidos, amplificando a busca pelo aumento da produtividade e pela otimização de tarefas.
No entanto, com o crescimento da importância da criatividade tanto no trabalho quanto no estilo de vida, vamos ter que pensar além da produtividade. Precisamos de espaços que aumentem nossa capacidade imaginativa, nossa capacidade de gerar ideias, de inovar. Vamos chamar esses espaços de ambientes criativos além do normal.
Para elaborar esse conceito, proponho fazermos, juntos, um exercício de construção de cenários futuros. Eu vou dando os prompts e vamos imaginando coletivamente. Que tal?
Prompt 1: Imagine um ambiente criativo
Pode ser um estúdio musical ou de produção audiovisual, o ateliê de uma artista ou um espaço de dança contemporânea. Vamos por ali.
Imagine um lugar no qual você sentiu realmente uma vibração criativa no próprio espaço, como se pulsasse naquele ponto uma energia inspiradora, provocadora, instigante. Já teve essa sensação? Então é desse espaço que estamos falando.
Eu penso logo nos estúdios da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde passei meus anos de formação. Ou no antigo edifício da Bauhaus Dessau de Walter Gropius, onde passei alguns meses pesquisando e inventando com outros designers, arquitetos e artistas, e onde muitos anos atrás (no início dos anos 2000), formulei meus primeiros cenários de ambientes criativos aumentados.
Será que, com algum grau de inteligência e autonomia, esses ambientes que imaginamos seriam, eles mesmos, capazes de criar obras de arte ou projetos de arquitetura, como seus ocupantes o fariam?
Prompt 2: Imagine um ambiente criativo que seja capaz de capturar e expor ideias geradas por meio de sua ocupação
Imagine um ambiente que pode aprender com as ideias e projetos aos quais foi exposto ao longo do tempo. Que retenha essa memória e possa revelar trechos desse conteúdo no contexto dos processos criativos de seus novos ocupantes, combinados com trechos de suas referências pessoais.
Pense nos estúdios de Abbey Road, inserindo os atuais ocupantes em caminhos de experimentação, linhas musicais e processos criativos inventados pelos Beatles há mais de 60 anos. Ou de Amy Winehouse, ou Lady Gaga.
Com aprendizado de máquina, inteligência artificial generativa e interfaces bem desenvolvidas, acredito que isso seja possível, hoje mesmo. Uma vez que as experiências incluam ambientes inteiros (e seus objetos) como plataformas, o resultado será extremamente interessante.
Pense em um novo habitante do sítio-ateliê de Burle Marx, ou da casa estúdio do casal Eames, mergulhando imediatamente em um diálogo aumentado pelo sistema, com os mestres e seus ambientes criativos. Incrível, não?
Prompt 3: Imagine um ambiente além do normal, que continue criando mesmo quando seus ocupantes estão ausentes
Sem a necessidade de um pedido direto. Que conecte essas ideias e seus criadores com outras ideias e outros criadores que eles jamais imaginaram existir.
Um ambiente muito diferente.
Não se trata de um cenário distante. Acredito que pode ser testado agora mesmo. No caso, um agente de inteligência artificial autônomo desenhado para o contexto pode coordenar os elementos construtivos e objetos transformados em interfaces e plataformas.
Prompt 4: Imagine um ambiente adquirindo uma certa atitude criativa
Maravilhoso ou assustador? Será que o ambiente pode se tornar, um dia, mais criativo do que o próprio ocupante?