Influencer sem propósito a onda leva

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Juliana de Faria 3 minutos de leitura

As redes sociais evoluíram de espaços para compartilhar crenças, pensamentos, sonhos, incômodos e diferentes maneiras de viver e pensar para se tornarem plataformas de projeção de carreiras, fama e abundância financeira.

Inicialmente, a simplicidade era a essência e a vida cotidiana e as conexões pessoais, o foco. A democratização do conteúdo permitia a qualquer um, independentemente de seu status social ou financeiro, compartilhar um pedaço de sua vida.

Com o passar do tempo, certos indivíduos começaram a se destacar não tanto por uma estratégia calculada, mas por sua autenticidade e habilidade em se comunicar.

As redes sociais passaram a ser não apenas sobre o que se fazia, mas quem se era – suas opiniões, estilos de vida e escolhas pessoais tornaram-se centrais. O que inicialmente era um compartilhamento descompromissado de ideias se transformou em uma construção de marca pessoal. E uma marca pessoal forte poderia significar maior comunidade, engajamento, trabalhos e dinheiro. 

Hoje, é mais trabalho do que diário. E os influenciadores enfrentam a constante pressão de fisgar a atenção do público, em uma tentativa até violenta de acertar nas tendências e manter-se relevantes. A exposição de detalhes pessoais, opiniões e preferências se tornou uma moeda de troca pelo engajamento.

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A atriz Deborah Secco, em entrevista ao programa Podcast, ilustrou essa dinâmica ao comparar a discrepância entre a vida dos artistas e a dos influenciadores, enfatizando como, para estes últimos, a vida online se confunde com a realidade.

“A internet de vocês é a vida de vocês, a verdade de vocês. A minha é uma parcela bem pequena da minha vida, com um pouco do meu trabalho – tem ali minha filha, minha casa, mas é bem menos. E o que eu tenho para as marcas é agregar a minha imagem”. 

muitos criadores estão se vendo presos entre a persona que os catapultou para o estrelato online e a pessoa que viraram hoje.

Esse crescimento exponencial traz consigo um ciclo desafiador: uma base de seguidores inicialmente pequena e engajada dá lugar a um público mais amplo e diversificado, gerando conflitos que podem levar à desmotivação.

Afinal, as críticas sem filtros nos comentários não podem ser rotuladas como “não é nada pessoal”, pois o trabalho ali exposto é totalmente pessoal! É difícil separar uma coisa da outra.

Na busca por sustentar e expandir sua influência ou até mesmo se proteger desse contato tão cru com o público, muitos recorrem a uma profissionalização do conteúdo tão cheia de intermediários e filtros que os distancia do propósito e autenticidade que originalmente atraíram seus seguidores.

E assim vemos muitos creators vivendo impasses. 

ADAPTABILIDADE NEM SEMPRE SIGNIFICA CRESCIMENTO 

Como manter a autenticidade que permitiu a esses influenciadores construir autoridade e respeito de uma comunidade enquanto navegam pelas expectativas de um público em constante mudança?

Existe uma fragilidade no permanecer fiel a si mesmo, pois o adaptar-se às demandas da audiência é urgente. Isso reflete a complexidade do mercado de influência digital e resulta na dificuldade do próprio influencer identificar os seus porquês de ali existir. 

AMADURECIMENTO DO CREATOR

Todos nós nos transformamos. Amadurecemos. Mudamos de ideia. De um jeito ou de outro.

O que tem acontecido com frequência é que muitos criadores estão se vendo presos entre a persona que os catapultou para o estrelato online e a pessoa que viraram hoje, depois de viverem mais.

Mostrar o look do dia ou jogar videogames pode não fazer mais sentido. Mas como abandonar aquilo que juntou seus seguidores em primeiro lugar? 

A exposição de detalhes pessoais, opiniões e preferências se tornou uma moeda de troca pelo engajamento.

A questão central torna-se como equilibrar a autenticidade com a performance em um ambiente que premia constantemente a novidade e a relevância.

A maneira mais saudável de inovação é aquela que surge a partir de um entendimento profundo de uma marca. Dos desejos e sonhos e visões de mundo que essa marca tem. E não de “inovar pelo inovar”.

Aqui entra o propósito, a força que faz com que os influencers sejam de fato influentes – e não influenciados pelas mudanças rápidas do mundo virtual.

A clareza dessa estrela guia garante aos criadores coerência na fala, clareza de seus espaços e de um caminho a seguir. Sem ele, há o risco de vermos conteúdos levados pela maré. 


SOBRE A AUTORA

Juliana de Faria é jornalista, escritora e pós graduada em neurociência e comportamento. Está à frente do Estúdio Jules, consultoria c... saiba mais