Influencer sem propósito a onda leva
As redes sociais evoluíram de espaços para compartilhar crenças, pensamentos, sonhos, incômodos e diferentes maneiras de viver e pensar para se tornarem plataformas de projeção de carreiras, fama e abundância financeira.
Inicialmente, a simplicidade era a essência e a vida cotidiana e as conexões pessoais, o foco. A democratização do conteúdo permitia a qualquer um, independentemente de seu status social ou financeiro, compartilhar um pedaço de sua vida.
Com o passar do tempo, certos indivíduos começaram a se destacar não tanto por uma estratégia calculada, mas por sua autenticidade e habilidade em se comunicar.
As redes sociais passaram a ser não apenas sobre o que se fazia, mas quem se era – suas opiniões, estilos de vida e escolhas pessoais tornaram-se centrais. O que inicialmente era um compartilhamento descompromissado de ideias se transformou em uma construção de marca pessoal. E uma marca pessoal forte poderia significar maior comunidade, engajamento, trabalhos e dinheiro.
Hoje, é mais trabalho do que diário. E os influenciadores enfrentam a constante pressão de fisgar a atenção do público, em uma tentativa até violenta de acertar nas tendências e manter-se relevantes. A exposição de detalhes pessoais, opiniões e preferências se tornou uma moeda de troca pelo engajamento.
A atriz Deborah Secco, em entrevista ao programa Podcast, ilustrou essa dinâmica ao comparar a discrepância entre a vida dos artistas e a dos influenciadores, enfatizando como, para estes últimos, a vida online se confunde com a realidade.
“A internet de vocês é a vida de vocês, a verdade de vocês. A minha é uma parcela bem pequena da minha vida, com um pouco do meu trabalho – tem ali minha filha, minha casa, mas é bem menos. E o que eu tenho para as marcas é agregar a minha imagem”.
muitos criadores estão se vendo presos entre a persona que os catapultou para o estrelato online e a pessoa que viraram hoje.
Esse crescimento exponencial traz consigo um ciclo desafiador: uma base de seguidores inicialmente pequena e engajada dá lugar a um público mais amplo e diversificado, gerando conflitos que podem levar à desmotivação.
Afinal, as críticas sem filtros nos comentários não podem ser rotuladas como “não é nada pessoal”, pois o trabalho ali exposto é totalmente pessoal! É difícil separar uma coisa da outra.
Na busca por sustentar e expandir sua influência ou até mesmo se proteger desse contato tão cru com o público, muitos recorrem a uma profissionalização do conteúdo tão cheia de intermediários e filtros que os distancia do propósito e autenticidade que originalmente atraíram seus seguidores.
E assim vemos muitos creators vivendo impasses.
ADAPTABILIDADE NEM SEMPRE SIGNIFICA CRESCIMENTO
Como manter a autenticidade que permitiu a esses influenciadores construir autoridade e respeito de uma comunidade enquanto navegam pelas expectativas de um público em constante mudança?
Existe uma fragilidade no permanecer fiel a si mesmo, pois o adaptar-se às demandas da audiência é urgente. Isso reflete a complexidade do mercado de influência digital e resulta na dificuldade do próprio influencer identificar os seus porquês de ali existir.
AMADURECIMENTO DO CREATOR
Todos nós nos transformamos. Amadurecemos. Mudamos de ideia. De um jeito ou de outro.
O que tem acontecido com frequência é que muitos criadores estão se vendo presos entre a persona que os catapultou para o estrelato online e a pessoa que viraram hoje, depois de viverem mais.
Mostrar o look do dia ou jogar videogames pode não fazer mais sentido. Mas como abandonar aquilo que juntou seus seguidores em primeiro lugar?
A exposição de detalhes pessoais, opiniões e preferências se tornou uma moeda de troca pelo engajamento.
A questão central torna-se como equilibrar a autenticidade com a performance em um ambiente que premia constantemente a novidade e a relevância.
A maneira mais saudável de inovação é aquela que surge a partir de um entendimento profundo de uma marca. Dos desejos e sonhos e visões de mundo que essa marca tem. E não de “inovar pelo inovar”.
Aqui entra o propósito, a força que faz com que os influencers sejam de fato influentes – e não influenciados pelas mudanças rápidas do mundo virtual.
A clareza dessa estrela guia garante aos criadores coerência na fala, clareza de seus espaços e de um caminho a seguir. Sem ele, há o risco de vermos conteúdos levados pela maré.