Inovação sem ter gente que oferece um pensamento novo?


Felipe Silva 2 minutos de leitura

Muito anda se falando sobre inovação no mundo do marketing e da publicidade. Eventos, palestras, fóruns, talks, conversas. O metaverso já é presente? E os bitcoins, NFT, blockchain, live commerce, AI? Parece que sempre que falamos em inovação estamos limitados a falar sobre as novas ferramentas, os novos dispositivos, as novas tecnologias. A inovação no nosso mercado parece estar condicionada a uma ligação direta com um processo tecnológico.

Do meu lado, volto sempre o meu olhar para as pessoas do Brasil. Para nossas vivências e realidades. É por esse ponto que gosto de pensar na inovação para as marcas. 

Porque essas marcas que aqui estão e atuam querem se conectar com essas pessoas (pelo menos é o que espero). Com um Brasil que, segundo dados do IBGE de 2020, é 54% negro. Onde a maior parte da população é composta por mulheres negras, que são 28%. E as classes C, D e E reúnem quase 83% dos habitantes. Sobre a população LGBTQIA+, dados da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos) nos dizem que são cerca de 20 milhões. 

Mas olhamos para a maior parte dos departamentos de marketing, das startups, das agências de publicidade, e ainda não vemos essas pessoas comandando, dando opiniões, participando das decisões, das discussões sobre o produto, sobre campanhas.

Se a sua marca quer inovar e chegar até o Brasil real, precisa ter o Brasil real sentado na mesa e com posição de decisão.

Essa é a inovação mais urgente para o nosso mercado: a inovação de pensamentos e pessoas. A inovação de narrativas e vivências que estão na mesa discutindo os problemas de marcas. A inovação da diversidade.

Inovar no Brasil falando só em tecnologia, sem considerar a diversidade, ou é inocência, ou pura preguiça. Se a sua marca quer inovar e chegar até o Brasil real, precisa ter o Brasil real sentado na mesa e com posição de decisão. Tirar a cabeça do Vale do Silício e colocar no Vale do Dendê.

A diversidade é o maior motor de inovação com que podemos contar. É o dispositivo que muda o pensamento e a perspectiva de uma marca. É ter o olhar presente de quem nunca esteve presente nesses lugares. Pessoas que conhecem profundamente a maior parte de todo o mercado consumidor desse país. Como alguns dizem por aí: é mudar o “mindset”.

Se queremos construir marcas ou agências inovadoras de verdade aqui no Brasil, não deveríamos estar correndo para ter escritórios no metaverso, mas para ter a diversidade dentro dos escritórios. Em vez de apenas buscar ter equipes que sabem tudo sobre NFT’s, deveríamos buscar pessoas para a equipe que sejam das classes C, D e E, que sejam da comunidade LGBTQIA+, ter mulheres pretas em cargos de liderança.

Precisamos entender que diversidade é inovação na essência. Temos que pensar gente, antes de tecnologia. Vivências, antes de data. Entender que, para se conectar com esse país continental que é o Brasil, vale mais ter as mentes mais diversas possíveis do que o mesmo grupinho formado na mesma bolha.

Não adianta buscar a inovação sem ter gente que oferece um pensamento novo.


SOBRE O AUTOR

Felipe Silva é fundador da GANA, uma agência de publicidade brasileira com uma equipe 100% composta por profissionais pretxs. Possui 1... saiba mais