Justiça climática e empoderamento econômico feminino: por que esses temas estão interconectados?

Mulheres e meninas sofrem mais com as mudanças climáticas devido à vulnerabilidade econômica e social

Crédito: Jacob Lund/ iStock

Dilma Campos 3 minutos de leitura

Você já ouviu falar em justiça climática? Embora as mudanças climáticas sejam um evento global, seus efeitos não são sentidos da mesma forma por todas as pessoas. Aquelas que sofrem desigualdades econômicas, sociais, de gênero e raça são ainda mais vulneráveis aos efeitos adversos da crise do clima.

A justiça climática chega para elevar a discussão sobre o clima para além dos dados sobre o meio ambiente – como concentração de carbono na atmosfera ou aquecimento global – e abranger também o impacto dessas mudanças nas pessoas menos favorecidas.

Vamos a alguns dados: segundo um relatório divulgado em 2022 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês), moradores de favelas e periferias são vítimas de tragédias ambientais 15 vezes mais do que os que residem em áreas seguras.

A falta de saneamento básico, de acesso à saúde e de moradia digna, que deveriam ser direitos humanos fundamentais, leva as populações periféricas a vivenciar de forma mais intensa e dramática as questões climáticas.

No recorte de gênero, os impactos são ainda maiores. Mulheres e meninas sofrem mais com as mudanças climáticas devido à vulnerabilidade econômica e social. Até 2050, as mudanças climáticas podem levar mais 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza e fazer com que 236 milhões enfrentem mais insegurança alimentar, segundo um relatório da ONU Mulheres.

Crédito: Greenpeace/ Joël Hunn

Por isso, o empoderamento econômico feminino e a inclusão ativa e intencional de mulheres em processos decisórios políticos e profissionais, preferencialmente em cargos de liderança e posições de poder, são motores para mudar essa realidade.

Nem preciso dizer que, ao adicionar elementos de raça e etnia a essa equação, as desigualdades se tornam ainda mais profundas e historicamente enraizadas.

Ao falar de empoderamento econômico das mulheres, é preciso reforçar que é de responsabilidade quase exclusiva delas os trabalhos de cuidado com crianças e idosos e com atividades da casa.

Para entender a grandeza desse trabalho invisível, se ele fosse remunerado com base no valor pago às empregadas domésticas, o PIB do Brasil seria cerca de 13% maior, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). Derrubar esse paradigma amplia as oportunidades profissionais e econômicas às mulheres.

a correlação entre justiça climática e empoderamento econômico feminino é essencial para a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos.

Empoderamento econômico feminino e justiça climática são dois dos cinco temas que se interconectam na agenda prioritária da presidência brasileira no W20, grupo independente de engajamento do G20 (composto pelas 19 economias mais influentes do mundo), que é dedicado às questões relacionadas ao empoderamento econômico feminino.

Participação feminina em STEM (acrônimo em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), economia do cuidado e combate à violência de gênero são os outros três temas prioritários da agenda. Falei mais sobre o importante trabalho do W20 na coluna anterior

Na minha opinião, a correlação entre justiça climática e empoderamento econômico feminino é essencial para a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos. O problema é complexo e demanda um envolvimento conjunto do governo, da iniciativa privada e da sociedade em busca de soluções.

Somente dessa forma é possível obter resultados mais eficazes, não só frente aos desafios das mudanças climáticas, como também ao desenvolvimento econômico inclusivo.


SOBRE A AUTORA

Dilma Campos é CEO e Partner da Nossa Praia e Head de ESG da BPartners.co. Atualmente é conselheira da Universidade São Judas - Grupo ... saiba mais