Mais princípios para uma carreira de sucesso


Claudia Penteado 6 minutos de leitura

No mês passado, compartilhei três princípios importantes que me ajudaram muito na minha carreira até hoje: 

  • Procure problemas para resolver
  • Ganhe dinheiro aprendendo
  • Faça networking toda semana

Nessa coluna, detalharei mais 6 na esperança de ajudar alguém nesse mundo frio e cruel. 

  • Seja dona da sua narrativa

Todos nós sabemos que o Instagram de cada um é uma grande curadoria dos melhores momentos da vida, mas quando se trata de carreiras, não percebemos o quanto histórias têm filtros.

Profissionais experientes aprendem a destacar seus melhores momentos e submergir todo o resto. Os mais experientes conseguem aplicar “engenharia reversa” e conseguir o que querem ter no currículo futuramente. Deixe-me explicar…

Eu estava prestes a me formar quando a orientadora da minha faculdade me falou que meu currículo não tinha nada de valor. Fiquei magoada, e meio que por birra, resolvi me inscrever para projetos que soassem admiráveis, como uma aula de neurociência, ou escrever pro jornalzinho B da escola (nem o A era!). 

Eu sabia que um entrevistador não entenderia nada de neurociência, mas que isso o faria pensar “ah, essa candidata deve ser inteligente.” Ou seja, era um atalho – zombando de um sistema bobo, mas ao mesmo tempo tirando proveito dele. 

Depois, resolvi convencer um editor da Mashable a me deixar escrever um artigo para eles, porque eu achava que chamaria a atenção de recrutadores (e também amava a Mashable!). Mais recentemente, trabalhei para uma campanha presidencial americana… por 2 meses. Ninguém pergunta por quanto tempo – o selo, por eu ter sido escolhida para trabalhar na campanha, é suficiente para o fator “uau.” E por mais ridículo que seja, o “uau” abre portas uau.

Hoje, posso dizer que tenho um diploma em filosofia, sou coautora de um estudo de neurociência, ajudei empresas de tecnologia a crescerem até centenas de milhões de usuários, já apresentei ao presidente Barack Obama na Casa Branca e trabalhei em uma campanha presidencial num país de onde nem sou cidadã. Todos esses momentos entram na narrativa oficial da minha carreira em entrevistas, podcasts, e tudo mais.

Mas, ao longo da minha carreira, muitas coisas deram errado. Não entrei nas faculdades que queria, entrei em depressão, desisti da faculdade e praticamente implorei para conseguir que qualquer empresa me contratasse para um estágio quando me formei. No meu currículo, tem uns 5 anos que eu chamaria de “uma série de tropeços” intercalados e já me senti um grande fracasso por mais dias do que posso contar. Mas apesar de esses anos constarem no meu LinkedIn, você não lê os “tropeços” na descrição.

Nossas vidas e carreiras são cheias de altos e baixos. Aprenda a destacar seus melhores ângulos e virar dona da sua própria narrativa. Momentos de sucesso atraem outros momentos de sucesso. E é divertido fazer brainstorm de “selos” não tão difíceis de atingir que farão com que outros nos considerem impressionantes o suficiente para nos dar oportunidades realmente impressionantes. 

Nossas vidas e carreiras são cheias de altos e baixos. Aprenda a destacar seus melhores ângulos e virar dona da sua própria narrativa.

É um growth hack que muitas das pessoas mais privilegiadas descobrem cedo, por acaso, porque observam outros fazendo isso. O que nos leva ao próximo ponto.

  • Don’t hate the player, hate the game.

Honestamente, nem adianta odiar o jogo. Lute para mudar o que discorda, mas espernear não vai acelerar a mudança. Use o que existe hoje a seu favor para conseguir o que precisa para mudar o status quo.

  • Tome um passo de cada vez

Existe muita pressão para saber “onde o que você gostaria de fazer daqui 5 anos”, qual é o seu “sonho” ou quem você quer ser quando crescer. Algumas pessoas têm respostas a essas perguntas – bom pra elas. Para o resto de nós reles mortais, a vida é uma jornada de morrinhos e montanhas; você só consegue ver o próximo morro quando chegar ao topo deste aqui. 

Hoje em dia, pode-se dizer que tive uma carreira bastante bem sucedida: além de tudo que citei ali em cima, sou especialista de growth na Reforge, trouxe a Tumblr ao Brasil, fui VP de growth na Duolingo, co-fundei minha própria empresa, bla bla bla. Queria poder dizer pra Gininha de 18 anos, que nunca teria imaginado essa vida pra mim. E seria impossível mesmo.

Para começo de conversa, a Tumblr, empresa que deu início à minha carreira de tecnologia, nem sequer existia quando eu estava no colégio, e só descobri sua existência depois da faculdade. A Duolingo não existia enquanto eu estava no Tumblr, e “growth” não era nem uma carreira quando comecei na Duolingo. Aliás, o termo “growth hacking”, criado por Sean Ellis (hoje amigo meu!) em 2010, era meio que considerado raso e piegas por muitos. Quando me pediram pra ser chefe de growth na Duolingo, eu falei que sim e fui discretamente procurar o termo no Google. 

Eu não estava nem aí para política, principalmente de um país que não era meu (e não poderia imaginar que trabalharia em uma campanha presidencial de um candidato que nem era do partido que eu achava que eu era). E eu nunca teria começado a Latitud se não estivesse num caminho pra começar outra empresa completamente diferente. 

Cada passo me levou para a próxima fase, mesmo quando parecia que eu estava andando para trás.  Somente quando você está em movimento é que as oportunidades se materializam.

E o mais legal é que, em retrospectiva, tudo faz sentido. O que me leva ao próximo princípio…

  • Finais doloridos abrem novas portas

Já fui demitida, despedida e despejada. Estes foram alguns dos momentos mais difíceis da minha vida a curto prazo, mas que levaram aos maiores desenvolvimentos profissionais no longo prazo.

Se tudo tivesse funcionado para mim desde o primeiro dia, eu provavelmente teria algum cargo chique em uma agência de publicidade, trabalhando que nem uma condenada para ajudar marcas de luxo a vender mais produtos. 

Se corremos de forma linear de morro em morro, esquecemos de olhar pros lados e ver quantas montanhas lindas não conseguimos enxergar do ponto de partida.  

E lembre-se: tudo faz sentido em retrospectiva.

  • Assuma boas intenções.

Ouvi o conselho “não leve as coisas para o lado pessoal” durante toda a minha vida, mas não conseguia entender. Como assim? Sou uma pessoa. Tudo é pessoal. A inabilidade de entender o que isso queria dizer me gerou muita frustração, raiva e tristeza.

O que eventualmente e finalmente entendi é: todo mundo tem seus próprios demônios, variações de humor, frustrações, medos e dias ruins. Quando alguém diz ou faz algo que parece ser um ataque a você no trabalho, considere que essa pessoa provavelmente está se sentindo magoada ou com medo. Não precisa ter empatia pelo pobre indivíduo, apenas entenda que te atormentar não é prioridade dessa pessoa: você simplesmente está no caminho, como qualquer outro poderia estar.

Sou muito cínica, mas descobri ao longo do tempo que, em geral, as pessoas querem fazer o melhor que podem. Profissionalmente, isso geralmente significa fazer um bom trabalho e provar a si mesmos e outros que merecem estar onde estão (porque temem não merecer). Os seres humanos são limitados e mal orientados, mas raramente estão tentando te prejudicar.

Este simples exercício teria me protegido de muito sofrimento e me ajudado a construir mais pontes ao longo da carreira.

  • Sempre negocie.

Eu achava que negociar meu salário pegaria mal, ou que o que me oferecem é o que eu mereço. Falso. Depois de contratar muita gente, descobri que a última coisa que alguém quer depois de escolher um candidato é ter que começar de novo. É esperado que você negocie – não odeie o jogo, jogue. 

Pensamentos? Perguntas? Entre em contato comigo em @ginag no Twitter para discutir!

 

Este texto é de responsabilidade de seu autor e não reflete, necessariamente, a opinião da Fast Company Brasil


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais