Menos futuro, mais presente
Como a tecnologia de voz nas IAs generativas pode aposentar as teclas e democratizar a produção de conteúdo
Esta é a minha coluna de estreia na Fast Company Brasil. Portanto, faz sentido me apresentar e contar um pouco do que você vai encontrar aqui todos os meses.
Sou jornalista, otimista com o mundo, early adopter de novas tecnologias e tudo o que elas podem oferecer para melhorar a vida. Meus dias são melhores quando o céu está azul e o termômetro acima dos 20 graus. Moro em São Paulo há mais de 20 anos. Gosto daqui.
Passei duas décadas trabalhando em redações – de revistas, jornais, sites e TV, mas especialmente de revistas. Desde 2014, estou à frente do The Summer Hunter, uma plataforma de conteúdo cujo lema e leme é o “lado solar da vida”.
Aqui na minha coluna da Fast Company Brasil você não deve encontrar novas tendências e previsões futurísticas, mas uma análise do presente, do que está acontecendo AGORA no mundo e como, na minha visão, isso está moldando quem somos e impactando nossas vidas.
Muito além da tecnologia, que sozinha não desperta interesse em ninguém, quero abordar temas relacionados ao bem-estar, à saúde mental, ao comportamento humano e à vida em sociedade.
Pretendo oferecer serviço, inspiração e informação relevantes. Quero ajudar você a viver melhor o presente, entendendo o que está acontecendo no mundo através de uma visão positiva, jornalisticamente responsável e provocadora.
Agora, enfim, ao que interessa: à coluna de estreia.
OS TECLADOS ESTÃO COM OS DIAS CONTADOS?*
Em tempos e terras distintos, dois contadores de histórias moldaram o entendimento humano sem depender exclusivamente de teclados, canetas ou cálamos.
O primeiro foi Homero, o bardo grego nascido por volta de 800 a.C., que tinha o hábito de vagar de cidade em cidade. O segundo, e nosso contemporâneo, é o líder indígena Ailton Krenak, 70 anos, recentemente tornado imortal da Academia Brasileira de Letras.
Apesar de separados por milênios e milhas, eles podem ser encaixados lado a lado devido a um legado poderoso: a tradição oral, uma arte que transcende o ato de tamborilar os dedos num teclado ou deslizar as mãos numa folha de papel em branco.
Exemplos como os de Krenak, que dita seus livros, e Homero, que compôs oralmente os poemas épicos “Ilíada” e “Odisseia”, ilustram a longa história da tradição oral.
Ainda que a avassaladora maioria dos escritores atualmente lancem mão dos computadores, a digitação pode representar uma barreira para aqueles que não possuem habilidades de datilografia ou que encontram no teclado uma interface menos intuitiva.
A precisão com que IAs como o ChatGPT interpretam nossa fala é assombrosa.
Com a popularização e aprimoramento do reconhecimento de voz por inteligências artificiais generativas, como o ChatGPT, o obstáculo das teclinhas está mais perto de ser superado, o que irá proporcionar uma via mais direta e natural de expressão.
Os teclados têm resistido ao tempo e às transformações tecnológicas: das máquinas de escrever mecânicas surgidas no fim do século 19 às versões digitais presentes em 99,9% dos celulares, eles não mudaram em absolutamente nada.
A versão presente no seu iPhone 15 Pro é, essencialmente, a mesma da máquina de escrever Remington Nº 1, lançada em 1874. Criado em 1873 por Christopher Sholes, o layout QWERTY se tornou o padrão e permaneceu praticamente inalterado até recentemente.
Em versão miniatura para o smartphone, ele piorou: se antes seu polegar se ajustava com folga sobre uma tecla, atualmente gastamos mais tempo no backspace, corrigindo erros de digitação, do que de fato dando vazão ao fluxo do pensamento.
A tecnologia atual de reconhecimento e transcrição de voz permite que ideias sejam capturadas quase tão rapidamente quanto são concebidas, favorecendo a fluidez do pensamento criativo. Se você já experimentou ditar um texto para o ChatGPT, sabe do que estou falando. A precisão com que IAs como essa interpretam nossa fala é assombrosa.
Isso é especialmente benéfico para pessoas que, embora tenham ideias brilhantes, encontram-se presas na mecânica da digitação. Por outro lado, como a tecnologia é democrática, mentes menos transformadoras ou sagazes também se beneficiarão dessa revolução, o que pode ter seus inconvenientes para a humanidade.
Perderemos uma vasta quantidade de conhecimento se passarmos a depender apenas da tecnologia.
A inteligência artificial ainda pode auxiliar na organização da narrativa, na sugestão de melhorias e na correção ortográfica, tornando mais ágil o processo editorial.
“Mas eu não consideraria a fala-para-texto como um verdadeiro processo de alfabetização”, me disse a neurocientista californiana Claudia Aguirre, especialista na relação da mente com o corpo. “Perderemos uma vasta quantidade de conhecimento se passarmos a depender apenas da tecnologia, abrindo mão dos métodos tradicionais de alfabetização.”
Segundo a pesquisadora, nós lembramos e aprendemos melhor quando escrevemos à mão, porque este ato exige mais atenção e concentração do que digitar (que é mais rápido). “Portanto, perder a conexão mão-cérebro pode reduzir nossas habilidades de atenção, uma propriedade que já parece estar diminuindo”, explica.
A era da digitação talvez não esteja com os dias contados, mas certamente está se modificando, abrindo espaço para coexistir com uma forma de expressão mais inclusiva e adaptada às necessidades contemporâneas.
Com essas mudanças, esperamos ver um crescimento no número de vozes que, graças ao compartilhamento de suas histórias únicas, poderão participar do diálogo global. Sem isso, estariam condenadas ao silêncio.
*Este texto foi parcialmente ditado ao ChatGPT 4o.