O dia em que a Terra parou

Com tanta criatividade à procura de um fluxo, dá para inundar o mundo com ideias simples e poderosas

Créditos: Cdd20/ Pixabay/ Freepik

Mauro Cavalletti 3 minutos de leitura

Vamos falar um pouco sobre criatividade e inovação aplicados a uma realidade nada agradável. Vivemos uma fila interminável de tragédias causadas por mudanças climáticas próximas do irreversível, que devem somente se acentuar. Uma atrás da outra.

As transformações são incrivelmente rápidas, compulsórias, muitas vezes de difícil percepção imediata, causando espanto e insatisfação mesmo nas mentes mais sensíveis e inquietas.

Se o incômodo é vivo, presente, a crise criativa é uma consequência inevitável. O momento se materializa como um desafio profundo para artistas e criadores de todas as disciplinas.

Já faz algum tempo que ouço colegas de várias áreas manifestando desprendimento de seus trabalhos – publicitários em busca de novo propósito, designers em busca de novas definições, fotógrafos em busca de novos caminhos. Bem, amigos, a crise nos chama. 

Chegou a hora de entrar em um outro caminho e encontrar novas perspectivas criativas que nos tirem deste buraco. Com tanta criatividade à procura de um fluxo, dá para inundar o mundo com ideias simples e poderosas, endereçando questões complexas e explicando realidades para quem não as enxerga.

Chegou a hora de usar toda a nossa criatividade na solução de problemas verdadeiramente complexos. Há inúmeras possibilidades para negócios que proponham soluções ambientais.

Dá para criar sistemas de organização de novas propostas, de desenvolvimento de produtos de impacto. Dá para comunicar, engajar, incorporar pensamentos e pessoas em todos os cantos do mundo. Só não dá para ficar parado.

É preciso avançar da ideia para a ação, sempre mantendo o foco. Como fez Alcione Pereira, que, em 2016, fundou a Connecting Food, empresa que faz a redistribuição de produtos que seriam descartados pela indústria e varejo de alimentos para organizações sociais que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social. Reduz o desperdício e a fome, gerando impacto socioambiental. Hoje, a empresa atende 600 organizações em 318 cidades brasileiras.

O caminho da transição para empreendimentos de impacto já foi aberto por profissionais que trocaram bem-sucedidas carreiras criativas para construir empresas de fins lucrativos operando na regeneração do planeta.

É o caso do Max Petrucci que há alguns anos deixou a direção de sua agência de publicidade com o sócio e abriu a Mahta, uma empresa que pesquisa, produz e comercializa superalimentos com ingredientes da floresta amazônica.

Defensor da economia sustentável, Max, um empreendedor experiente, com passagem pela Microsoft Europa, é também mentor na Endeavor, a rede global de empreendedores de alto impacto.

Crédito: Daniel Pinheiro/ Mahta/ Divulgação

Tenho grandes expectativas com as práticas criativas influenciadas pela revolução digital das últimas décadas. Falo da onda criativa turbinada e inspirada pelas rupturas tecnológicas, pelo pensamento e ação da cultura de agilidade, pelas colaborações interdisciplinares, pelos flexíveis modelos criativos e de negócios das tech startups. Elementos importantes para momentos de rápida mutação, onde as abordagens mais tradicionais podem ser muito lentas e ineficientes na adaptação e resposta.

É em torno dessa cultura que atua Luciano Sousa, um músico e diretor de arte que se tornou empreendedor serial em tecnologia. Hoje ele dirige o Animba, venture studio focado em impacto social e ambiental, usando sua experiência para ajudar outros empreendimentos a crescer estruturadamente. Luciano avisa: existem investimentos de grande porte nesse mercado, precisamos de mais empreendedores.

Chegou a hora de usar toda a nossa criatividade na solução de problemas verdadeiramente complexos.

Por isso, tenho ainda mais expectativas na vasta rede de novos criativos sustentados pela democratização da tecnologia. A escala gigantesca e a ampla diversidade dessas comunidades têm o poder de criar novas ideias exponencialmente.

Em 2018, participei da criação do Estação Hack do Facebook, com 40 startups de impacto aceleradas no período de dois anos, com a ajuda direta de profissionais experientes e da tecnologia de suas plataformas.

Vi como as ideias criadas de baixo para cima pelas comunidades, em interação direta com o desenvolvimento tecnológico gerado de cima para baixo pelas grandes instituições, é capaz de criar verdadeiras ondas de inovações.

Acreditem, há espaço para muita criatividade na reformulação de um planeta saudável. Estamos todos recebendo as chamadas do nosso tempo. Nossas ideias e práticas são imprescindíveis neste momento.


SOBRE O AUTOR

Mauro Cavalletti, designer de interações e experiências, escreve sobre a interseção da criatividade, design e novas tecnologias. É fun... saiba mais