O que podemos aprender sobre a temporada de Summits?
Nos últimos anos, sobretudo no pós-pandemia, imagino que você tenha se deparado com uma infinidade de eventos, muitos deles se anunciando como "o maior encontro de (preencha como quiser)".
O fato é que existem alguns períodos do ano em que a concentração desses acontecimentos configura uma temporada, ou o que chamo de "Summit Season".
A primeira começa em março, com o festival South by Southwest (SXSW), e termina após o Web Summit Rio, no fim de abril. A segunda ocorre em agosto e vai até as tech-weeks de setembro. Claro, esses não são os únicos períodos com agendas relevantes.
Fazer um evento virou quase uma resposta automática para qualquer estratégia de engajamento. Passada a primeira onda de 2024, organizei alguns insights que gostaria de compartilhar com vocês, não como uma regra, mas como uma lente possível para interpretar essas experiências.
INOVAÇÃO NÃO É UMA COISA SÓ
Dez ou 15 anos atrás, era raríssimo encontrar o termo "inovação" em uma descrição de emprego. Hoje, ele se disseminou (para não dizer que foi banalizado) e podemos estimar que pelo menos 50% dos job descriptions mencionam inovação de alguma maneira.
Isso é ruim? Não, é ótimo! O que acontece é que existem diferentes bolhas que não se relacionam, o que é uma grande perda de oportunidade.
Por exemplo, a indústria criativa, os profissionais de marketing, publicidade e tendências adoram esses eventos. Da mesma forma, os grupos de open innovation corporativos representam uma parte significativa do público.
Temos também os profissionais de tecnologia, especialistas, desenvolvedores; além dos investidores, que gostam de exclusividade, side-events e encontros mais direcionados.
Não podemos esquecer dos artistas – sim, a arte é uma forma de expressar o pensamento que gera resultados concretos. E, por fim, os curiosos, aqueles que querem se inteirar sobre o que está acontecendo, mas que não trabalham com inovação no dia a dia.
Podemos dizer que alguém está errado por aqui? Dá para afirmar que um desses grupos é mais legítimo que o outro na agenda de inovação?
O que me incomoda nessa história é que esses grupos não se misturam como poderiam (ou deveriam). Raramente trocam experiências entre si, vivem limitados às suas câmaras de eco e, assim, perdemos a oportunidade de um aprendizado mais amplo.
A CURADORIA
Outro ponto que sempre chamo a atenção é para a curadoria, mas sobre esse, já escrevi em outra coluna. Basicamente, o que digo é que falta coragem e personalidade para inovar na escolha dos speakers, nos formatos e na condução das experiências de conteúdo, para evitar que tudo se transforme numa grande propaganda dos mesmos players.
SOBRECARGA, SATURAÇÃO
Já estamos em maio. As coisas aconteceram tão rápido de março para cá que é impossível digerir a experiência no SXSW, pois na sequência já veio o South Summit, seguido de VTEX day, Web Summit Rio e por aí vai.
Como diz um amigo, já estamos no meio do ano e não passei da décima página do relatório da Amy Webb... do ano passado – nem imagino quando vou ter tempo de mergulhar no deste ano. É impossível.
Isso impacta diretamente a geração de resultados a partir do que aprendemos nos grandes eventos. Não há tempo de digestão, planejamento, implementação de novas ações, pois logo seremos solapados pela próxima surra de conteúdo. Filtrar, priorizar e imprimir disciplina estratégica para que ações decorrentes de novos aprendizados tomem corpo é uma tarefa hercúlea e ingrata.
Falando em Amy Webb como exemplo: não me entenda mal, ela é maravilhosa, pioneira e adoro seus conteúdos, MAS o que ela apresenta é apenas um jeito de entender o mundo. Existem outros, muitos!
Dentre eles, os que não estão vendendo algo (sim, ela está vendendo um produto e te convencendo de que você precisa muito do que ela entrega. Ouça novamente a palestra no SXSW 2024: do tempo total, são 24 minutos de abordagem comercial direta). Não dá para nos amarrarmos na referência única como regra e achar que ali temos respostas absolutas.
O legal dos eventos com boa curadoria, é justamente poder colher perspectivas mais amplas para elaborar – quando temos tempo – os nossos próprios insights. Sem isso, a gente vira um monte de papagaio, que repete, mas não pensa no que fala. Reforço, não tenho nada contra Amy Webb, super admiro. Apenas usei como exemplo, que vale para todas as outras "unanimidades".
SIDE-EVENTS SÃO MAIS ESTRATÉGICOS
Os eventos paralelos, que acontecem junto com os grandes summits e festivais, são a forma que algumas empresas, marcas e fundos escolhem para oferecer uma experiência mais direcionada a seus stakeholders.
Dependendo dos seus interesses e objetivos, os side-events facilitam uma conexão mais qualitativa, onde "a mágica acontece" – seja por conseguirmos falar com determinados investidores, conectar com lideranças, ou mesmo para fortalecer o networking.
DO JEITO QUE ESTÁ NÃO VAI FICAR
A tendência natural de mercados maduros é a consolidação. Aliás, isso é uma das leis da natureza: a sobrevivência dos que se adaptam. Claro que é insustentável que tenhamos tantos eventos o tempo todo. Não dá para ir a tudo, não dá para pagar todos os ingressos, não dá para entender e digerir tudo o que está acontecendo.
Aposto numa concentração por perfil de públicos em determinados eventos, que cumprem um papel mais especializado. Algumas agendas serão sempre melhores para a turma do marketing e indústria criativa. Outros estão mais concentrados em inovação corporativa.
Falta coragem e personalidade para inovar na escolha dos speakers, nos formatos e na condução das experiências de conteúdo.
Há eventos que já fizeram uma segmentação clara para investidores e aqueles com mais foco nas atrações artísticas. E ainda aqueles que tentam ser para todo mundo. Precisamos sim, de mais oportunidades de trocas entre essas mentes.
O mais importante é que você tenha clareza do que busca quando escolhe ir a um evento. Não é o FOMO que escolhe por você, mas é a sua necessidade e curiosidade que precisam determinar aquilo que você deseja encontrar.
Intencionalidade é importante, por mais que a aleatoriedade possa te surpreender. Aqueles que vão a tudo sem essa clareza, saem com o copo transbordando, mas não sabem o que fazer com isso depois, e a experiência passa direto, porque logo já chega a próxima para embaralhar ainda mais as referências.