Performance ou bem-estar nas empresas? Qual a bola da vez?

Mais do que nunca, precisamos nos unir e combater o retrocesso nos temas da sustentabilidade humana

Deagreez via Getty images

Renata Rivetti 2 minutos de leitura

E agora, as empresas vão focar em performance ou bem-estar? A grande verdade é que esse questionamento está completamente equivocado. Não é sobre um ou outro, o bem-estar certamente não é antagonista aos resultados, na verdade é um grande aliado.

Mas por que então, em pleno século 21, seguimos acreditando no mito da necessidade de um trabalho com sofrimento e workaholism para gerar resultados?

A palavra trabalho vem do latim, tripalium, um instrumento de tortura. Desde lá, seguimos na crença de associar trabalho ao sofrimento. Segundo Adam Smith, economista e filósofo, considerado o "pai da economia moderna”, o trabalho significa sempre o sacrifício de uma certa “parcela de bem-estar, liberdade e felicidade.” 

Nas décadas passadas, especialmente entre os anos 1950 e 1990, muitas empresas e modelos de gestão acreditavam que ser workaholic era uma qualidade desejável para gerar resultados.

A cultura corporativa valorizava longas jornadas de trabalho, dedicação extrema e sacrifício pessoal em prol da produtividade e do sucesso organizacional. E a liderança entendia que o microgerenciamento, comando e controle seriam necessários para atingimento de metas. 

No taylorismo e no fordismo, que enfatizavam eficiência, padronização e disciplina, esse modelo mais rígido garantiu que as fábricas e organizações prosperassem. Porém, em um mundo dinâmico, híbrido, globalizado, inconstante, incompreensível e tecnológico será mesmo que o modelo deveria seguir o mesmo?

Saímos do trabalho industrial para o intelectual, a gig economy vem crescendo, os valores da sociedade sendo discutidos e ainda vemos CEOs falando que devemos trabalhar 80h por semana para gerar excelência. Desculpem-me esses CEOs, mas essa visão não é somente ultrapassada por valores, mas também pela neurociência. 

MICROGERENCIAMENTO E WORKAHOLISM

A neurociência mostra que ambientes de workaholism têm efeitos negativos no cérebro, prejudicando cognição, foco e bem-estar. Apesar de nosso cérebro ser adaptável, ele não foi projetado para manter um estado de hiperprodutividade e hiperfoco por muito tempo.

O resultado disso é uma exaustão do córtex pré-frontal, que nos leva a erros, aumento do cortisol e do estresse crônico, o que implica a redução da produtividade e da criatividade e a redução da plasticidade neural, que diminui nossa capacidade analítica e estratégica.

Ou seja, ambientes de medo, comando, controle, microgerenciamento e workaholism não são bons para os negócios, não geram resultados a longo prazo, reduzem a produtividade, o engajamento e a inovação. Além disso, são péssimos para a nossa sociedade, que hoje vive uma crise séria de saúde mental.

Trabalhadora com a cabeça apoiada na mesa em sinal de cansaço
Crédito: Freepik

Os líderes afetam a saúde mental dos seus colaboradores da mesma forma que o cônjuge dessa pessoa. Suas ações podem adoecer seus times e isso impacta no indivíduo, mas também em nós como sociedade, com cada vez mais casos de depressão, ansiedade e suicídio. 

Mais do que nunca, precisamos nos unir e combater o retrocesso nos temas da sustentabilidade humana. Pessoas adoecidas tornam nosso mundo pior. É possível ser diferente e construir um mundo melhor. Mas será preciso nos posicionar, nos unir e entender que o futuro não acontece do nada, ele é co-criado.

O que você está fazendo para construir um mundo melhor?


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora da Reconnect Happiness At Work, empresa especializada em Felicidade Corporativa e Liderança Positiva, que t... saiba mais