Pessoas não são marcas

Crédito: Markus Spiske/ Unsplash

Juliana de Faria 2 minutos de leitura

“Você precisa desenvolver a sua marca pessoal” é uma frase que aumenta de popularidade a cada ano. Além de repetida à exaustão por coaches, especialistas e publicações de mercado, o Google comprova com dados. As buscas por como construir, cultivar e comunicar sua marca pessoal aumentaram de maneira constante ao longo dos últimos 19 anos.

A justificativa por trás dessa obsessão é a ideia de deixar um legado no mundo. Buscamos reconhecimento, lembrança e, crucialmente, oportunidades de trabalho que se alinhem com nossos desejos profissionais.

Sua marca diz muito sobre você, o que você pretende fazer ou o que almeja alcançar.

Não é surpreendente ver profissionais liberais de áreas diversas, como medicina, advocacia e arquitetura, investindo em conteúdo autoral, onde o número de likes muitas vezes se torna a métrica de sucesso do cliente.

Contudo, mesmo diante da forte maré de autopromoção, é vital lembrar de duas coisas:

- Marcas não são pessoas. Empresas podem perdurar por séculos, precisam de foco e coerência, além de um propósito singular que as caracterize e atraia comunidades ao seu redor.

- E, mais importante, pessoas não são marcas. Os seres humanos são complexos e mutáveis, em constante evolução individual e coletiva. Nosso poder de criatividade e inovação surge da multidisciplinaridade, de interesses díspares e até mesmo dos colossais erros que cometemos.

Crédito: Flaticon

Os próprios números do Google mostram isso: apesar de sempre oscilar para cima, as buscas por conteúdos de “marcas pessoais” sempre caem no final e no começo do ano, quando, em período de festas, as pessoas estão sendo elas mesmas e não a imagem que querem construir. 

Se a prática de marca pessoal faz você se sentir preso em uma caixinha de identidade, saiba que não é a única. Há um punhado de artigos publicados recentemente sobre o esgotamento que os influenciadores sentem por viver isso todo dia. Quanto mais antiga a carreira, maior a crise de identidade e o cansaço da especialização que os tornou populares e famosos em primeiro lugar.

Nosso poder de criatividade surge da multi- disciplinaridade, de interesses díspares e até dos colossais erros que cometemos.

Normal, afinal, todo mundo cresce, amadurece, muda. E a distância entre suas personas online e offl-ine vai se intensificando. Veja Jout Jout, por exemplo, que se afastou das plataformas que as alçaram ao estrelato.

Felipe Neto também anunciou uma pausa no YouTube para “entender o próximo caminho”. Kéfera ficou três anos sem produzir vídeos e retomou agora, com outra proposta de formato e sem prometer constância. 

No final, a sua marca pode ser como uma ferramenta, uma roupa, um automóvel ou qualquer utensílio que você use para avançar no seu dia-a-dia. Ela diz muito sobre você e mais ainda sobre o que você pretende fazer ou o que almeja alcançar. Mas não é você.

E tudo bem trocar, fazer reparos ou desistir de usá-la. O importante é não sermos reféns de nós mesmos.


SOBRE A AUTORA

Juliana de Faria é jornalista, escritora e pós graduada em neurociência e comportamento. Está à frente do Estúdio Jules, consultoria c... saiba mais