Por que a geração Z perdeu a felicidade – e como recuperá-la

Os jovens precisam continuar a viver movidos por sonhos e, se preciso, por pequenas ilusões para reencontrar a alegria

Crédito: Jorm Sangsorn/ Getty images

Renata Rivetti 3 minutos de leitura

Em 2008, os economistas Andrew Oswald (da Universidade de Warwick) e David Blanchflower (Dartmouth College) popularizaram o conceito "Curva U de Felicidade".

O conceito da Curva U de Felicidade analisa como os níveis de felicidade variam em média ao longo da vida adulta das pessoas, traçando um padrão consistente em forma de "U" na maioria dos países estudados: o pico acontece na juventude, há uma crise na meia idade e a felicidade volta a aumentar em um nível elevado na terceira idade (após os 50 a 60 anos), podendo ser tão alta quanto na juventude, ou até mais. 

Porém, na última década os pesquisadores perceberam que a curva estava se transformando, já que os jovens já não se sentiam mais felizes. Em alguns países desenvolvidos, jovens de 18 a 25 anos passaram a relatar níveis de felicidade mais baixos do que adultos mais velhos.

Mas o que está acontecendo com a geração Z e por que eles estão mais infelizes?

Um dos motivos óbvios é a crise do sentido na vida. Segundo a Harvard Graduate School of Education​, 58% dos jovens adultos relataram ter experimentado pouca ou nenhuma sensação de propósito ou significado em suas vidas no mês anterior​.

O mundo nunca teve tanta possibilidade de escolhas, porém, o sentimento é de falta, um vazio existencial que permeia a nossa sociedade. Vivemos a era digital, acesso a tecnologias, chegada da IA generativa e, ao invés dessa evolução nos trazer tempo para focarmos no que importa, estamos simplesmente sobrevivendo, seguindo a vida sem sentido ou propósito. 

Estamos perdidos na infoxicação, nas redes sociais, no excesso de consumo. A busca por dopamina rápida e barata passou a funcionar como anestésico para o sofrimento gerado por uma existência sem sentido.

Procuramos desesperadamente o sentido DA vida (talvez a grande questão filosófica do ser humano) sem perceber que, talvez, o que realmente podemos construir é sentido NA vida.

19% dos jovens adultos relatam não ter ninguém em quem confiar para obter apoio social​.

Não precisamos de um propósito raro e extraordinário, nem resolver o sentido da existência, mas podemos escolher viver uma experiência pessoal com consciência e significado, nos conectando com algo maior do que nós.

Para isso, o maior preditor dessa construção são as relações humanas mais profundas. Não é sobre ter milhares de amigos, seguidores no TikTok, mas ter um grupo de apoio, saber que temos com quem contar quando os desafios forem inevitáveis. Essa é outra crise da geração Z, que vive uma epidemia de solidão

Segundo World Happiness Report 2025, 19% dos jovens adultos em nível global relataram não ter ninguém em quem confiar para obter apoio social​. São conectados digitalmente, passam o dia com telas, mas com pouco afeto e pouca humanidade. Como encontrar sentido na vida, então, se se sentem sozinhos no mundo?

A crise da solidão e do sentido da vida andam juntos. Nossa sociedade não está entendendo a urgência e gravidade do tema e do impacto disso no futuro desses jovens e, claro, de nós como sociedade.

Crédito: Freepik

Além disso, para mim os principais pontos dessa infelicidade são que os jovens vivem ainda uma crise econômica, climática, desigualdade crescente, sobrecarga e pressão em relação a resultados.

Não podemos mais fechar os olhos para o tema ou achar que eles não aguentam nada. Eles estão sofrendo e precisam de nossa ajuda. Simplesmente querer que enfrentem o mundo sem medo não vai ajudar. É preciso assumir que estamos errando e que precisamos de mudanças.

A curva da felicidade não deveria estar achatada: os jovens precisam continuar a viver movidos por sonhos e, se preciso, por pequenas ilusões para reencontrar a alegria.

“É o poder contagiante da esperança, a antecipação, a energia, a euforia de estar mais uma vez à beira de um dia mais brilhante.” 

Michelle Obama


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora da Reconnect Happiness At Work, empresa especializada em Felicidade Corporativa e Liderança Positiva, que t... saiba mais