Quando tudo é conteúdo, o que é Conteúdo?

O que as boas práticas do jornalismo têm a nos ensinar na era da creator economy

Créditos: Benjamin Henon/ Vasilis Chatzopoulos/ Unsplash wayhomestudio / Freepik

Ricardo Moreno 3 minutos de leitura

O que antes se referia a leite na caixinha, geleia no pote ou café na saca ganhou recentemente um significado mais amplo. Estamos vivendo em um mundo onde tudo pode ser conteúdo: desde o engolidor de fogo no sinal de trânsito até a foto do seu almoço no Instagram, passando por aquela frase motivacional que você compartilhou.

Com a creator economy moldando nossa realidade, conteúdo pode ser qualquer texto, foto ou vídeo capaz de envolver e engajar uma audiência. Diante dessa avalanche, surge uma questão: quando tudo é conteúdo, o que é Conteúdo com C maiúsculo?

Essa pergunta se torna mais relevante à medida que percebemos que, na era digital, a autoridade não se mede mais pelo número de seguidores, likes, compartilhamentos.

A criação de uma reputação nas redes exige mais do que simplesmente criar o tal do conteúdo – que, a propósito, já virou commodity. Reputação hoje depende de entregar algo genuíno, único, que ofereça informação, serviço e/ ou inspiração. E que ressoe como verdade.

A transformação do conteúdo em commodity levanta uma questão crucial: como garantir que o que produzimos vá além do efêmero, do descartável? Em um ambiente saturado por informações, onde a atenção é a moeda mais disputada, o diferencial está na profundidade e na intenção por trás do que se compartilha.

Não basta apenas captar visualizações; é necessário criar algo que possa ser lembrado, que provoque reflexão ou inspire mudança. O verdadeiro Conteúdo é aquele que se sustenta no tempo, que resiste à obsolescência digital e que, sobretudo, agrega valor à vida de quem o consome.

Além disso, é importante lembrar que o impacto do conteúdo vai muito além do digital. Ele reflete diretamente na realidade tangível, moldando percepções e influenciando decisões.

Com isso em mente, o papel de quem cria é duplo: ser responsável não apenas pelo que é dito, mas também pelas consequências do que é difundido. Em tempos de fake news e desinformação, o compromisso com a verdade se torna ainda mais crucial, exigindo dos criadores um alinhamento ético que transcenda a busca por engajamento imediato.

Isso se aplica a marcas, artistas ou indivíduos como você.

Precisamos nos perguntar constantemente o que estamos criando e se isso é positivo para o mundo.

Quando todos podem ser criadores, os preceitos do jornalismo permanecem iguais e ainda são essenciais na construção de autoridade e confiança. O lead, aquela formulinha tão batida que obriga a responder a perguntas fundamentais – quem, o quê, onde, como, quando e por quê –, junto com a checagem rigorosa das fontes e informações, continuam sendo seus pilares.

Elas garantem que o conteúdo seja não apenas relevante, mas confiável e preciso, qualidades fundamentais para criar um impacto duradouro e positivo. Não é raro ver influenciadores com milhões de seguidores desinformando seus públicos. Ao criar conteúdo, pensemos na responsabilidade que vem junto.

Estabelecer autoridade digital envolve mais do que arrecadar curtidas e comentários. Exige autenticidade e conhecimento. De si mesmo, do assunto e da audiência.

IMPACTO VERSUS VERDADE

Em uma conversa recente com Sarah Buchwitz, CEO do Grupo Flow (cujos 11 podcasts somam cerca de 75 milhões de ouvintes e estão entre os maiores do Brasil) e Fernanda Paiva, cofundadora da Flint (hub de conhecimento e educação focado na creator economy) durante o Rio Innovation Week, falamos sobre a construção de autoridade digital. 

Reputação hoje depende de entregar algo genuíno, único, que ofereça informação, serviço e/ ou inspiração.

As duas enfatizaram a importância de não se deixar aprisionar pelo algoritmo e de sempre buscar a autenticidade. “Evitamos produzir apenas o conteúdo que sabemos que terá mais visualizações. Optamos por promover conversas que possam realmente impactar nossa comunidade”, disse Sarah.

Fernanda acrescentou que o autoconhecimento é fundamental. “Antes de criar conteúdo, é essencial entender quem você é, qual é o seu tom de voz e o que realmente quer comunicar.”

Para mim, essa é a chave: cada post, cada vídeo, cada palavra tem o poder de moldar opiniões e influenciar comportamentos. Precisamos nos perguntar constantemente o que estamos criando e se isso é positivo para o mundo.

Numa época em que tudo é conteúdo, é essencial que o seu seja relevante, autêntico e, acima de tudo, significativo.


SOBRE O AUTOR

Ricardo Moreno é fundador do The Summer Hunter, plataforma de conhecimento e conteúdo que aborda o lado solar da vida em newsletters, ... saiba mais