Saem os criativos, entram os criadores


Eco Moliterno 3 minutos de leitura

Muita gente credita a invenção do cinema aos franceses Auguste e Louis, mais conhecidos como “os irmãos Lumière”. Em 1895, a dupla descobriu que, ao colocar fotos sequenciais em uma tira de filme e projetá-la usando uma luz estroboscópica que pisca no mesmo intervalo das imagens, é possível emular a sensação de movimento – uma invenção que ficou conhecida mundialmente como o primeiro cinematógrafo.

Mas quando assistimos aos primeiros filmes deles, fica claro uma coisa: eles eram inventores e não cineastas. Afinal, são registros comuns da vida cotidiana sem nenhuma narrativa ou roteiro. Ou seja, eles, na verdade, inventaram a câmera cinematográfica – mas ainda era preciso criar o cinema enquanto “sétima arte”. E pra isso acontecer, faltava adicionar um ingrediente fundamental na história: uma ideia criativa.

Foi isso que um outro francês chamado Georges Méliès, considerado “o pai dos efeitos especiais”, fez em 1902: misturou pela primeira vez ilustrações com imagens filmadas e roteirizadas para lançar “A Viagem para a Lua” – que, pra mim, foi efetivamente o primeiro filme da história (com direito à icônica cena do foguete pousando no olho da Lua).

Surgia, então, uma nova forma de contar histórias fantásticas que não dependiam mais somente da tradição oral ou escrita – mas ainda faltava transformar o cinema em um meio de grande alcance para o público em geral (e não apenas para aristocratas franceses).

É aí que entram em cena dois grandes nomes que popularizaram o cinema e que até hoje ainda fazem milhões de pessoas rirem (e também chorarem): Charles Chaplin e Buster Keaton. Mais do que somente criarem e dirigirem seus próprios roteiros, ambos também começaram a atuar na frente das câmeras – e o Carlitos de Chaplin foi o primeiro grande personagem da história do cinema-mudo a, curiosamente, falar com todo mundo no mundo todo.

Depois disso, muitas outras invenções surgiram para impulsionar novas soluções criativas – e vice-versa. Afinal, a indústria do entretenimento sempre será fruto da eterna combinação de dois fatores: tecnologia e criatividade. E isso jamais mudará: foi assim na “Era Audiovisual” (do cinema e da TV), está sendo assim agora na “Era Interativa” (dos computadores e celulares) e será assim também na próxima “Era Imersiva” (dos óculos e headsets), também conhecida como “Metaverso”.

A diferença é que, a partir de agora, haverá uma ruptura brusca no lado da criatividade: os criativos precisarão virar criadores. Afinal, não se trata mais apenas de engajar uma audiência através de uma história bem contada, mas sim de criar uma comunidade ao redor de um ambiente virtual bem estruturado.

A diferença é que, a partir de agora, haverá uma ruptura brusca no lado da criatividade. Os criativos precisarão virar criadores. Afinal, não se trata mais apenas de engajar uma audiência através de uma história bem contada, mas sim de criar uma comunidade ao redor de um ambiente virtual bem estruturado.

É o que, por exemplo, o Snoop Dog já está fazendo: além dos clipes das suas músicas e dos sites para anunciar seus shows e vender seus produtos de marketing, ele criou também o Snoopverse: uma mansão dentro do The Sandbox onde as pessoas podem comprar assets digitais personalizados e ingressos para frequentar as suas festas VIP – algo impossível para seus fãs no mundo real. Prova de que, além do THC e do CBD, o rapper também está se tornando expert em outra sigla de 3 letras: o NFT.

Essa mudança de mentalidade precisa ser entendida (e adotada) o quanto antes não só pelos criativos mas, principalmente, pelas marcas. Afinal, as empresas precisam se movimentar rápido enquanto o “BetaVerso” ainda está restrito às elites – e antes que os novos Chaplins e Keatons criem ambientes imersivos que cativarão audiências massivas mundo afora. Ou, no caso, mundo adentro.

Pois como bem diz meu amigo Gian Martinez, fundador da Winnin: “grandes marcas precisam se tornar criadores antes que criadores se tornem grandes marcas”. Run, Forest, run!

PS: encerro fazendo uma singela, porém merecida, homenagem a dois dos maiores gênios da história das artes audiovisuais que mencionei acima: Chaplin e Keaton. Sempre achei que eles haviam construído suas carreiras totalmente em paralelo – mas descobri, recentemente, que eles fizeram uma única cena juntos em 1952. Uma obra-prima do cinema-mudo.


SOBRE O AUTOR

Depois de quase 20 anos trabalhando em agências de publicidade – sendo os 10 últimos como VP de Criação na Wunderman e Executive Creat... saiba mais