Sentimentos muito humanos


Cristina Naumovs 2 minutos de leitura

É engraçado pensar “ah, não ligo pra prêmios”, “nem queria estar nesse mailing incrível que toooodo mundo que eu conheço está”, “ah, esse rolê eu nem queria”.

Às vezes, é mentira. Eu queria tudo isso. Só que não rola toda vez que eu quero. Mas o sentimento ruim tá aqui, atravessado, a cada rolada de feed. Como lidar com isso?

Eu não tenho receita, tento deixar passar e faço o que sempre funciona pra mim em dias ruins: canto pra subir. Literalmente: coloco uma boa playlist no som do carro, ouço no último volume cantando junto. Muito da zica passa, pelo menos pra mim.

Mas gosto de pensar em porquê sinto. Fiz escolhas e elas implicam em algumas perdas. Escolhi trabalhar junto, colaborativamente, fazendo com que os projetos, as ideias, as pessoas, caminhem mais e mais longe. E muitas vezes isso é o backstage das coisas, é topar não aparecer.

Não quer dizer que eu não tenho ego. Só preciso aprender a lidar com ele, e isso eu faço todo dia. Momento um, fico puta, braba; no segundo, canto pra subir, como falei e, finalmente, “segue o baile, Cristina, escolhe suas tretas”.

É assim que tenho vivido: escolhendo o que considero as boas tretas. Não consigo e nem quero comprar todas, mas quero resolver as que eu comprar (ou pelo menos mexer o ponteiro, sempre).

Você sabe que tretas quer comprar, que pedras quer carregar? Com quem você quer chegar no apagar das luzes?

Escrevo esse texto numa cama de hotel em Oslo, depois de passar por Copenhagen, na Dinamarca, e fazer uma viagem de carro pela Noruega, nos últimos momentos das férias que tirei. O interior desse país parece saído dos meus quebra-cabeças de cinco mil peças. Nem sabia que era possível chegar aqui, na real, nem sabia que dava pra ter o quebra-cabeça, que dirá conhecer o lugar que deu origem à série.

É uma sensação maluca pensar que o mundo pode ser meu. E isso junta com o lance do ego, que falei acima: como tomar cuidado pra não ficar me achando a última bolacha do pacote?

Então, o quarto passo, acabei de pensar, é tomar umas sarrafadas de vez em quando, pra lembrar que esse negócio de “perfeita, sem defeitos” não existe, ainda falta muito território pra eu colocar meus dois exércitos em cada.

Esse ano, faço 45 anos. É a metade da vida. Tenho pensado muito que pedras da mochila que quero seguir carregando pelos próximos 45. Você sabe que tretas quer comprar, que pedras quer carregar? Com quem você quer chegar no apagar das luzes? Que assuntos te interessam o suficiente pra te fazer se ocupar deles?

Te pergunto isso porque me pergunto isso todos os dias. Nem sempre tenho respostas – quase nunca, na verdade – mas sigo nadando, sempre. Alguns dias no mar calmo, em outros tomando um caldo, mas sigo na água salgada, que é onde sou feliz. O que tem te feito feliz? Ou, no mínimo, uma pessoa satisfeita?


SOBRE A AUTORA

Cristina Naumovs é consultora de criatividade e inovação para marcas como Ambev, Doritos e Havaianas, entre outras. Tem passagens pela... saiba mais