Sociedade do cansaço: estamos cansados demais para perceber?
Mesmo no descanso, tentamos ser eficientes. E, assim, vamos nos desconectando do que é essencial: o tédio, o vazio, o silêncio

Estamos cansados. Isso já não é novidade. Mas talvez a verdadeira novidade seja essa: estamos cansados demais para perceber o quanto estamos cansados.
Byung-Chul Han escreveu que vivemos em uma sociedade que trocou o dever pela performance. Não somos mais cobrados por fora, mas por dentro. Não obedecemos a um sistema, somos o próprio sistema.
Nos cobramos para produzir mais, sentir menos e melhorar o tempo todo. A produtividade virou virtude. A exaustão, uma medalha invisível.
Acordamos já devendo energia. Trabalhamos com o corpo presente e a cabeça ausente. Nos intervalos, descansamos com a tela na mão. À noite, o sono chega ansioso, cheio de notificações.
E, no dia seguinte... tudo de novo.
Vivemos como se isso fosse normal. Como se o esgotamento fosse uma espécie de taxa de participação da vida adulta. Uma parte do jogo.
Mas e se não for bem assim?
Outro dia, em um intervalo entre dois compromissos, sentei em um café. Sem celular, sem fone, sem nada. Só eu e o tempo – ou pelo menos era essa a intenção. Foram exatos dois minutos até que o desconforto batesse. A mente acelerada, a mão inquieta, o impulso automático de abrir alguma coisa, ler qualquer coisa, produzir algo.
Talvez a grande inovação agora seja parar, respirar e reaprender o tempo.
Descansar, ali, parecia uma tarefa mais difícil do que eu imaginava. É como se o corpo tivesse desaprendido a parar, repousar. Como se a pausa tivesse virado uma fórmula inalcançável.
Fazer nada parece ter virado um crime inafiançável. Byung-Chul Han chama isso de autoexploração. Quando a cobrança não vem mais de fora, mas de dentro. Você é seu próprio gestor. Seu próprio relógio. Seu próprio chicote.
Estamos sempre em modo desempenho. Mesmo no descanso, tentamos ser eficientes: “vou aproveitar para ouvir um podcast”, “vou ler algo útil”, “vou dar uma olhada rápida no e- mail”.

E, assim, vamos nos desconectando do que é essencial: o tédio, o vazio, o silêncio. Coisas que não produzem resultado imediato, mas que sustentam tudo o que importa no longo prazo: atenção, presença, criatividade, saúde.
Estamos tão cansados que já nem percebemos que estamos nos exaurindo. No fundo, talvez a pergunta não seja mais “como descansar”, mas sim como reaprender a existir sem estar produzindo o tempo inteiro.
Talvez a grande inovação agora não seja acelerar ainda mais. Seja parar, respirar e reaprender o tempo. Quem sabe, perceber, mesmo que aos poucos, que o descanso não é o oposto de trabalho, é o que torna o trabalho possível.
Até a próxima.
