Sua estratégia de privacidade é sua estratégia de dados
Quando saio de casa para correr, uso um aplicativo para transformar em dados as informações sobre a minha corrida. Às vezes, quando chove ou está muito quente, pratico ciclismo em um estúdio fechado – e dentro da sala não é permitido o uso de celular.
Uma das minhas curiosidades é saber se meu ciclo menstrual influencia na minha performance e se o tipo de proteína que como faz diferença na quantidade de calorias que perco em cada sessão.
Para não me perder no meu ciclo menstrual, uso outro aplicativo, e para registrar o tipo de comida que consumo, mais um aplicativo. Também pratico muay thai, e a frequência fica registrada em mais um app.
Sei bem que todas essas atividades estão relacionadas em um delicado ecossistema, mas não consigo decifrá-lo porque, apesar da Lei Geral de Proteção de Dados brasileira, a LGPD, mencionar o direito de baixar os dados e também a interoperabilidade dos mesmos, ninguém cumpre. É algo simples e, ao mesmo tempo, mostra que as empresas não estão preparadas para a inteligência artificial generativa.
Mas o que a inteligência artificial tem a ver com privacidade?
se eu tivesse controle sobre meus dados, o mercado se elevaria a outro nível, pois a competição nos serviços dispararia uma onda de melhorias significativas em privacidade e segurança.
Assisti ao Mark Zuckerberg falar sobre sua estratégia de IA, que pressupõe a certeza de que cada vez mais vamos interagir com assistentes de IA. O investidor Gene Munster apontou a vantagem que a Apple tem sobre as outras empresas ao dizer que “a Apple tem a maior oportunidade entre as grandes de ser pioneira na IA personalizada devido às suas práticas de privacidade e segurança”, acrescentando que esse mercado deve adicionar pelo menos US$ 45 bilhões por trimestre aos resultados da empresa.
Se eu desse acesso a uma IA personalizada às minhas informações guardadas em cada aplicativo, esse assistente seria capaz de me ajudar a otimizar minhas atividades, responder perguntas simples ou até auxiliar o meu médico a me acompanhar. Para que isso fosse verdade, eu deveria ter gerência sobre meus dados (afinal, são meus!) para conceder acesso ao meu hipotético assistente pessoal.
Além disso, se eu tivesse controle sobre meus dados, o mercado se elevaria a outro nível, pois a competição nos serviços dispararia uma onda de melhorias significativas em privacidade e segurança entre as concorrentes – inclusive criando novos negócios. A minha quantidade de escolhas também acabaria por puxar essa competição saudável entre as empresas que coletam dados.
Para que as empresas cheguem lá, precisam ser capazes tecnicamente de fornecer dados padronizados para os seus usuários, permitindo total controle e transparência sobre as informações que pertencem às pessoas. Enquanto isso não acontece, uma mina de ouro permanece bloqueada nos apps do meu celular.