Três forças que vão redefinir o século 21: longevidade, clima e inteligência artificial

Esses temas nos obrigam a lidar com a mesma pergunta: como queremos viver – e por quanto tempo podemos sustentar esse modo de vida?

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Mórris Litvak 4 minutos de leitura

O envelhecimento populacional, a emergência climática e a revolução da IA não são crises isoladas – são sintomas de um mundo em transformação. A resposta está na forma como nos relacionamos com o tempo, as gerações e o planeta.

Vivemos um tempo em que tudo parece acelerado: mudanças climáticas, avanços tecnológicos, transformações sociais. E, ao mesmo tempo, temos uma revolução silenciosa acontecendo: estamos vivendo mais, com populações envelhecendo rapidamente em todo o mundo.

Esses três grandes movimentos – longevidade, clima e IA – não podem mais ser pensados de forma separada. Eles estão profundamente conectados e exigem uma nova consciência coletiva.

A BOMBA RELÓGIO DEMOGRÁFICA

A população brasileira está envelhecendo rapidamente. Segundo o IBGE, em 2030, o número de pessoas com mais de 60 anos vai ultrapassar o de crianças até 14 anos.

Esse cenário impacta diretamente o mercado de trabalho, os sistemas de saúde e os modelos previdenciários, e também desafia a maneira como enxergamos o papel social das pessoas mais velhas. E se, em vez de tratar isso como um problema, encararmos como uma oportunidade?

O envelhecimento pode ser um dos motores de inovação do século, desde que saibamos incluir, ouvir e valorizar todas as gerações. A experiência, a visão estratégica e o tempo vivido são ativos poderosos em qualquer transformação.

CLIMA: O TEMPO  DO PLANETA VERSUS O NOSSO TEMPO

A emergência climática é, acima de tudo, uma crise de tempo. Estamos produzindo, consumindo e destruindo em um ritmo que o planeta não consegue acompanhar. Segundo a ONU, temos até 2030 para reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa se quisermos evitar um colapso ambiental.

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Talvez a maior lição da longevidade seja essa: precisamos aprender a viver em ciclos mais lentos, sustentáveis e conscientes. Pessoas mais velhas, que já atravessaram outras crises e possuem perspectiva histórica, podem nos ajudar a reencontrar esse equilíbrio – se tivermos escuta e humildade intergeracional.

A REVOLUÇÃO  DA IA: INTELIGÊNCIA SEM EXPERIÊNCIA?

A inteligência artificial está mudando tudo – do trabalho à saúde, da arte à política. Mas, por mais impressionante que seja, a IA ainda depende de contexto, curadoria e senso crítico. Isso é algo que só a experiência humana pode oferecer.

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Vivemos a ilusão de que o novo é automaticamente melhor. No entanto, sem repertório, não há inteligência real. Pessoas com mais vivência têm um papel essencial na era da IA: são elas que fazem as melhores perguntas, reconhecem padrões e trazem ética e responsabilidade ao centro do debate tecnológico.

DESAFIOS ÉTICOS E SOCIAIS

Precisamos abordar com seriedade os dilemas éticos relacionados à inteligência artificial, especialmente como a falta de diversidade etária nas decisões pode agravar desigualdades e preconceitos.

Além disso, precisamos considerar o conceito de justiça climática, pois idosos e grupos mais vulneráveis são frequentemente os que mais sofrem com crises ambientais, apesar de serem os que menos contribuem para elas.

UM NOVO PACTO ENTRE GERAÇÕES, PLANETA E TECNOLOGIA

Essas três forças – longevidade, clima e IA – não precisam entrar em conflito. Elas podem se complementar. A tecnologia pode nos ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A longevidade pode nos ensinar a viver com mais consciência. E a combinação entre gerações pode gerar soluções mais criativas, humanas e sustentáveis.

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Jovens, com sua energia e visão inovadora, podem aprender muito com a resiliência e experiência dos mais velhos. Da mesma forma, pessoas mais experientes podem se beneficiar da criatividade e da rapidez de adaptação dos mais novos.

O QUE PODEMOS FAZER HOJE?

Nas empresas: criar comitês intergeracionais para decisões estratégicas envolvendo IA e sustentabilidade, garantindo diversidade etária e perspectivas plurais.

Nas escolas e universidades: introduzir currículos que abordem simultaneamente alfabetização digital, educação climática e
longevidade/ valorização da diversidade etária.

No governo: implementar políticas públicas que estimulem empresas a contratarem e manterem profissionais 50+, reconhecendo-os como agentes essenciais em inovação e sustentabilidade.

NÃO É SOBRE TECNOLOGIA, É SOBRE TEMPO

No fundo, todos esses temas nos obrigam a lidar com a mesma pergunta: como queremos viver – e por quanto tempo podemos sustentar esse modo de vida?

A resposta talvez esteja em desacelerar, incluir mais vozes (especialmente as que foram silenciadas) e fazer as pazes com o tempo: o do planeta, o das pessoas e o das ideias.

Empresas, educadores, líderes e cidadãos, o convite está feito: vamos construir juntos este futuro inclusivo, ético e sustentável. O primeiro passo é seu.


SOBRE O AUTOR

Mórris Litvak é fundador e CEO da Maturi, plataforma líder no Brasil para profissionais 50+. Engenheiro de Software pela FIAP, com pós... saiba mais