Um brinde ao trabalho remoto
A mesa em volta da qual nos sentamos hoje é a da minha casa, a da sua, a do nosso colega de trabalho – na cidade ou no país que for. Hoje a nossa confraternização é virtual. De todo e qualquer lugar, a uma tela de distância, estamos reunidos para brindar a algo que transformou a maneira como trabalhamos e nos relacionamos. Vamos, ergamos nossos copos e brindemos a essa familiaridade que ganhamos com trabalhar remotamente.
Quando Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, declarou pandemia (naquele inesquecível 11 de março, dois anos atrás), os principais ingredientes que faziam o modelo de negócio do Airbnb ser bem-sucedido – viagem e aluguel de imóveis – ficaram em cheque. Depois de 12 anos de vida, a empresa de aluguéis por temporada demitiria 25% dos seus colaboradores para sobreviver e não tinha ideia de como chegaria ao final do ano. Era um baita de um desafio.
Aqui no Brasil, eu estava diante de um problema parecido. Depois de nove anos reunindo grupos em espaços cuidadosamente selecionados e planejados, servindo um cardápio que levou um setênio para ser desenvolvido, sobre uma mesa que projetamos e confeccionamos, posta com materiais que levaram anos para serem simplificados ao extremo, o que fazíamos estava suspenso.
Se Brian Chelsky, co-fundador do Airbnb, tivesse me ligado naquela semana de 11 de março, eu teria dito: a ferramenta mais eficiente que conheço para resolver problemas dessa complexidade simplesmente não está disponível. A Bárbara de março de 2020 não acreditava que um problema como o do Airbnb nos primórdios da crise poderia ser resolvido à distância, com pessoas trabalhando de suas casas em qualquer lugar do planeta.
PAIXÃO E CONVERSÃO
Eu estava convencida, depois de ver tantos grupos chegarem a soluções de forma presencial, de que o que levava à performance extraordinária comum dentro do universo que criamos era o fato de que as pessoas se encantavam umas pelas outras. Era como se, por estar na presença de gente tão comprometida, experiente, apaixonada, todo convidado se sentisse compelido ao compromisso. Eu tinha certeza que esse encantamento mútuo era construído nos momentos de intervalo. Esse tipo de conexão, eu pensava à época, só poderia acontecer pessoalmente.
as pessoas se apaixonam pela possibilidade de realmente resolver um problema.
Eu estava errada. Na verdade, as pessoas se apaixonam pela possibilidade de realmente resolver um problema. Desde maio de 2020, vi a equipe da Mesa e os nossos convidados fazerem coisas incríveis de forma remota porque o que os movia – e os move – é chegar a uma solução. E vi donos de problemas absolutamente céticos se converterem ao formato remoto.
Hoje, afirmo com certeza que não é preciso estar junto presencialmente para resolver um desafio. Arrisco dizer que as soluções criadas remotamente têm sido melhores, uma vez que alcançamos talentos ainda mais diversos, contribuindo significativamente para a inovação dos projetos.
No entanto, também afirmo que há coisas que só acontecem quando estamos juntos. E é essa equação que tantos de nós teremos que resolver nos próximos anos.
Muitas empresas estão testando o formato híbrido: alguns dias por semana o colaborador fica onde quiser; em outros dias da mesma semana precisa estar no escritório fixo da empresa. Há um argumento pertinente sobre cultura empresarial: estar fisicamente junto é um modo de “encharcar” alguém com o jeito daquela organização.
Quem chega aprende muito escutando um par falar ao telefone com um fornecedor; ou observando a interação entre colegas de trabalho durante o almoço. No entanto, esse modelo não dá conta da variável que, na minha visão, se consolida como a mais relevante para o mundo em que vivemos.
MODELO HÍBRIDO
“Flexibilidade só não será mais valioso que remuneração”, disse Brian Chesky em uma entrevista para David Rubenstein, no momento em que o Airbnb anunciou que seus colaboradores podem viver e trabalhar de qualquer lugar no mundo. Gostei das soluções propostas por eles. A partir de agora, os salários serão definidos por país e não mais por cidade. Os colaboradores podem morar em qualquer lugar do planeta por até 90 dias e, periodicamente, haverá encontros presenciais com as equipes.
Há coisas que só acontecem quando estamos juntos. Essa é a equação que teremos que resolver nos próximos anos.
Na Mesa, optamos por uma política que atrela os colaboradores fixos em uma entre três cidades de residência (Los Angeles, Nova York ou São Paulo). Essas cidades determinam salários e horas de trabalho. Desde que consigamos garantir qualidade de internet e ao menos quatro horas de trabalho diário conjugado com o fuso de São Paulo, podemos morar onde quisermos. Cabe a cada um estar em sua sede de residência quando há encontros compulsórios.
Hoje, o time fixo está espalhado em seis cidades. Em alguns momentos, organizamos encontros que, embora conectados com o trabalho, têm um forte aspecto celebratório. Esses encontros são pensados com mais propósito e intensidade, já que sabemos que não são uma necessidade para o trabalho em si, mas sim para a conexão profunda da qual humanos tanto gostam.
Compreender que o resultado do trabalho remoto não deixa nada a desejar nos tornou melhores em construir momentos presenciais. Por isso, hoje eu ergo meu copo, diante da minha tela, e faço um brinde ao trabalho remoto e à liberdade de estar onde quisermos que ele trouxe, sem qualquer prejuízo para o resultado gerado.