Uma jornada de liderança, identidade e impacto
Se há uma coisa que aprendi em Santa Fé, com Alan Webber e com minha própria jornada, é que o futuro pertence àquelas pessoas que ousam ser diferentes
Santa Fé, no Novo México (no sudoeste dos EUA), ocupa um lugar especial no meu coração. É uma cidade onde as montanhas parecem vibrar com uma sabedoria ancestral, onde arte e cultura se encontram de formas que despertam transformações.
Foi lá que, ainda jovem – uma pessoa queer brasileira nos meus 20 e poucos anos –, encontrei algo que eu nem sabia que estava procurando: eu mesmo.
Fui para Santa Fé para trabalhar em um dos meus documentários e me reconectar com a natureza. Mas o que encontrei foi uma profunda reconexão com minha própria queerness e com a comunidade local LGBTQIAP+.
Santa Fé me acolheu de braços abertos e me mostrou que a orientação sexual e minha identidade trans não era um fardo a ser carregado, mas sim um presente a ser abraçado, principalmente conhecendo a ancestralidade da comunidade 2 Spirit e a não binariedade pela lente ancestral.
Foi lá que eu finalmente pude me reconciliar com minha identidade trans de forma mais profunda, cercado por pessoas criativas, sonhadoras e buscadoras — pessoas que não tinham medo de serem elas mesmas em um mundo que muitas vezes exige conformidade.
Agora, em 2025, retorno a Santa Fé em um momento muito diferente da minha vida. Hoje, sou uma das pessoas CEO trans e não binárias bem-sucedidas, liderando o trabalho transformador de uma década à frente do Instituto do [SSEX BBOX] e pioneiro de conversas sobre gênero, linguagem, equidade e diversidade, participando do mundo dos negócios.
Mas, mesmo com todos os reconhecimentos e manchetes, percebi algo fundamental: a jornada do empreendedorismo nunca é um ato solitário. Ela é construída com base em histórias, pessoas mentoras e inspirações que iluminam o nosso caminho.
É por isso que estou escrevendo este artigo. Porque uma das histórias que me inspiraram é a história da Fast Company. E, mais especificamente, a história de seu cofundador, Alan Webber – que hoje é prefeito de Santa Fé.
Sua identidade importa. E sua liderança, enraizada na autenticidade e no propósito, tem o poder de transformar o mundo.
Na década de 1990, Alan Webber e seu parceiro Bill Taylor imaginaram um tipo diferente de revista de negócios. Eles viram um mundo em transformação – uma nova geração questionando as velhas formas de trabalhar, valorizando significado em vez de apenas dinheiro, e diversidade em vez de uniformidade.
As revistas de negócios tradicionais não estavam acompanhando essas mudanças. Se você olhasse para as capas da "Forbes" e da "Fortune", sempre eram os mesmos homens brancos: Steve Jobs, Bill Gates, Jack Welch, Warren Buffett.
Mas Alan percebeu o que eu também vi ao longo da minha carreira: o mundo não se parece mais com isso. O mundo é mais queer. É mais diverso. E é impulsionado por pessoas que não se encaixam nos moldes antigos.
Alan e Bill imaginaram uma publicação que amplificasse as vozes dos agentes de mudança, dos disruptores e dos inovadores de todas as esferas. Eles criaram a Fast Company, que se tornou mais do que uma revista – tornou-se um movimento.
Hoje, eu vejo a mim mesmo nessa história. Vejo minha própria jornada como empreendedor queer e alguém que desafia as normas, refletida na crença de Alan de que os negócios não se tratam apenas de ganhar dinheiro – trata-se de fazer a diferença.
Quando comecei minha jornada como CEO da [DIVERSITY BBOX], ninguém no Brasil falava sobre diversidade na liderança como estávamos propondo. Mesmo hoje, com as conversas sobre diversidade crescendo, ainda há uma suposição persistente de que CEOs têm uma certa aparência – geralmente homens cisgêneros, brancos e heterossexuais.
Mas essa não é a realidade. Eu vivi uma realidade diferente.
No meu trabalho com a [DIVERSITY BBOX] consultoria e o Instituto [SSEX BBOX], criei plataformas que moldaram e transformaram a maneira como as empresas abordam gênero e diversidade no país.
Desafiamos sistemas ultrapassados e trouxemos a linguagem neutra e inclusiva, a sigla LGBTQIAP+, a primeira trans pride do Brasil e perspectivas não binárias para salas de reunião que antes viam o gênero de forma binária. Não foi fácil.
nunca nos esqueçamos de que as melhores ideias, aquelas que moldam o futuro, vêm de quem se recusa a seguir o status quo.
Enfrentei resistência. Tive minhas ideias apropriadas por muita gente e rejeitadas por pessoas que não conseguiam entender por que uma pessoa trans e não binária tinha algo a dizer sobre liderança. Mas, assim como Alan Webber viu nos anos 1990, o mundo está mudando – e os líderes precisam mudar junto.
Então, por que escrever este artigo agora? Porque a Fast Company Brasil está comemorando quatro anos, e este parece ser o momento certo para fechar esse círculo.
A Fast Company foi um farol para mim – um lembrete de que a inovação e a criatividade prosperam quando há espaço para novas vozes, perspectivas diversas e ideias ousadas. Ela me ensinou que liderança não é sobre se encaixar nos moldes antigos. É sobre quebrar esses moldes.
E, enquanto estava em Santa Fé, refletindo sobre a jornada que me trouxe de volta a esta cidade, não posso deixar de pensar na história de Alan Webber. Ele não criou apenas uma revista. Ele criou uma plataforma para pessoas como eu – pessoas que se recusam a ser encaixadas em noções ultrapassadas de quem pode ou deve liderar.
Enquanto celebramos os quatro anos da Fast Company Brasil, quero que este artigo sirva como um lembrete para cada empreendedor, líder e sonhador:
“O futuro dos negócios não é sobre quanto dinheiro você ganha. É sobre quanto significado você cria.”
Alan Weber
Para aquelas pessoas que, como eu, estão trilhando novos caminhos nos negócios enquanto permanecem fiéis a quem realmente são, lembrem-se disso: sua história importa. Sua identidade importa. E sua liderança, enraizada na autenticidade e no propósito, tem o poder de transformar o mundo.
Porque, se há uma coisa que aprendi em Santa Fé, com Alan Webber e com minha própria jornada, é que o futuro pertence àquelas pessoas que ousam ser diferentes.
UMA NOVA FORMA DE LIDERANÇA
Enquanto olhamos para o próximo capítulo da Fast Company Brasil, precisamos perguntar: quais histórias ainda não estamos contando? Quais vozes precisam ser amplificadas?
Vamos abrir espaço para essas histórias. Vamos destacar líderes que, como Alan Webber, viram uma lacuna e a preencheram com algo transformador. Vamos celebrar empreendedories que, como eu, construíram negócios baseados em diversidade e autenticidade.
E nunca nos esqueçamos de que as melhores ideias – aquelas que moldam o futuro – vêm de quem se recusa a seguir o status quo.
Aqui está o próximo capítulo da Fast Company Brasil. E aqui estão as lideranças que estão reinventando o futuro de formas que jamais imaginamos.