Você tá pronto pra crescer?


Cristina Naumovs 2 minutos de leitura

Desde 2018, quando comecei a trabalhar com grandes corporações, descobri o fenômeno das perguntas anônimas em reuniões de time. “Quando vem o aumento? Quando você vai deixar de ser um escroto? Por que a gente não consegue ser um lugar mais saudável pra trabalhar? Diversidade só serve pra encher o saco”. Essas foram algumas das perguntas que já vi e que foram votadas para serem respondidas pelos chefes ao final dos papos.

Pra quem serve essa virulência anônima? Quem ganha com isso? O fígado de quem escreve, provavelmente. Nunca entendi as pessoas não abrirem seus microfones ou levantarem a mão e fazerem uma pergunta, mesmo que seja difícil. O conteúdo pode ser o mesmo, a carga pode ser melhor. A gente sempre diz que quer ser tratado como adulto, adora falar do livro do Reed Hastings e a cultura da Netflix, de liberdade e responsabilidade, em que funcionários são adultos formados, que precisam agir como tal. 

Então, que horas a gente se perde nessas picuinhas quinta série como se vê na planilha anual – e anônima, claro – sobre agências de publicidade. Fulana é feia, xixi e côco. Mas mais que isso: o anonimato deixa escorrer toda a escrotidão humana que a identificação faz com que a gente guarde, ou pelo menos controle. Você acha que ganha pouco? Que não é reconhecido? Marca um papo com seu chefe e diz com todas as letras. Ou troca de emprego, troca de área, mas faz alguma coisa que seja produtiva, que mova alguma coisa.

Sei que tô meio caga regra aqui, mas é a única maneira das coisas mudarem. O anonimato serve também pra que nada mude, já que não tá endereçado, não tenho que dar updates pra ninguém se consegui o aumento ou o reconhecimento. Na real, faz pouquíssimo sentido pra todo mundo esse jeito de trabalhar, pra quem ataca e pra quem é atacado. Claro que pode ser um esporte ir falar mal de alguém numa planilha anônima ou em um fórum de reunião que ninguém sabe quem fez aquela pergunta, mas vale menos que um lance de escada que você subir por dia.

O anonimato serve também pra que nada mude

A gente precisa pensar mais em por quê as perguntas não podem ser feitas abertamente. Se existe um ambiente de trabalho que não permite isso, a gente gasta tempo fazendo pergunta anônima e não tentando melhorar o ambiente? Faz sentido pra você que seja desse jeito? Pra mim, faz zero. Porque a semana que vem, vamos precisar de mais um desses sites que fazem perguntas anônimas pra saber por que determinado lugar não é um bom lugar para se trabalhar.

Acho que tá na hora da gente entender de verdade liberdade e responsabilidade, entender que precisamos aprender a fazer perguntas difíceis sem que isso vire um cavalo de batalha e também aprendamos a lidar com as respostas que possam vir. Porque uma resposta que não me deixa satisfeita, também me obriga a me mover (ou deveria, pelo menos). 

Então, a pergunta que eu te faço abertamente é: você tá pronto pra crescer? 

Este texto é de responsabilidade de seu autor e não reflete, necessariamente, a opinião da Fast Company Brasil


SOBRE A AUTORA

Cristina Naumovs é consultora de criatividade e inovação para marcas como Ambev, Doritos e Havaianas, entre outras. Tem passagens pela... saiba mais