Washington segue surpreendente

Nos dias de hoje, em que tantos destilam ódio nas redes sociais Washington Olivetto nos presenteia com uma rede totalmente feita de afeto

Crédito: Fast Company Brasil

Marcio Borges 3 minutos de leitura

Confesso que me faltava coragem para escrever este texto. Uma total paralisia se apoderou de mim, fruto ainda da negação e da covardia de aceitar o que  aconteceu de fato.

A notícia da passagem do Washington, no domingo 13 de outubro à tardinha, será uma daquelas notícias marcantes que entram profundamente na nossa memória e que faz a gente se lembrar pelo resto das nossas vidas onde e em que circunstâncias estávamos quando a recebemos.

Em questão de minutos, a notícia já tinha tomado os veículos de comunicação e, em seguida, todos falavam sobre o Washington Olivetto nas redes sociais.

Embora fosse uma notícia bem possível (esperada ela nunca foi), pelo menos para alguns de nós que acompanhamos de perto os últimos acontecimentos, era ainda assim devastadora.

Se tinha esse poder avassalador para quem sabia da gravidade, imagine para quem foi totalmente pego de surpresa. Surpreender é uma das características que fazem do Olivetto uma pessoa excepcional. 

Conheci o Javier Llussá (um dos sócios fundadores da W/GGK e depois W/Brasil) em 2001, apresentado por amigos em comum – Rodrigo Amado, Carlos Nolasco e Ricardo Real –, em uma época em que as pessoas telefonavam uma para as outras.

Em abril de 2004, querendo conselhos para a minha carreira e com algumas ideias na cabeça, telefonei para o Javier e disse exatamente isso: tenho algumas ideias e gostaria de conselhos, no que ele me respondeu prontamente com a pergunta – quando você pode vir a São Paulo?

Na mesma semana estava lá no prédio da Novo Horizonte para uma conversa que, em 20 minutos – de pé – se transformou na oportunidade de abrir o escritório da W/Brasil no Rio de Janeiro.

Sede da W/Brasil em São Paulo (Crédito Reprodução)

Ele e Washington deram a oportunidade para um jovem publicitário de 30 anos abrir um negócio com o W na porta, fato que se concretizou em junho de 2004. Surpreendente para mim, que tinha umas ideias – e agora tenho uma história.

É notória a paixão dele pelo Rio. Conhecia a cidade como poucos e frequentava o subúrbio e a zona sul da mesma forma. Sou testemunha e, como prova disso, temos inúmeras campanhas que têm o Rio e seus personagens como protagonistas, além de diversos artigos escritos sobre o Rio de Janeiro.

Cidadão carioca, com título concedido pela Câmara Municipal, criou frases que mostravam claramente esse amor, tais como "existem dois tipos de paulistas, os que amam o Rio e os que mentem"; ou "das cinco maiores metrópoles do mundo São Paulo é disparada a melhor porque é a única que está a 45 minutos do Rio".

Ele conhecia o Rio de Janeiro como poucos e frequentava o subúrbio e a zona sul da mesma forma.

Embora tivesse todas as razões do mundo para temer pela sua segurança, nunca teve medo de ir a lugar algum. Uma surpreendente coincidência ele deixar esse plano exatamente na cidade brasileira que mais amava.

Estes últimos dias, como forma de amparo e conforto, estive com muitos amigos próximos, com a família.

Também li, assisti e ouvi muitos depoimentos de pessoas as mais diversas possíveis. De publicitários brasileiros e estrangeiros, de garçons, de maitres, de músicos, de atores e atrizes, de apresentadores, de artistas plásticos, de diretores de cena, de produtores, de jornalistas, de escritores, de empresários, de juristas, de jogadores, de acadêmicos, do Presidente da República, da Fiel do Corinthians e até do Flamengo. Muitos tinham vivido algum momento especial com ele.

Nos dias de hoje, em que tantos destilam ódio nas redes sociais para procurar engajamento, o Washington nos presenteia com uma rede totalmente feita de afeto. Encorajador e surpreendente – como sempre.

Obrigado, Washington.


SOBRE O AUTOR

Marcio Borges é pesquisador associado do Laboratório de Estudos da Internet e Redes Sociais da UFRJ (NetLab). saiba mais