A arte oculta nas espadas dos samurais renasce em joias contemporâneas

Inspirada em guardas de espadas do século 16, a designer Monica Rich Kosann lança joias que unem tradição japonesa e empoderamento feminino

joias inspiradas em espadas de samurais
Crédito: Monica Rich Kosann

Elizabeth Segran 3 minutos de leitura

Quando guerreiros samurais entravam em batalha no Japão do século 16, suas espadas carregavam mais do que lâminas afiadas: traziam consigo obras de arte ocultas. No tsuba, o protetor de mão localizado na base da lâmina, artesãos dedicavam horas a criar belos e intrincados desenhos – flores, animais e paisagens que uniam técnica e espiritualidade.

O Museu de Belas Artes de Boston (MFA), que abriga uma das maiores coleções de arte japonesa dos Estados Unidos (incluindo centenas de tsubas), decidiu trazer esse legado ao presente.

Em parceria com a designer de joias Monica Rich Kosann, o museu está lançando uma coleção de colares inspirados em três desses protetores: um com garça, outro com tartaruga e um terceiro com borboleta. As peças, feitas em ouro e prata e uma delas cravejada de diamantes, custam entre US$ 925 e US$ 3.050.

Kosann examinou cada um dos tsubas da coleção do MFA antes de escolher esses três motivos. A garça representa boa sorte; a tartaruga simboliza vida longa – dois desejos fundamentais para um samurai que seguia para a batalha.

Mas havia também o reconhecimento da morte iminente. “A borboleta simbolizava uma vida curta, porém plena e gloriosa”, diz Kosann. “Acho isso profundamente comovente e algo com que muitas pessoas podem se identificar.”

Segundo Sarah Thompson, curadora de gravuras japonesas do museu, a maioria dos tsubas preservados data do século 16, período em que o Japão vivia uma longa guerra civil. Os artesãos fabricavam essas peças com metais preciosos, geralmente ferro combinado a ligas típicas da ourivesaria japonesa, como o shibuichi (cobre com prata) e o shakudō (cobre com ouro).

joias encrustadas no cabo de espadas de samurais
Crédito: Monica Rich Kosann

Com o tempo, os tsubas deixaram de ser apenas elementos funcionais e passaram a simbolizar status e linhagem. “Pelo que sabemos, o design de cada tsuba era escolhido pessoalmente por seu dono”, explica Thompson. “Como podiam ser montados de diferentes maneiras na espada, era comum que um guerreiro tivesse várias opções para trocar.”

Kosann se sentiu imediatamente atraída pelo projeto, já que sua carreira sempre se baseou em contar histórias por meio da joalheria.

joias inspiradas em espadas de samurais
Crédito: Monica Rich Kosann

Quando lançou sua marca homônima há duas décadas, concentrou-se em pingentes e relicários inspirados em peças antigas encontradas em mercados vintage – pequenos objetos que permitiam às pessoas narrar suas próprias histórias e homenagear os que amavam.

Hoje, embora o nome Kosann ainda seja sinônimo de relicários, sua linha inclui uma ampla gama de joias que refletem identidade e significado pessoal.

pingentes inspirados em joias encrustadas no cabo de espadas de samurais
Crédito: Monica Rich Kosann

Em uma de suas coleções, ela revisita fábulas e contos de fadas: há um pingente com uma maçã vermelha, símbolo que atravessa desde o Jardim do Éden até Branca de Neve, reinterpretado por ela como um emblema de empoderamento. Outro pingente, inspirado na fábula da lebre e da tartaruga, combina turmalina verde e diamantes brancos.

De certa forma, a coleção criada para o MFA representa um desvio da trajetória habitual da artista: agora, sua inspiração vem de uma arte concebida originalmente para homens que a levavam ao campo de batalha – um espaço dominado pela masculinidade.

Ainda assim, Kosann acredita que o simbolismo dos tsubas fala diretamente à mulher contemporânea, que também busca expressar coragem e propósito.

“Penso na borboleta. Ela representa transformação e beleza, e nos lembra que não é a duração da vida que importa, mas o quão bem vivemos”, reflete a designer.


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais