A história de amor e negócios por trás da rena mais famosa do Papai Noel

Um redator de uma rede de lojas de departamentos sonhava em escrever o grande romance americano, mas acabou criando um ícone do Natal

Crédito: Wikimedia Commons

Shannon Cudd 3 minutos de leitura

Graças a vários livros, uma canção de Natal famosa, vários especiais de TV e inúmeros produtos, Rudolph, a rena do nariz vermelho, certamente é a rena mais famosa de todas. 

A história de sua origem, no entanto, é surpreendentemente corporativa. Ela tem a ver com o poder dos brindes e o sentimento universal de estar deslocado.  

Em 1939, Robert L. May estava trabalhando como redator publicitário na Montgomery Ward, uma rede de lojas de departamentos e empresa de catálogos com sede em Chicago. May sonhava em escrever o grande romance americano, mas as coisas não saíram como esperado.

Durante as festas de fim de ano, a Montgomery Ward tinha a tradição de distribuir livretos infantis a quem fazia compras de Natal em suas lojas. Eles costumavam encomendar esses livros, mas naquele ano decidiram que seria mais barato produzir suas próprias histórias. 

O chefe de May pediu que ele escrevesse a história infantil e sugeriu que ela tivesse um protagonista animal, porque a animação "O Touro Ferdinando" (1938), um popular curta-metragem produzido pelos estúdios de Walt Disney, tinha acabado de ser lançado.

May se inspirou em sua própria infância, quando se sentia deslocado, conforme relatou para a revista "Time" em 2018. Durante seus anos de escola, ele havia saltado várias séries. Por ser sempre mais jovem e menor do que os outros alunos, era tímido e nunca se sentiu aceito por seus colegas.

Sua filha de quatro anos, Barbara, também lhe serviu de inspiração. Ela adorava os cervos do Lincoln Park Zoo, o que lhe deu a ideia de criar uma rena, já que o animal tinha uma ligação com o Natal. Barbara também foi seu primeiro público, pois ele lia para ela todos os trechos conforme os terminava. 

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May encontrou consolo ao trabalhar nessa história natalina porque, na época, sua esposa, Evelyn, estava travando uma longa batalha contra o câncer. Meses após o início do projeto, ela faleceu.

Seu chefe se ofereceu para passar o trabalho para outra pessoa, mas May insistiu em continuar. “Eu precisava de Rudolph mais do que nunca”, lembrou em um  artigo de 1975 para o jornal "Gettysburg Times". “Com gratidão, mergulhei na escrita.”

May estava orgulhoso de seu trabalho e acreditava na história. Mas, quando a entregou, seu chefe não ficou nada impressionado. “Você não consegue pensar em nada melhor?”, May lembra de ter ouvido. Ele se juntou ao departamento de arte da loja para convencer ou chefe cético, que acabou concordando.

Apenas no primeiro ano, a Montgomery Ward distribuiu mais de dois milhões de exemplares. Os clientes adoraram. Mas May se viu viúvo e pai solteiro, mergulhado em dívidas médicas.

Ele continuou na empresa e, em 1946, recebeu uma oferta da RCA Victor para fazer um registro falado da história. Mas como a Montgomery Ward detinha os direitos sobre o livro, May não pôde aceitar a oferta. 

A notícia da proposta da RCA se espalhou até o presidente da rede de lojas, Sewell Avery, que acabou concordando em ceder a May os direitos autorais da história, livres e desembaraçados – mas não antes de usar o livro mais uma vez para o brinde de Natal de 1946. 

May aproveitou a oportunidade para capitalizar sua criação. Em 1947, encontrou uma pequena editora para produzir Rudolph em capa dura, bem a tempo para o Natal. Cem mil cópias foram impressas e vendidas por US$ 0,50 centavos. O registro oral do livro foi igualmente bem-sucedido.

a Rena do Nariz Vermelho se tornou parte da cultura norte-americana a partir da década de 1950.

No ano seguinte, May fez uma parceria com o marido de sua irmã, o compositor Johnny Marks, para criar uma adaptação musical de Rudolph. A música foi gravada pelo “cowboy cantor” Gene Autry em 1949 e se tornou um grande sucesso. 

Toneladas de produtos relacionados a Rudolph surgiram em seguida, transformando a Rena do Nariz Vermelho em uma parte autêntica da cultura norte-americana a partir da década de 1950. Em 1964, Rudolph se tornou o primeiro especial de televisão em stop-motion, que estreou na rede NBC.

Rudolph garantiu o futuro financeiro de May e mais um pouco. Ele morreu em 1976, aos 71 anos, tendo recebido royalties de centenas de produtos Rudolph e de sua famosa música. May vivenciou sua criação até o fim, sempre acreditando em seu tema de que “tolerância e perseverança podem superar as adversidades”.


SOBRE A AUTORA

Shannon Cudd é atriz e escritora. saiba mais