Adeus, roupa da moda: cansado de tendências, consumidor volta ao básico
Estilistas dizem que o público busca menos tendências e mais consistência – um alívio para o planeta

Lembra do início deste ano, quando um monte de gente aparecia nas redes sociais usando sapatos estranhos, como sapatilhas de balé feitas de tela? Ou elásticos de cabelo em formato de flor? Não se culpe se você perdeu esses momentos. Bastava piscar e a tendência já tinha acabado.
Nos últimos 15 anos, o ritmo das tendências de moda acelerou por causa das redes sociais e das marcas de fast fashion. Mas, nos últimos cinco anos, com o crescimento do TikTok e da Shein, tudo saiu de controle. Microtendências surgem em nichos da internet e duram apenas alguns dias antes de sumirem no esquecimento.
Chegou ao ponto de muita gente simplesmente perder o interesse em seguir tendências, pelo menos segundo a empresa de moda online e personal styling Stitch Fix. Todos os anos, ela analisa os dados de seus mais de dois milhões de clientes e reúne percepções dos estilistas que os atendem para prever comportamentos de compra.
Dois terços dos clientes têm manifestado “fadiga de tendências” e estão, em grande parte, ignorando o que está na moda. “As pessoas estão cansadas de tentar acompanhar o que é considerado ‘in’”, diz Amy Sullivan, vice-presidente de compras e marcas próprias da Stitch Fix.
Nos últimos anos, o clientes vinham buscando peças alinhadas ao momento: após a pandemia, aderiram ao “dopamine dressing”, com visuais coloridos e cheios de energia. No ano passado, buscavam o “luxo discreto”, a estética sofisticada e discreta popularizada pela série "Succession".
Mas, em 2025, ninguém parece saber (ou se importar) se existe um único estilo dominante. Em vez disso, estão pedindo peças clássicas e versáteis, como blusas pretas e camisas brancas. Para evitar que o visual fique monótono, querem peças de impacto, como belas joias ou bolsas coloridas, que acrescentem um toque de interesse visual.
A Stitch Fix identificou o tom “Chili Red” como uma cor capaz de dar vida a looks básicos. “A cor é uma forma de fazer peças neutras ganharem dinamismo”, diz Sullivan. “Estamos vendo as vendas de peças vermelhas crescer, mas elas geralmente aparecem como um pequeno ponto de cor no conjunto.”

Se faltava mais uma prova de que os consumidores estão dispensando tendências, os estilistas da Stitch Fix dizem que muitos clientes se inspiram no estilo de Jennifer Aniston e Anne Hathaway. Essas celebridades não são exatamente conhecidas por looks ousados: fora do tapete vermelho, costumam usar peças clássicas em tons neutros.
“Elas estão sempre impecáveis, são consistentes”, afirma Sullivan. “Têm um ponto de vista, mas também são acessíveis em seu jeito de se vestir.”


A Pantone, autoridade global em cores, também parece ter percebido o cansaço diante da velocidade das tendências. Para 2026, escolheu um tom de branco chamado Cloud Dancer como cor do ano – um matiz que comunica desejo de simplicidade em um momento no qual “a superestimulação da internet só aumenta”, como diz meu colega Mark Wilson.
Para quem se preocupa com sustentabilidade, esse cansaço dos consumidores é uma excelente notícia. Nas últimas duas décadas, com a aceleração das tendências, a indústria passou a produzir cada vez mais roupas. Marcas como a Shein fabricam peças baratas e de baixa qualidade que, na prática, são feitas para serem descartáveis.
Esse tsunami de roupas está destruindo o planeta. A fabricação consome recursos naturais e libera emissões de carbono, sendo que a maioria das peças é usada poucas vezes antes de acabar no lixo.

Uma das soluções para esse desastre ambiental é comprar menos roupas. E um caminho para isso é abandonar as tendências e focar na compra de peças essenciais, dentro do orçamento. Por isso, a previsão da Stitch Fix é animadora.
Mas será que a "abstinência de tendências" vai durar? Finalmente entramos em uma era pós-tendências? A executiva da Stitch Fix acredita que sim.
“Todos concordam que queremos investir em peças clássicas e duráveis como base do guarda-roupa”, afirma. “Não parece que vamos voltar a um tempo em que a indústria da moda ditava tendências que todos tinham de seguir. E há algo libertador nisso.”