Artistas escolhem um novo termo para “rebatizar” imagens criadas por IA
Expressão está ganhando força nas redes sociais. Será que vai pegar?
Há quase dois anos, o artista Boris Eldagsen virou manchete após vencer o prestigiado Sony World Photography Award com uma imagem gerada por inteligência artificial. No entanto, ele recusou o prêmio. “IA não é fotografia. Por isso, não aceitarei o prêmio”, explicou em seu site. Dias depois, Eldagsen levantou uma questão intrigante: “Então, o que é?”.
Quando programas como Midjourney e DALL-E começaram a se popularizar, as pessoas recorreram a termos já conhecidos para descrevê-las, como “fotografia de IA” ou “arte gerada por IA”. Porém, o processo de criar imagens com inteligência artificial é único e merece um termo próprio. A sugestão de Eldagsen? “Promptografia”.
Nos últimos anos, essa palavra tem vem ganhando força. No Instagram, a hashtag #promptography já foi usada mais de 80 mil vezes e cada vez mais artistas a utilizam para se referir às imagens que eles criam usando IA. Alguns, como Stefanie Lefebvre e Annika Nordenskiöld, até se autodenominam “promptógrafos” em suas bios.
O termo “promptografia” foi usado pela primeira vez pelo fotógrafo peruano Christian Vince em um post no Facebook, logo após Eldagsen renunciar ao prêmio Sony. Vince conta que o artista entrou em contato pedindo permissão para utilizar a expressão. “Acho que é uma palavra adequada para definir imagens fotorrealistas criadas com prompts”, comenta Vince.
Embora algumas pessoas prefiram o termo “sintografia” para descrever essas criações, Eldagsen acredita que ele soa inadequado, pois remete às roupas sintéticas dos anos 70. “A palavra ‘promptografia’ é mais clara, porque tudo que é gerado com IA é feito a partir de um prompt. A inteligência artificial não tem intencionalidade nem vontade própria”, explica.
Segundo ele, o termo funciona porque descreve claramente o processo. Enquanto a fotografia envolve um momento real com uma câmera, a criação com IA consiste em dar comandos para que o modelo os transforme em imagens. Ao chamá-las de “promptografias”, destacamos a diferença entre os processos.
“Você não chamaria uma pintura fotorrealista de fotografia”, argumenta Eldagsen.
UMA MUDANÇA NECESSÁRIA?
O problema é que muitas pessoas ainda não consideram o uso de inteligência artificial na criação de imagens como um trabalho artístico. E termos como “fotografia gerada por IA” soam pouco atrativos, além de imprecisos. Será que um novo nome pode ajudar a mudar essa percepção?
Para o artista Marcus Wallinder, cujo estilo foi transformado pelo uso de inteligência artificial, “promptografia” dá ao processo “um senso de intencionalidade e criatividade, destacando que essas imagens não surgem sem esforço”.
Artistas que trabalham com IA muitas vezes gastam horas refinando prompts e editando as imagens finais. Eldagsen compara o processo ao de um mixologista desenvolvendo um coquetel complexo.
Já Andrea Trabucco-Campos, sócio da Pentagram e autor de “Artificial Typography” (Tipografia Artificial), associa o uso da tecnologia ao trabalho de um curador ou diretor de arte.
Resta saber se a palavra “promptografia” será amplamente aceita ou se continuaremos usando termos mais genéricos. Para quem rejeita a IA, o nome talvez pouco importe.
Como resumiu um usuário no Instagram: “um promptógrafo é alguém que finge ser fotógrafo, sem entender nada de fotografia ou de seus fundamentos. Ele apenas usa inteligência artificial para fazer tudo e depois leva o crédito.”
Talvez este termo seja próximo demais de “fotógrafo”, o que pode incomodar algumas pessoas. Ainda assim, a força que ele vem ganhando nas redes sociais parece sugerir que já há uma maior aceitação da IA como ferramenta legítima de expressão artística.
Se, um dia, essa palavra entrar nos dicionários, não haverá mais dúvida quanto a isso.