Chegaram os jeans tingidos com corante biológico: o meio ambiente agradece

Corantes têxteis não apenas poluem a água, como também contribuem para as emissões de carbono. Pensando nisso, marca de jeans de luxo tem apostado em uma alternativa mais sustentável

Crédito: Citizens of Humanity

Elizabeth Segran 3 minutos de leitura

Se você se preocupa com o meio ambiente, já deve saber que tingir roupas tem um grande impacto negativo no planeta. Na China e em Bangladesh, por exemplo, rios próximos a polos de fabricação ficam escuros devido aos corantes que contaminam e envenenam a água.

E há um problema ainda maior: 99% são derivados de combustíveis fósseis, cuja produção emite 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.

Embora corantes sejam usados em diversas indústrias, a da moda – especialmente o setor de jeans – é uma das maiores consumidoras, utilizando cerca de dois milhões de toneladas por ano. E os três bilhões de jeans vendidos no mundo anualmente dependem de tingimento para obter sua cor característica.

Mas soluções mais ecológicas estão surgindo. Uma startup francesa chamada Pili desenvolveu um corante a partir de açúcares de origem vegetal, cuja produção tem uma pegada de carbono bem menor do que os métodos tradicionais à base de petróleo.

A marca de jeans de luxo Citizens of Humanity investiu na Pili e está lançando uma coleção que utiliza esses corantes. O mais impressionante é que as peças são visualmente idênticas às tingidas usando métodos convencionais.

Hoje, os corantes sintéticos são produzidos em laboratórios a partir de petróleo ou carvão, permitindo que uma ampla variedade de produtos ganhe cores vibrantes. Mas esse processo tem um alto custo ambiental e humano. Muitos dos químicos usados são cancerígenos, o que coloca em risco a saúde dos trabalhadores que lidam com esses materiais.

Além disso, durante o tingimento, as roupas precisam ser lavadas várias vezes para remover o excesso de corante, contaminando ainda mais os cursos d’água. E não podemos ignorar a pegada de carbono: tanto a extração de combustíveis fósseis quanto as altas temperaturas necessárias para as reações químicas consomem muita energia e liberam grandes quantidades de gases de efeito estufa.

Crédito: Citizens of Humanity

Alternativas ecológicas já existem, muitas delas baseadas em técnicas antigas de extração de pigmentos de plantas. Mas esses métodos apresentam desafios: alcançar cores consistentes em larga escala é complicado e criar uma nova cadeia de suprimentos pode ser um obstáculo para muitas marcas.

Foi pensando nisso que, há uma década, o CEO da Pili, Jérémie Blache, decidiu buscar uma maneira mais sustentável de produzir corantes químicos, começando pelo índigo usado no jeans.

Em vez de depender do petróleo, Blache e sua equipe desenvolveram um processo em que bactérias geneticamente modificadas produzem os pigmentos necessários.

“Nosso objetivo é substituir subprodutos de petróleo por corantes e pigmentos de origem biológica”, explica Blache. “A grande diferença é que nossa matéria-prima vem da biomassa.”

A Pili utiliza açúcares de beterraba, cana-de-açúcar, batata e milho, que passam por fermentação em tanques, em um processo semelhante ao de fabricação de cerveja. O corante é então separado das bactérias por meio de filtragem, uma técnica já comum na biofarmacêutica.

O resultado final é tão parecido com o corante tradicional que pode ser integrado diretamente à cadeia produtiva atual da indústria da moda, facilitando a adoção em larga escala.

Crédito: Citizens of Humanity

De acordo com auditorias independentes, o processo da Pili gera até 50% menos emissões de carbono do que os métodos convencionais. No entanto, o impacto ambiental ainda existe, já que os jeans precisam ser lavados diversas vezes para remover o excesso de corante – o mesmo acontece com os corantes tradicionais.

Em países com regulamentações ambientais fracas, fábricas de tingimento frequentemente descartam resíduos sem tratamento em rios e córregos. Por isso, a Pili prioriza parcerias com marcas que utilizam fábricas responsáveis e equipadas com sistemas de filtragem adequados.

Crédito: Citizens of Humanity

O maior desafio agora é convencer o restante da indústria a adotar essa tecnologia, que ainda tem um custo mais alto. Tingir um par de jeans com os corantes da Pili custa cerca de US$ 1,75, enquanto os corantes sintéticos tradicionais custam apenas alguns centavos.

Essa diferença de preço é uma barreira para marcas de fast fashion, que competem principalmente pelo custo. Mesmo assim, Blache está confiante de que o preço cairá com o tempo.

“Vai levar tempo para tornar esses corantes mais acessíveis”, ele reconhece. “Por isso, é tão importante poder contar com pioneiros dispostos a investir nessa tecnologia desde o início.”


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais