Cinema: se em 2024 vimos um festival de continuações, espere só 2025
Este ano você vai precisar do escudo do Capitão América para se defender da enxurrada hollywoodiana de continuações, novas versões e refilmagens
Cada um dos 10 filmes de maior bilheteria de 2024 nos EUA foram sequências – com exceção de “Wicked”, adaptação de um sucesso da Broadway baseado em um livro que se passa no universo de “O Mágico de Oz”.
Mas isso foi praticamente um aquecimento para o que está por vir. Se a familiaridade gera desprezo, prepare-se para ficar irritado com a quantidade de sequências que virão em 2025.
Embora não seja exatamente incomum que os filmes de maior bilheteria do ano tenham números em seus títulos – ou dois pontos, seguidos por subtítulos –, 2023 foi diferente. “Barbie” e “Oppenheimer” foram diferenciais em meio aos filmes de super-heróis. E você pode ter amado ou odiado “Som da Liberdade”, mas, pelo menos, não foi uma continuação.
Além dos maiores sucessos, em 2023 houve muitas comédias originais, como “Bottoms”, “Loucas em Apuros” e “Que Horas Eu te Pego?”. Mas, em vez de seguir nessa direção em 2024, a máquina de franquias parece ter se intensificado e roubado os holofotes de quase tudo ao seu redor. Essa tendência deve continuar no próximo ano.
O ANO DAS CONTINUAÇÕES – DE NOVO
Olhando para os principais lançamentos nos EUA em 2024, 26 sequências ou prequels chegaram aos cinemas. De acordo com uma lista do IMDb de lançamentos futuros, haverá 34 sequências ou prequels em 2025. Isso significa mais travessuras robóticas de M3GAN, mais páginas no diário de Bridget Jones e mais desafio à gravidade de todos os bons personagens de “Wicked”.
Não é que as sequências de Hollywood sejam necessariamente um ponto negativo. Muitas das que estrearam em 2024 foram sucesso tanto de crítica quanto de bilheteria. “Twisters” e “Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice” repetiram o truque de “Top Gun: Maverick” de revisitar filmes já meios esquecidos – e originais – sem parecerem meros caça-níqueis.
“Furiosa: Uma Saga Mad Max”, “A Primeira Profecia” e “Um Lugar Silencioso: Dia Um” usaram o formato de prequel (história que se passa antes do filme original) para dar nova vida às suas franquias. “Sorria 2” construiu muito bem o universo do original, ao mesmo tempo em que incluiu um pouco de crítica social. E seja lá o que “Alien: Romulus” foi – prequel, continuação, o que for –, foi incrível.
O problema é que estamos há muito tempo caminhando para uma era onde os únicos filmes que são lançados nos cinemas são extensões de franquias de grande orçamento, e mais sequências significam menos histórias inéditas. Afinal, é mais difícil provar que filmes originais ainda podem gerar lucro quando não há oportunidades suficientes para eles.
O primeiro ”Sorria”, por exemplo, foi pensado para o streaming na Paramount+ em 2022, até que exibições de teste positivas convenceram alguns executivos a lançá-lo nos cinemas, onde fez sucesso a ponto de ganhar uma sequência este ano.
CONTINUAÇÕES PARA ASSISTIR
Então, se a programação de 2025 deve estar lotada de continuações, pelo menos há muitos exemplos promissores. “Extermínio: A Evolução” reúne a equipe criativa do filme original – o diretor Danny Boyle, o roteirista Alex Garland e o astro Cillian Murphy — pela primeira vez em mais de 20 anos.
Após o sucesso no streaming de “O Predador: A Caçada” – que proporcionou à franquia Predador sua melhor história em décadas –, o diretor Dan Trachtenberg está retornando para “Predator: Badlands” (ainda sem título em português).
O spin-off “Ballerina” pode ser o impulso criativo que a série John Wick precisa, enquanto o próximo “Missão: Impossível” oferece a Tom Cruise a chance de encerrar essa franquia em alta, se ele escolher aceitar isso. E “Freakier Friday” (continuação de “Sexta-Feira Muito Louca”, com Jamie Lee Curtis) e “Mudança de Hábito 3” podem ser mais do que apenas isca para nostalgia dos millennials.
Esses filmes, no entanto, vão compartilhar as telas com títulos como “Jurassic World: Recomeço”, “Capitão América: Admirável Mundo Novo”, “Jogos Mortais 11” e muitos outros que parecem ter sido gerados por algoritmos no meio de uma reunião de diretoria.
Não há uma razão óbvia para explicar por que os lançamentos nos cinemas em 2024 arrecadaram várias centenas de milhões de dólares a menos do que em 2023. Mas, se mais continuações em 2025 não corrigirem o rumo, talvez seja hora de tentar uma ideia realmente original para Hollywood: ver se menos é mais.