Clippy (sim, ele mesmo) virou o mascote da resistência contra a coleta de dados
Campanha viral transforma o famoso clipe de papel da Microsoft em um símbolo improvável contra a coleta de dados, a obsolescência programada e os abusos das big techs

Quem não se lembra do Clippy, o famoso clipe de papel da Microsoft? De forma inesperada, ele voltou aos holofotes – agora como símbolo de protesto contra as grandes empresas de tecnologia.
O movimento começou quando o youtuber norte-americano Louis Rossmann publicou um vídeo no início do mês intitulado “Troque sua foto de perfil pelo Clippy. Estou falando sério”.
Os seguidores atenderam ao chamado e, agora, no YouTube, no X/ Twitter e em outras plataformas, fotos de perfil estão sendo substituídas pela imagem do antigo assistente do Office como uma forma de protesto silencioso contra a invasão das big techs no nosso dia a dia.
Rossmann, que há mais de uma década defende o reparo de eletrônicos e o direito ao conserto, busca mobilizar os consumidores contra práticas como coleta de dados para treinar inteligência artificial, venda de informações pessoais, obsolescência programada, censura e até ransomware.
“Não chamei isso de protesto porque não estou pedindo para ninguém boicotar um produto ou empresa específica. Não estou dizendo para parar de comprar em determinada loja ou jogar fora os iPhones – não é essa a questão”, explicou Rossmann à Fast Company. “Essa é apenas uma parte de um movimento maior e de longo prazo pelos direitos do consumidor e pela propriedade, que venho tentando construir com meu público há mais de 11 anos.”
Agora, esse movimento encontrou um mascote.
Entre 1998 e 2004, Clippy ficou famoso por aparecer oferecendo ajuda enquanto o usuário tentava trabalhar. Por mais irritante que fosse, era fácil dispensá-lo ou desativá-lo. E é justamente esse o ponto.
“Se você dissesse ao Clippy que estava tendo um dia ruim, ele não usaria essa informação para decidir qual anúncio mostrar, não tentaria roubar seus dados pessoais nem empurrar outros produtos da Microsoft. Ele não tinha segundas intenções”, diz Rossmann no vídeo que viralizou. “Ele só queria ajudar.”
O vídeo já ultrapassou 3,2 milhões de visualizações, para surpresa do criador. “Era para ser apenas um vídeo despretensioso, algo que gravei comentando o que estava na minha cabeça naquele dia”, contou à Fast Company. “Estou muito feliz que o banco de dados de direitos do consumidor, que nossa ONG vem desenvolvendo, tenha crescido tanto em edições e novas histórias na última semana e meia. As pessoas não estão só trocando suas fotos de perfil, estão realmente colocando a mão na massa.”
O aumento no número de participantes envia um recado claro às empresas de tecnologia: os consumidores estão atentos – e não estão satisfeitos.
Nos comentários, os usuários reforçaram a ideia: “Clippy nunca colocaria IA em todos os resultados de busca”; “nunca usaria seus dados para treinar IA”; “nunca leria dados de saúde em um app de ciclo menstrual para vendê-los a anunciantes.”
Mas Rossmann lembra que trocar a foto de perfil é apenas o primeiro passo. “É para mostrar aos outros: ‘eu não concordo com isso, e você não está sozinho se pensa o mesmo’”, disse. “O objetivo é fazer com que quem pensa que ‘não adianta resistir porque ninguém liga’ repense essa postura derrotista.”
Como brincou um usuário com a imagem do personagem no perfil: “parece que você está tentando recuperar sua liberdade. Quer ajuda?”.